O treinador José Mourinho “estava à frente” dos seus pares quando venceu pelo FC Porto a Taça UEFA, em 2002/03, e a Liga dos Campeões, em 2003/04, assume o ex-futebolista António André, que o coadjuvou nessas duas temporadas.

“Ele era o melhor do mundo. Revolucionou treinos, jogos e a mentalidade dos jogadores. Quando estávamos na pré-época, dizia aos restantes adjuntos que não havia hipótese e que iríamos ganhar tudo em Portugal. Nas competições europeias, logo se via. O José Mourinho foi influenciado por grandes treinadores e chegou ao FC Porto com aquela mentalidade de mudar tudo para que o clube voltasse a ganhar e os jogadores fossem mais capazes de serem ainda melhores”, reconheceu à agência Lusa o ex-médio internacional português, de 65 anos.

Entre janeiro de 2001 e junho de 2004, José Mourinho conduziu o FC Porto a um inédito triunfo na segunda competição continental de clubes (3-2 ao Celtic, após prolongamento, em Sevilha), seguido do segundo cetro de campeão europeu (3-0 diante do Mónaco, em Gelsenkirchen), 17 anos após os três primeiros êxitos internacionais da história do clube.

“Nessa altura, por aquilo que fazíamos nos jogos, nos treinos e ao longo do campeonato, sabíamos que não haveríamos de ter problemas de maior para conquistar a Taça UEFA. Fomos convictos disso mesmo e, quando íamos disputar as finais, era para ganhar, visto que tínhamos um grupo forte e muito bom e um técnico fora do normal”, insistiu António André, que, como jogador, havia sido preponderante no ‘ano dourado’ de 1987, marcado pelos feitos dos 'dragões' na Taça dos Campeões, na Taça Intercontinental e na Supertaça Europeia.

Vencedor de mais sete campeonatos, três taças de Portugal e seis supertaças Cândido de Oliveira ao serviço do FC Porto durante 11 épocas (1984 a 1995), o ex-médio manteve-se ligado ao clube no cargo de treinador-adjunto e viria a conhecer José Mourinho, cujo percurso nos bancos já contemplava passagens efémeras por Benfica e União de Leiria.

“Ele analisava os jogos de uma tal maneira e sabia do que precisava. Era preciso vir gente para servir e não para acumular. Foram épocas extraordinárias. Para mim, Deco e Costinha foram os pêndulos do êxito do FC Porto. Deco era o orientador do meio-campo para a frente e o Costinha daí para trás. Os dois seguraram aquela estrutura”, observou.

Além desses êxitos seguidos na Taça UEFA e na Liga dos Campeões, o sucesso interno logrado em duas edições da I Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça pela mão do setubalense incutiu no plantel uma perspetiva de competir sem recear qualquer opositor.

“Deu mais tranquilidade e mais acreditar. Se nós vencemos a Taça UEFA, por que é que não seríamos campeões europeus? Desde que começámos a eliminar os adversários e chegámos aos quartos de final, a maior parte dos jogadores sentiu que era possível. Eu também fui campeão europeu [face ao Bayern Munique] e ganhei a Supertaça Europeia ao Ajax, que tinha metade da sua equipa na seleção principal dos Países Baixos. Nessa fase do José Mourinho, eles estavam capacitados e, se calhar, nem pensavam muito na final, pois iam jogar para ganhar. Quando se ganha, a mentalidade é diferente”, contou.

Com 20 jogos e um golo pela seleção principal de Portugal, que representou no Mundial de 1986, André comprovou poucas diferenças entre as duas épocas que incluíram o FC Porto no restrito lote de 11 vencedores das duas principais provas europeias de clubes.

“Eles treinavam a rir-se e a cantar. Mostravam-se todos bem-dispostos e havia harmonia. Agora, quando era a doer, calavam-se no balneário e não se ouvia um ‘ai’ ou alguém a respirar. Estavam tão focados no jogo, pois a vontade de ganhar era enorme”, recordou.

Após a conquista da Liga dos Campeões de 2003/04, os ‘dragões’ voltariam a ganhar uma prova internacional apenas em 2010/11, quando bateram o Sporting de Braga (1-0), em Dublin, numa final totalmente portuguesa da Liga Europa, que substituiu a Taça UEFA, sendo ainda o último emblema de fora dos cinco principais campeonatos do ‘velho continente’ a ter festejado o triunfo na 'Champions'.

“São orgasmos interiores. Estas coisas ganham-se no próprio momento e são difíceis de se explicar, mas, quando chegamos ao balneário, começamos a mentalizar-nos de que somos campeões europeus. Agora, se estivermos a ganhar durante o jogo, só queremos olhar para o placar e ver quanto tempo falta para o final”, terminou António André, que deixou o cargo de treinador-adjunto na sequência da saída de José Mourinho para os ingleses do Chelsea, em 2004, e ainda trabalhou como observador no FC Porto.