O antigo secretário da Mesa da Assembleia Geral (MAG) do FC Porto Fernando Sardoeira Pinto revelou hoje que pediu a Lourenço Pinto, então presidente do órgão, que encerrasse a reunião magna do clube realizada em novembro de 2023.

Na 19.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, a testemunha descreveu os desacatos e clima de tensão presenciados na Assembleia Geral (AG), que, no seu entender, tornavam insustentável a continuidade do ato.

"Eu e o Nuno Cerejeira Namora [vice-presidente da MAG] dissemos a Lourenço Pinto e ao presidente do Conselho Fiscal [Jorge Guimarães] que tínhamos de terminar aquela AG, estava impossível. Foi dito a Lourenço Pinto várias vezes que terminasse e ele insistiu em prosseguir", responsabilizou.

Em consonância com o depoimento de Cerejeira Namora, na quarta-feira, disse que Lourenço Pinto agiu sempre de maneira individual, sem consultar o órgão que dirigia, tendo a decisão de alterar a reunião do auditório do estádio para o pavilhão Dragão Arena sido uma decisão exclusivamente sua.

"Só tive conhecimento de que a AG iria passar para o Dragão Arena quando Lourenço Pinto o disse ao microfone, para minha surpresa e de todos os que estavam comigo", explicou, reconhecendo também os conflitos que se geraram após o discurso de Henrique Ramos, na que considerou a "assembleia mais negra" da história do clube.

Foi também chamado a inquirição Vítor Hugo, histórico jogador e treinador de hóquei em patins pelo FC Porto e candidato à vice-presidência pela lista de Pinto da Costa, que relatou ter sofrido vários insultos de adeptos, que transitavam de bancada em bancada, pelo meio do ringue, sem se manterem devidamente sentados.

"Uma senhora no topo norte entrou em conflito com outro adepto na lateral, que se dirige à bancada onde ela estava. A adepta saiu para uma bancada onde costumam estar os jornalistas e, ao passar por mim, chamou-me de 'mamão'", referiu, entre outras injúrias.

De resto, depôs o genro de Vítor 'Catão', Marco Santos, que assumiu ter visto o seu familiar a coagir a comunicação social, nomeadamente "um carro da SIC", à porta do Estádio do Dragão, mas garantiu que, depois de o acalmar, ele manteve um comportamento correto, "sem insultos ou conflitos" durante toda a reunião.

Revelou ainda que Vítor 'Catão' alegou ter recebido posteriormente ameaças de morte de Bruno Branco, chefe da PSP e apoiante de André Villas-Boas, após o arguido ter feito um vídeo em que o acusava de agredir um associado na AG, enquanto o atual presidente portista prestava declarações à comunicação social.

Vítor Baía, vice-presidente da anterior direção do FC Porto, tinha audição prevista para hoje, mas foi dispensado pela defesa de Fernando Madureira e Sandra Madureira, à semelhança de outras testemunhas ao longo do julgamento, como o treinador Sérgio Conceição.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno da AG do FC Porto, ocorrida em 20 de novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.