Assinalam-se este sábado 20 anos do maior ataque terrorista de sempre. No dia 11 de setembro de 2001, os EUA e o mundo assistiram em direto pelas televisões à destruição das Torres Gémeas do World Trade Center em Nova Iorque, num ataque que também atingiu o Pentágono, perto de Washington.

Estes ataques, os mais mortais da história com quase 3.000 mortos, foram levados a cabo por 19 operacionais da Al-Qaida, que sequestraram e pilotaram quatro aviões que descolaram dos aeroportos da Costa Leste - Boston, Washington e Newark - com destino à Califórnia.

Jaime Pacheco era o 'mestre da tática', o Boavistão um gigante difícil de derrubar

20 anos após o ataque terrorista que mudou o mundo, recordamos como era o futebol nessa altura. Em Portugal, mandava o Boavistão de Jaime Pacheco, acabado de se sagrar campeão nacional pela primeira vez.

No dia do ataque às Torres Gémeas, o Boavista empatou 1-1 em Anfield Road com o Liverpool, na primeira fase de grupos da Champions. O clube axadrezado, comandado por Jaime Pacheco, tinha conseguido o inédito título de campeão de Portugal nesse ano e na Europa todos já sabiam quem era a equipa das camisolas esquisitas. Com o mundo ainda a digerir o que se tinha passado nos EUA, pouco mais de 30 mil adeptos foram até Anfield Road assistir ao empate frente ao campeão de Portugal.

Champions 2001/02: Manchester United-Boavista - Petit com Paul Scholes
Champions 2001/02: Manchester United-Boavista - Petit com Paul Scholes Champions 2001/02: Manchester United-Boavista - Petit com Paul Scholes créditos: ADRIAN DENNIS / AFP

O 'pistoleiro' Elpídio Silva abriu o ativo aos três minutos para o Boavista, mas o Reds empataram aos 29 por Michael Owen. Na equipa inglesa, treinada pelo francês Gerard Oulier, havia Steven Gerrard, Emile Heskey, Sami Hyypia, Jari Litmanen, John Arne Riise e Danny Murphy. Os lusos respondiam com Ricardo, Pedro Emanuel, Petit, Goulart, Sanchez, Duda e Elpídio Silva.

No dia seguinte, o FC Porto recebia a Juventus no Grupo A, mas o jogo acabaria por adiado para 10 de outubro, por questões de segurança. Ninguém estava seguro em lado nenhum.

Nesse ano, o Boavista passou a primeira fase de grupos, com oito pontos, os mesmos do Borussia Dortmund, eliminado, e menos quatro que o Liverpool. Dinamo Kiev ficou em último com quatro. Na segunda fase de grupos, os axadrezados terminaram no terceiro posto, com cinco pontos, menos sete que Manchester United e Liverpool, ambos com 12, e mais três que o Nantes, que era campeão de França. O Real Madrid seria campeão europeu com um golaço de Zidane, marcado ao Bayer Leverkusen (2-1).

Aquando dos ataques de 11 de setembro (uma terça-feira), a Primeira Liga era liderada pelo Boavista, campeão em título, ao cabo de quatro jornadas. No fim de semana antes dos atentados, o Sporting, com Quaresma no banco, empatara no terreno da União de Leiria de... José Mourinho, mas viria a sagrar-se campeão nacional no final da época, com a dupla formada por Jardel (42 golos) e João Vieira Pinto a fazerem estragos. O treinador era Laszlo Bölöni, ele que até esteve tremido no início da época.

No final do ano, Salgueiros, Farense e Alverca desceram de divisão, numa I Liga que tinha ainda Beira-Mar, União de Leiria e Varzim.

Inglaterra: United entrou campeão, Arsenal 'roubou-lhe' a coroa

Em Inglaterra, o Arsenal de David Seaman, Patrick Vieira, Robert Pires e Henry seria o campeão da época 2001/02, à frente do Liverpool. Ipswich Town, Derby County e Leicester City desceriam de divisão. Thierry Henry do Arsenal (24 golos), Ruud van Nistelrooy do Manchester United, (23) e Jimmy Hasselbaink do Chelsea (23) eram os homens dos golos.

Mas no dia dos atentados, a Premier League era liderada pelo Bolton, seguido de Manchester United e Arsenal. Derby County, Ipswich Town, Blackburn Rovers e Charlton Athletic disputavam a prova.

Na altura do ataque, o campeão em título era o Manchester United,

Itália: Roma não conseguiu defender o título por um ponto

Em Itália a Juventus sagrar-se-ia campeã em 2001/02 com 71 pontos, um a mais que a AS Roma. A equipa de Marcelo Lippi tinha Buffon, Thuram, Antonio Conte, Nedved, Edgar Davids, Trezeguet e Del Piero nas suas fileiras.

Hellas Verona, Lecce, Fiorentina e Venezia desceriam de divisão, Brescia, Perugia e Piacenza estavam na elite. Curiosamente, Dario Hubner, do Piacenza, seria o melhor marcador, com 24 golos, os mesmos de Trezeguet, e mais dois que Vieiri (Inter).

Mas a 11 de setembro de 2001, o campeão em título era a Roma, de Fabio Capello, com craques como Cafú, Aldair, Walter Samuel, Nakata, Zanetti, Totti, Batistuta e Montella.

Espanha: Corunha e Valência metiam medo, e o Maiorca fazia estragos

Em Espanha, seria o ano do Valência, de Rafa Benitez, campeão no final de 2001/02, à frente do Deportivo da Corunha e do Real Madrid, numa época que Diego Tristán (Deportivo Corunha) era o terror dos guarda-redes.

No emblema Che pontificavam nomes como Santiago Cañizares, Roberto Ayala, Pablo Aimar, Rufete, Albelga, Kily Gonzalez, Angulo, Vicente, e Mista.

O Corunha tinha os portugueses Nuno Espírito Santo (guarda-redes) e Hélder Cristóvão (central), o marroquino Naybet (ex-Sporting), Emerson (ex-FC Porto), Aldo Duscher, Rooy Makay, Valeron, Walter Pandiani e Diego Tristan.

No final de 2001/02, Las Palmas, Tenerife e Saragoça cairiam para a Segunda.

Mas em setembro de 2001, o Real Madrid carregava as insígnias de campeão, após ter terminado à frente do Corunha e do Maiorca de... Eto'o, Guiza, Luque, De La Fuente e Finidi.

O Sevilha tinha vencido a Segunda Liga, logo seria promovido para a La Liga em 2001/02. O Atlético Madrid tinha terminado em 4.º, pelo que teria de permanecer mais um ano na segunda divisão do futebol espanhol.

França: Pauleta voava, Nantes e Lyon mandavam, PSG era do meio da tabela

Em França havia um 'Principe' português a fazer história. O Lyon, de Juninho Pernambucano, Sonny Anderson e Sidney Govou seria campeão no final de 2001/02, mas Pauleta o rei dos golos. O avançado do Bordéus terminou com 22 golos, os mesmos de Djibril Cissé, do Auxere.

Pedro Pauleta celebra golo pelo Bordéus
Pedro Pauleta celebra golo pelo Bordéus Pedro Pauleta celebra golo pelo Bordéus créditos: PATRICK BERNARD / AFP

Nesse ano, Metz e Lorient desceram de divisão, e na Ligue 1 havia equipas como Bastia, Sedan e Sochaux. O PSG, dos portugueses Hugo Leal e Agostinho, e dos craques Ronaldinho Gaúcho, Anelka e Okocha, terminou no 4.º posto, atrás de Auxere, Lens e Lyon. Na altura ainda não havia petrodólares.

Em setembro, a época estava a começar e o Nantes era o alvo a abater, depois de ter sido campeão em 2000/01, à frente de Lyon, Lille e Bordéus. O PSG era equipa do meio da tabela (acabou em 9.º).

Alemanha: duelos entre Bayern e Dortmund, com Leverkusen pelo meio

Na Bundesliga o Mundo era amarelo, com a vitória do Borussia Dortmund no campeonato de 2001/01 com um ponto a mais que o Bayer Leverkusen. O Bayern Munique seria terceiro, a dois pontos do Dortmund, num ano em que entrava como campeão, após o título de 2000/01.

Na equipa amarela brilhavam craques como Amoroso, Lars Ricken, o gigante checo Jan Koller, Tomas Rosicky e o jovem Christoph Metzelder.

Friburgo, Colónia e St. Pauli caíram para a Segunda Divisão, numa época em que a prova contava com equipas como Kaiserslautern, Energie Cottbus e Hansa Rostock, Nuremberga.

Era a Bundesliga dos brasileiros, numa época em que Amoroso do Dortmund foi o rei dos golos, com 18 e Giovani Elber do Bayern Munique acabou com 17, em 2001/02.

Brasil tinha 28 equipas no  campeonato

No Brasil, o campeonato era disputado por... 28 equipas. Havia uma fase regular e depois os oito primeiros discutiam o título. Em 2001, o Athletico Paranaense foi campeão, ao bater o São Caetano por 5-2 (4-2 em casa 1-0 fora)

Europa: Os galáticos faziam estragos, Figo era o 'rei' do Mundo

O Real Madrid, com os seus galáticos, coroou-se 'rei da Europa' em 2001/02, ao vencer a Liga dos Campeões, numa final em que derrotou o Bayer Leverkusen por 2-1, com um fantástico golo de vólei de Zidane. Os merengues tinham eliminado o rival Barcelona por 3-1 (2-0 e 1-1), os farmacêuticos afastaram o Manchester United (2-2 fora e 1-1 em casa).

Figo com o prémio de Melhor do Mundo da FIFA em 2001
Figo com o prémio de Melhor do Mundo da FIFA em 2001 Figo com o prémio de Melhor do Mundo da FIFA em 2001 créditos: FIFA.com

Na equipa de Madrid havia o jovem Iker Casillas e craques como Roberto Carlos, Steve MacManaman, Zidane, Guti, Makelele (o que equilibrava a equipa), Raul, Morientes e Solari.

Na altura dos atentados, a 11 de setembro de 2001, o Bayer Munique era o campeão Europeu, após vencer o sensacional Valência por 5-4 nas grandes penalidades.

Nessa época de 2001/02, FC Porto e Boavista, os representantes lusos na Champions, passaram a primeira fase de grupos mas caíram na segunda. Os axadrezados até fizeram melhor figura que os portistas: 3.ºs, à frente de Nantes e atrás de Manchester United e Bayern Munique. O FC Porto acabou em último com quatro pontos, atrás do Sparta Praga, Panathinaikos e Real Madrid.

Otávio Machado era o treinador do FC Porto e, quase no final da época, seria substituído pelo jovem José Mourinho, que, na época anterior, tinha levado a União de Leiria ao 5.º posto, à frente do... Benfica.

E qualidade não faltava nos Dragões. Havia nomes como Deco, Vítor Baía, Jorge Costa, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Capucho, Costinha, Alenichev, Benny McCarthy e Hélder Postiga.

Não havia Cristiano Ronaldo, mas havia Luís Figo. O extremo era o nome forte do futebol português e em 2001 venceu mesmo a Bola de Ouro da FIFA, um ano depois de ter sido segundo (ficou atrás de Zidane em 2000).