No Vira Minhoto tocado no Algarve, o Benfica não teve pernas para acompanhar o Moreirense e ficou arredado da final da ´sua` Taça. Os ´encarnados` foram batidos por 3-1 nas meias-finais da Taça da Liga, numa prova onde não perdiam há 42 jogos. Na final teremos um dérbi minhoto entre SC Braga e Moreirense. Uma coisa é certa, no final desta dança, a Taça da Liga irá para o Minho.

O jogo: Moreirense teve... 15 minutos à Benfica e resolveu o jogo

Neste Vira minhoto, dançado sempre aos pares, o Benfica começou por brilhar no salão do Algarve, perante 8935 espectadores. Ederson era um mero espetador nesta dança: Nas laterais, Eliseu fazia par com Carrillo e André Almeida com Salvio. No meio, Jardel com Lindeloff na defesa, Samaris com Pizzi a médio e Rafa com Jonas na frente. Tudo aos pares, num onze também de poupanças (Nelson Semedo, Cervi e Zivkovic no banco). Os pares do Moreirense eram diferentes e a escolha de ´dançarinos` por parte de Inácio não estava a comportar-te da melhor forma já que no primeiro tempo era o Benfica quem dominava.

Na primeira parte desta ´dança` o Benfica ia avançado e o Moreirense recuando, como mandam as regras do Vira Minhoto. Sincronia perfeita e aceitável, a mostrar a força de um ´grande` perante um ´pequeno`. Numa das primeiras incursões, Salvio desfez o par com André Almeida e fez parelha com Eliseu. O internacional português centrou e o argentino apareceu a empurrar. Simplicidades de processos, como é apanágio desta dança típica do Minho.

A situação arrastou-se até ao intervalo, altura em que um dos dançadores (neste caso, o árbitro) apitou: ´tudo para o intervalo`. E aí jogo deu meia volta, tal como no Vira e deixou o Moreirense cara a cara com o Benfica, gigante, num mano-a-mano contra o poder do tricampeão da Taça da Liga e Liga e líder da prova maior do futebol português. Aí os de Moreira de Cônegos, sob o comando do Mestre Inácio, aplicaram ao adversário um pouco do seu próprio veneno. O Moreirense teve... 15 minutos à Benfica e tomou de assalto a baliza de Ederson, perante uma ´águia` atordoada sem saber o que fazer. Dramé empatou logo na primeira virada, aos 46, Boateng bisou aos 54 e 72 e deixou todos de boca aberta. Tal como Inácio tinha prometido.

O Benfica tentou responder mas já noutro tom, noutra música, noutro ritmo, apostando tudo no ataque, numa equipa que acabou com Jonas, Jiménez, Rafa, Salvio e Zivkovic na frente. Quando a força do Benfica conseguia furar a barreira do Moreirense, lá estava o poste para travar as intenções dos de Rui Vitória, como aconteceu em duas ocasiões. Quando não era o poste, era o guarda-redes Makaridze.

O Vira também se dançou no banco e aí convém dizer que Inácio soube conduzir melhor o seu grupo. As entradas de Boateng e Fernando Alexandre mudaram o jogo, com o ganês a bisar e o experiente médio a dar consistência no meio. Na frente brilhou também Podence e Francisco Geraldes, jogadores emprestados pelo Sporting e que estão prestes a voltar a Alvalade. O Benfica sai da ´sua` Taça e perde na prova, nove anos depois. Braga é o adversário do Moreirense na final, marcado para este domingo.

Momento-chave: Dramé empurrou Moreirense para a história

A primeira parte do Moreirense não tinha sido boa. Augusto Inácio estava descontente e operou duas substituições ao intervalo que tiveram resultado no primeiro lance do segundo tempo. Geraldes lançou Dramé, este correu por entre os centrais, contornou Ederson e rematou para a baliza. O empate estava feito e os de Moreira de Cônegos voltaram a acreditar que podiam fazer algo mais. E fizeram.

Os melhores: Boateng, Francisco Geraldes e leitura de Inácio

Boateng: Uma autêntica seta apontada à baliza de Ederson. Fez dois golos mas, com mais calma, teria marcado mais. A defesa do Benfica deu-se mal com a velocidade do ganês, melhor marcador do Moreirense esta época.

Francisco Geraldes: Prepara-se para voltar ao Sporting, depois de meia época excelente no Moreirense. Frente ao Benfica, conduziu a maior parte dos ataques da equipa. Foram dos seus pés os passes para os lances mais perigosos no ataque dos minhotos. Fez duas assistências para golo.

Inácio: Fez uma excelente leitura do jogo ao intervalo, colocando Fernando Alexandre para dar mais consistência no meio e lançando Dramé para o lado de Eliseu, cansado e sem ritmo. A colocação de Boateng na zona central foi crucial. Geraldes passou a jogar a frente dos dois médios de recuperação e o Moreirense passou a dominar o meio-campo.

Os piores: Opções de Rui Vitória, Defesa do Benfica e Carrillo

Rui Vitória: Percebe-se que tenha tentado dar mais minutos a alguns jogadores como Eliseu e Carrillo, deixando a descansar Cervi, Nelson Semedo ou mesmo Zivkovic. As apostas não surtiram efeito. Não conseguiu estancar os contra-ataques do Moreirense no segundo tempo. Expôs a equipa ao risco total com uma defesa só com três elementos.

Defesa do Benfica: Oito golos sofridos em três jogos dão que pensar. Já tinha sofrido três contra o Boavista, dois contra o Leixões e agora três com o Moreirense. Os homens da retaguarda cometeram muitos erros individuais e, coletivamente, não conseguiram encontrar formas de parar os velozes avançados contrários. Com mais paciência e melhores decisões, o Moreirense podia ter feito um resultado (ainda mais) histórico.

Carrillo: Vai tendo oportunidades de vez em quando mas continua a não convencer. Foi substituído e foi apanhado a rir-se quando o Moreirense fez o 3-1. Às vezes parece não estar na mesma onda dos restantes colegas. Tem de mostrar e muito se quiser mais minutos de jogo. Rafa, Cervi, Salvio e Zivkovic estão à sua frente. E só podem jogar dois.

Reações:

Rui Vitoria: "A bola não queria entrar mas parabéns ao Moreirense"

Salvio: "Não é por uma derrota que vamos mudar tudo"

Augusto Inácio: "Críticas do Benfica à arbitragem? Não vale tudo"

Inácio: "Tremendo orgulho pela forma como os jogadores se bateram"

Cauê: "Há que dar tudo em campo para sair com o título"

Curiosidades: Moreirense consegue o impensável

Moreirense faz história: 1ª presença numa final de uma competição. Conseguiu-o ao vencer o Benfica pela primeira vez em 20 jogos entre estas duas formações.

Esta foi a 2.ª vez que o Moreirense marcou três golos a um dos chamados ´três grandes`, mas a 1.ª que o faz em 90 minutos. Com este triunfo, a equipa de Moreira de Cônegos já conseguiu vencer os chamados ´três grandes` do futebol português.

O Benfica termina com uma série de 42 jogos sem perder na Taça da Liga. Até hoje, só tinha perdido uma vez na prova: 2-1 contra o V. Setúbal, em 2008.

Em provas nacionais, os ´encarnados` não perdiam por mais do que um golo de diferença desde outubro 2015 (derrota 3-0 com o Sporting. Excluindo os jogos com FC Porto e Sporting, o Benfica não perdia por dois golos de diferença em provas nacionais desde 2009 (contra o SC Braga).

Nos quatro últimos jogos, o Benfica sofreu oito golos. Foi também a 3.ª vez esta época que a equipa sofreu três golos na 2.ª parte: Nápoles, Besiktas e Moreirense.

Pela 1.ª vez uma final de uma competição nacional terá duas equipas do distrito de Braga. Esta é também a 1.ª vez que a final da Taça da Liga não terá na final pelo menos um dos chamados ´três grandes` do futebol português.