O ex-administrador da SAD do FC Porto, Fernando Gomes, afirmou esta segunda-feira, durante a 20.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, que não teve qualquer envolvimento na proposta de revisão estatutária votada na assembleia geral do clube em novembro de 2023, negando participação ou sequer conhecimento aprofundado sobre o documento.

“O tema foi falado vagamente com o anterior presidente da Mesa da AG, mas nunca foi um assunto da administração. Nunca participei em qualquer comissão, nem fui chamado para tal. Fui conhecendo a proposta pela comunicação social, com o alarido que causou”, declarou o ex-vice-presidente da direção de Pinto da Costa e ex-presidente da Câmara do Porto, num testemunho breve solicitado pela defesa de Fernando Madureira.

Durante a sessão, também Miguel Brás da Cunha, reeleito para o Conselho Superior em abril, explicou ter integrado a comissão responsável pela proposta, formada em 2020, logo após a tomada de posse dos órgãos sociais. Referiu ainda que Adelino Caldeira participou apenas na reunião inicial e que a proposta visava modernizar os estatutos “no interesse do clube”, apesar da perceção externa de que serviria para favorecer a direção.

Por sua vez, Jorge Guimarães, antigo presidente do Conselho Fiscal, denunciou a atuação do então presidente da Mesa da AG, Lourenço Pinto, que se opôs à norma que previa que as alterações só produziriam efeitos após eleições. “Foi uma intervenção pouco comedida para alguém na sua posição. A proposta foi alterada contra a nossa vontade”, acusou.

Guimarães relatou ainda momentos de grande tensão durante a AG de 20 de novembro, classificando como “inadmissíveis” três episódios de confronto. Afirmou também que Pinto da Costa e Caldeira expressaram antecipadamente receios quanto à condução dos trabalhos e negou que tivesse recebido qualquer ordem para encerrar a assembleia, apesar das declarações posteriores do histórico presidente azul e branco nesse sentido.

Além destes testemunhos, foram ainda ouvidos o cantor Alberto Índio e Hugo Moreira dos Santos, ex-administrador da SAD, ambos chamados a falar sobre o caráter de Fernando Madureira.

A Operação Pretoriano envolve 12 arguidos, incluindo o ex-líder dos Super Dragões, único em prisão preventiva, acusados de 31 crimes, entre os quais coação agravada, ofensas à integridade física, e atentado à liberdade de informação, com origem nos incidentes registados na polémica AG de 20 de novembro de 2023. O julgamento decorre no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob apertadas medidas de segurança.