O atual presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, é um veterano destas andanças, tendo gerido os destinos do emblema azul e branco nos últimos 42 anos. Numa das fases de maior contestação à sua liderança, o atual presidente promete uma equipa renovada, focada em devolver a sustentabilidade financeira ao clube e com uma aposta clara na "transparência".
O cabeça de lista da lista C, 'Todos Pelo Porto', de 86 anos, divide o programa em cinco pontos fundamentais, que acredita serem essenciais na remodelação do clube. O primeiro passo será devolver o emblema azul e branco aos tempos áureos, desportiva e financeiramente.
1-Transparência e boa governança
Pinto da Costa pretende implementar no clube "um modelo de gestão ético, transparente, verdadeiro e íntegro que respeite as boas práticas e condutas que honram os valores da instituição", com uma visão que tem os sócios como prioridade. Para isso, estão elencadas três medidas consideradas fulcrais para o sucesso desta ideia: a renovação da equipa de gestão, a divulgação regular das demonstrações financeiras e a o recurso a um comité de auditoria independente mais alargado.
As críticas à falta de renovação da direção de modo a acompanhar a evolução dos tempos foi respondida com a intenção de reconstruir a equipa de gestão, promovendo a "entrada de novos elementos com provas dadas no sector privado, em ambientes complexos e competitivos". João Rafael Koehler será o responsável da parte financeira, António Oliveira entra como vice-presidente e Marta Massada é a nova responsável da juventude e formação.
Também a vertente financeira foi sendo escamoteada pela opinião pública e, para evitar a criação de dúvidas em torno da gestão, Pinto da Costa promete a "divulgação regular das demonstrações financeiras, incluindo receitas, despesas, dívidas e investimentos, de forma a melhorar a comunicação com os sócios, adeptos, investidores, parceiros estratégicos e fornecedores". Este foi um ponto que foi sendo usado como arma de arremesso pelos adversários, que criticam as comissões pagas à administração e a má gestão dos valores recebidos pelas transferências milionárias de vários jogadores ao longo dos últimos anos.
Além disso, de modo a assegurar a "transparência na gestão", será constituído um "Comité de Auditoria Independente mais alargado, composto por membros do Conselho Superior e que incluam, igualmente, personalidades das várias listas".
2-Sustentabilidade e Crescimento
A necessidade de incrementar a capacidade financeira do clube a curto prazo torna esta vertente prioritária, sendo que na visão da lista 'Todos Pelo Porto', é essencial "implementar um plano de redução de custos através de aplicação de políticas de melhoria de eficiência", bem como priorizar o crescimento de receitas estruturais. O clube não tem conseguido diminuir significativamente o passivo e isso tem criado problemas de fair-play financeiro e atrasado o clube na capacidade de acompanhar o mercado na contratação de jogadores.
A resolução desta questão passa por três premissas fundamentais que aa médio/longo prazo poderão estabilizar as contas.
A aposta na internacionalização da marca FCP, de modo a "duplicar a receita do clube em três anos, com um aumento anual de 25% dos proveitos" é uma das principais formas de o conseguir. Este objetivo seria possível através da revalorização de direitos TV, da melhor monetização do estádio, casas, comunidades, academia, banca digital e merchandising, bem como da ampliação do número de associados e das receitas de e-commerce.
Além disso seria importante a redução de 20% de custos totais desde o primeiro ano, através da reestruturação das empresas do Grupo e reforço na evolução da maturidade digital. Não haverá lugar a prémio de gestão aos administradores neste mandato.
Por último, mas não menos importante, há necessidade de negociar o refinanciamento do passivo, através de "um instrumento financeiro de dívida de 250 milhões de euros que permitirá reduzir o serviço de dívida e reforçar a competitividade da equipa de futebol". Neste parâmetro Pinto da Costa revelou estar a negociar com bancos estrangeiros um empréstimo a uma taxa mais favorável do que a da dívida atual.
3-Modalidades e futebol feminino
A falta de investimento no futebol feminino sénior e, especialmente, no futsal, tem sido uma das críticas dirigidas a Pinto da Costa, que pretende inverter o paradigma de modo a acompanhar o crescimento dos principais rivais (Benfica e Sporting) nestas vertentes. O plano para mudar está traçado e passa por três eixos centrais:
Durante o próximo mandato o objetivo é "conduzir e concluir os estudos de viabilidade da modalidade, para definir a melhor forma de implementação do futsal, se de forma orgânica ou através da aquisição de um clube. Além disso o surf também é uma modalidade que está sob atenção da lista, uma vez que conta já com mais de um milhão de praticantes em Portugal, sendo que para a sua criação poderá existir a aquisição ou mais dos clubes da região ou o desenvolvimento de uma escola própria através de parcerias.
A criação de uma equipa de futebol feminino sénior capaz de lutar por todas as competições também é vista como uma prioridade, que culminará o trabalho realizado nos escalões de sub-13 e sub-15 já existentes e permitirá ao clube rentabilizar o investimento feito na formação.
Será também importante dar continuidade ao investimento feito nas modalidades já existentes no clube, como Andebol, Basquetebol, Hóquei em Patins, Voleibol, Bilhar, Boxe, Natação e Desporto Adaptado. Estas modalidades terão ainda de ser alvo de uma estratégia plurianual para aumentar a competitividade com os rivais em todas as competições.
4-Experiência e relação com sócios e adeptos
Os novos tempos obrigam a mudar a forma como o clube se relaciona com o adepto e, por isso, a lista de Pinto da Costa pretende melhorar a relação digital entre as duas partes e melhorar a experiência dos adeptos no Estádio do Dragão. Como?
O primeiro passo prende-se com o investimento nas Casas do FC Porto. Estes estabelecimento permitem aos adeptos que vivem mais afastados do Porto ter uma experiência de clube mais completa. Para isso, o objetivo passa por criar modelos com diferentes tipologias "em função da sua geografia, dimensão, equipamentos, membros e condições, tornando claros e transparentes os benefícios, acessos e contributos de cada uma dessas tipologias".
O envolvimento dos sócios também precisa de uma remodelação e para isso a lista A sugere premiar os mais ativos no apoio ao clube, através de ofertas de bilhetes para ver jogos amadoras e atribuir acesso prioritário aos jogos de maior procura.
Por fim, a criação de ferramentas digitais de proximidade como a iniciativa "Follow My Team" e de um banco digital que permita aos sócios não perderem dinheiro quando não conseguem comparecer aos jogos também está a ser pensada. Além disso é importante criar facilidades para outros sócios assistirem a jogos no Dragão, também para conseguir "encher mais facilmente a casa".
5-Relação com os adeptos mais jovens, como pilares do futuro do FC Porto
Após consulta com dezenas de sócios, a lista de Pinto da Costa concluiu que era preciso ajudar os mais jovens na transição para a vida adulta enquanto associado do clube, de modo a prepará-los para, quando for necessário, estarem capacitados para contribuir para as decisões fundamentais.
Uma das formas de o conseguir é através da criação de bilhetes com um tarifário e "condições de fácil acesso para os jovens até 30 anos" que queiram ver jogos no Dragão. Para fomentar este crescimento jovem, propõe-se a oferta de um bilhete para um jogo da equipa principal no Estádio do Dragão, por época, a todos os sócios dos 18 aos 30 anos, com mais de um ano de sócio, oriundos dos concelhos do Porto, Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar e Valongo e três bilhetes para todos os jovens oriundos dos outros concelhos do País.
Além desta medida, está em cima da mesa o desenvolvimento de um Conselho oficioso de jovens entre os 18 e os 30 anos, que se reúnam mensalmente para contribuir com uma visão diferente e sugerir propostas à Direção que achem relevantes para o crescimento do clube.
Para completar esta "revolução tecnológica" haverá também 'livestreams' mensais, onde elementos da Direção responderão a questões colocadas nas redes sociais, para chegar facilmente a toda a gente, num espaço onde as gerações mais jovens e mais velhas poderão coexistir para se informarem da realidade do FC Porto.
Equipa diretiva
Lista de vogais: Alípio Jorge, António Borges, Luís Fernandes, Rita Moreira, Rodrigo Barros e Eurico Pinto
Escolha de treinador
Para Pinto da Costa não restam muitas dúvidas: o atual presidente do FC Porto já fez questão de dizer que o seu treinador é Sérgio Conceição e o técnico também já reiterou a sua lealdade para com o dirigente. Aliás, nestes sete anos já foram várias as ocasiões em que parecia que Sérgio Conceição iria abandonar o comando técnico do clube, mas foi sempre segurado pelo presidente.
Fica apenas a questão se Sérgio Conceição sairá do FC Porto, caso Pinto da Costa não seja reeleito. Recorde as palavras do líder portista sobre o treinador. “Pela minha vontade ficará, mas agora não é tempo de estar a falar disso, nem quero de maneira nenhuma usar o Sérgio Conceição como trunfo eleitoral. É o treinador do FC Porto, teve um gesto que me surpreendeu e sensibilizou ao estar aqui a dar o apoio. Além de interessar como treinador, é meu amigo. Não só enquanto for treinador, é para a vida", disse Pinto da Costa, sobre a presença do treinador num ato de campanha da sua candidatura.
Frases marcantes da campanha
Apesar dos 86 anos, Pinto da Costa mantém a sagacidade que sempre foi uma marca característica da sua presença pública. Neste período eleitoral de campanha já houve muitas frases fortes do ainda presidente do FC Porto, que na sua maioria foram dirigidas a André Villas-Boas. Reveja as mais marcantes.
- "Nunca deixei de fazer nada do que fazia há 40 anos no FC Porto. Mentalmente é natural que esteja um bocadinho tolinho, mas há quem esteja mais. Mas pior que ser tolinho, é ser imbecil"
- "Se for eleito, o meu treinador, o que eu quero, é o Sérgio Conceição"
- "Não sou o presidente dos presidentes, sou o presidente de todos vós, que me elegeram"
- "Conseguimos 68 títulos em futebol, 7 dos quais internacionais, mais do que todos os portugueses juntos, não conseguem chegar nem perto desse número. Por isso, sou candidato"
- "A partir do momento que apareceu a candidatura de Villas-Boas, a arbitragem mudou"
- "Vai chamar pai a outro"
- "O passado, como dizia Newton, é absoluto, e, como dizia Einstein, é relativo, mas o tempo, o tempo do FC Porto, não é passado, nem é relativo, é eterno"
- "O André Villas-Boas não está nesse número dos inimigos, mas poderá estar a ser levado numa orientação errada por eles"
- "A data está marcada por Deus, é quando eu morrer"
Estas são as linhas-metre pelas quais Pinto da Costa se pretende guiar. O veterano dirigente quer aplicar toda a sua experiência para um "último mandato", embora tenha percebido a necessidade de adicionar juventude e irreverência a uma equipa diretiva que foi sempre marcada pela experiência.
O "presidente de todos os presidentes" quer manter os pressupostos que o tornaram um dos líderes mais titulados do Mundo, mas ciente dos novos tempos e da importância das apostas no digital e em renovar a lista de modalidades que o FC Porto tem para oferecer.
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