Rui Pinto rejeitou hoje em tribunal ter sido o responsável pelos primeiros acessos ao sistema informático da Doyen, atribuindo esse papel a um “amigo” da plataforma eletrónica Football Leaks e assumindo que apenas “tinha conhecimento” da situação.
Na segunda sessão consecutiva do julgamento no Juízo Central Criminal de Lisboa em que o principal arguido do processo está a prestar declarações, o criador do site revelou que o interesse no fundo de investimento então liderado por Nélio Lucas começou a materializar-se com uma viagem a Londres de “um dos amigos do Football Leaks”.
“Ficou combinado que tentaria aceder à rede wifi das instalações da Doyen Capital. No último dia passou a noite num hotel perto das instalações, comprou um equipamento específico para captação de redes wifi a longa distância, mas houve um problema: Londres é uma cidade extremamente populosa e aquela é uma das zonas mais movimentadas. Era praticamente impossível ter uma conexão estável, mas conseguiu estabelecer acesso”, recordou.
Rui Pinto disse que o amigo conseguiu detetar as credenciais de acesso para convidados na rede informática da Doyen e que mais tarde foi possível descobrir outras senhas, permitindo “exponenciar o acesso” ao sistema. “Estava em contacto com ele. Tentei aceder a partir da Hungria, mas não fui bem-sucedido”, notou, rejeitando logo de seguida a responsabilidade pelo acesso ao computador de Adam Gomes, antigo diretor informático da Doyen Sports Investment.
“Ele já estava no computador de Adam Gomes. Isto não foi feito por mim. Eu não era informado ao pormenor, era só quando ele encontrava algum entrave ou descobria alguma coisa interessante. A única coisa que fiz foi a criação do endereço doyen@inbox.ru. Todas as mensagens de correio eletrónico eram encaminhadas para esse email”, afirmou, assinalando que “não existiu qualquer exfiltração”, mas sim o reencaminhamento automático de emails após 20 de setembro.
Por outro lado, Rui Pinto avançou que os documentos relativos à Doyen Sports Investment Ltd e Vela Investment Ltd tiveram três origens diferentes - duas em Espanha e uma em Malta -, mas evitou falar sobre a forma como foi obtida essa informação, face a uma certidão extraída sobre esta matéria e perante o conselho do advogado Francisco Teixeira da Mota.
Questionado pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, sobre o suposto interesse na Doyen Capital e nas origens do dinheiro e a posterior publicação de documentos de natureza desportiva da Doyen Sports Investment, o arguido justificou-se: “Não se pode exigir a um grupo de miúdos que em 15 dias ou um mês consiga analisar informação bastante complexa”.
Rui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
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