O triunfo do FC Porto na edição 2002/03 da Taça UEFA ajudou a reerguer o futebol português na viragem do milénio, reconhece o ex-avançado Derlei, melhor marcador da prova, a par de Henrik Larsson, do finalista derrotado Celtic.

“Foi de extrema importância, porque uma equipa portuguesa voltou a disputar uma final europeia muitos anos depois e, melhor ainda, conquistou o título da forma como foi. Além do FC Porto, o próprio Boavista também chegou às meias-finais e ficou muito próximo de estar na decisão. O futebol português estava a voltar ao patamar do qual nunca devia ter saído, que é proporcionar grandes conquistas”, admitiu à agência Lusa o antigo dianteiro brasileiro, de 48 anos, que marcou 11 golos durante esse percurso triunfal dos ‘dragões’.

Em 21 de maio de 2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, a equipa então treinada por José Mourinho consumou o primeiro êxito português de sempre na segunda prova europeia de clubes, ao vencer os escoceses do Celtic (3-2, após prolongamento).

“Um clube como o FC Porto entra em todas as competições para vencer, mas não é fácil chegar a uma final europeia, muito menos conquistar o título. Quando aquele plantel foi montado, o nosso principal objetivo era reconquistar o campeonato nacional. Consegui-lo de uma forma bastante consistente e ainda com algumas jornadas de antecedência deu tranquilidade à equipa para que se preparasse para essa final da Taça UEFA”, recordou.

Dois golos de Derlei (45+1 e 115 minutos) e outro do russo Dmitri Alenitchev (54), contra um ‘bis’ do sueco Larsson (47 e 57), deram o quarto título internacional ao FC Porto, que, em 2002/03, quebrou um ‘jejum’ de quatro anos na I Liga, com mais 11 pontos do que o ‘vice’ Benfica, e derrotou a União de Leiria (1-0) na final da Taça de Portugal, no Jamor.

“O grupo que transitou da época anterior tinha jogadores bastante experientes. Paulinho Santos, Jorge Costa, Vítor Baía, o próprio Deco ou Costinha já estavam naquela casa há alguns anos e receberam muito bem um lote de 11/12 atletas que tinham sido adquiridos nessa temporada. Aos poucos, fomos resgatando a mística e permitindo que a equipa se solidificasse dentro e fora de campo. Há amizades que ainda perduram até hoje”, traçou.

No banco surgia José Mourinho, então com 40 anos, que estava a encarar a sua terceira experiência como treinador principal, na sequência das efémeras passagens por Benfica (2000) e União de Leiria, clube do qual saiu para rumar ao FC Porto em janeiro de 2002.

“O ‘mister’ tinha uma grande confiança no seu trabalho, era muito detalhista e conseguiu aos poucos passar o seu conhecimento aos jogadores, que se adaptaram à sua maneira de trabalhar. Quando os atletas confiam cegamente nas capacidades de um treinador e naquilo que ele procura transmitir, a equipa consegue, em pouco tempo, patentear essa metodologia nos jogos. Ele era a peça principal e o cérebro daquela equipa”, descreveu.

Impulsionado na década anterior como adjunto do já falecido inglês Bobby Robson, no Sporting, no FC Porto e no FC Barcelona, e do neerlandês Louis van Gaal, também nos catalães, Mourinho viria a fortalecer essa influência a solo nos bancos com o êxito na final da Liga dos Campeões (3-0 ao Mónaco, em Gelsenkirchen), em 2003/04, com o ‘ninja’ a titular.

“Quando os jogos são mais emocionantes e apertados, o adepto pensa que houve uma dificuldade menor, mas a final da ‘Champions’ foi difícil e bem disputada. O Mónaco teve primeiro do que nós uma oportunidade flagrante, mas fizemos os golos necessários para sermos campeões da Europa. Estar sempre à frente do marcador obrigou o adversário a desdobrar-se e a correr mais”, observou o autor da assistência para o 3-0 de Alenitchev.

Derlei reencontrava ‘Mou’ nas Antas poucos meses depois de ambos se terem conhecido na União de Leiria, em 2001/02, quando o dianteiro contribuiu com 21 golos em 33 jogos para o sétimo lugar do clube leiriense na I Liga, que disputou a Taça Intertoto na época seguinte.

“Havia melhores condições no FC Porto, mas a forma como ele apresentava o trabalho e falava com os atletas era a mesma, tanto que sabia aquilo que o levaria a este patamar e ao sucesso. Quando o José Mourinho saiu a meio de 2001/02 [à 19.ª ronda], a União de Leiria estava entre os quatro melhores colocados do campeonato. Se tivesse continuado, com certeza teria feito a melhor época de sempre do clube a nível de pontuação”, frisou.

Melhor marcador dos ‘dragões’ em 2002/03, com 20 golos em 42 jogos, o ‘ninja’ ganhou ainda a Taça Intercontinental (8-7 no desempate por grandes penalidades com o Once Caldas, após 0-0 no final do prolongamento), em dezembro de 2004, quando o setubalense já treinava o Chelsea.

“Mesmo quando eu jogava no ataque, trabalhava muito com funções de médio. Esses 20 golos pelo FC Porto, sobretudo nas competições europeias, têm um peso muito grande, mas também são muitos tentos para um jogador de uma equipa como a União de Leiria, cuja primeira aspiração era sempre a manutenção”, concluiu Derlei, que ainda chegou a representar os rivais Benfica (2007) e Sporting (2007 a 2009) na fase final da sua carreira.