Tudo começou quando Portugal levou uma ‘nega’ espanhola.
Na fase de candidaturas à organização do campeonato europeu de futebol de 2004 duas candidaturas surgiram de início: a da Hungria-Áustria (candidatura conjunta) e a de Espanha.
A Federação Portuguesa de Futebol, na altura presidida por Gilberto Madaíl, encetou contactos com a Federação Espanhola para uma possível organização conjunta do Euro, em solo ibérico, mas os espanhóis disseram que não precisavam de Portugal para nada e seguiram o seu caminho.
O que parecia uma oportunidade perdida, revelou-se o momento fulcral no futuro do futebol português.
Mas eis que entra em cena o Governo, na altura liderado por António Guterres, que oferece total apoio a uma candidatura portuguesa para o Euro2004.
A partir daí, a FPF começou a realizar o seu trabalho de casa, com a preparação do 'dossier' de candidatura que seria entregue à UEFA para formalizar a candidatura.
Com o 'dossier' pronto e entregue à UEFA, estavam lançados os dados.
Os membros do comité organizador, do qual faziam parte, além do presidente da FPF, José Sócrates (na altura Ministro-adjunto do Primeiro-ministro), Carlos Cruz, entre outros, iniciaram uma operação de ‘charme’ que se espalhou por toda a Europa.
Muitos quilómetros, muitos encontros (que chegaram a envolver embaixadores portugueses) e até um recorde do mundo.
Tudo isto para convencer as federações do resto da Europa a apoiar uma candidatura que era vista com desconfiança, nomeadamente no norte do 'Velho Continente', como revelou Gilberto Madaíl em entrevista à agência Lusa em 2014.
"De início, a nossa candidatura foi aceite com uma certa reserva, externamente, mas também internamente – houve muita gente que disse que isto era fogo-de-artifício, que nós nunca conseguiríamos (…) Houve muitas coisas complicadas, especialmente a desconfiança por parte (...) dos países que fazem parte da UEFA, especialmente dos nórdicos, que não tinham grande confiança nos países do sul da Europa, latinos. Ainda por cima, a nossa dimensão não era apelativa para a realização de um Campeonato da Europa", revelou.
Essa desconfiança, contudo, transformou-se em votos para a candidatura portuguesa.
A 12 de outubro de 1999, em Aachen, na Alemanha, a comissão executiva votou. Os resultados foram anunciados por Lennart Johansson, na altura presidente da UEFA: "O Comité Executivo decidiu aceitar a recomendação da Comissão de Organização e por isso aceita a candidatura portuguesa para organizar o Campeonato Europeu de 2004."
Com estas palavras, Johansson deu início à festa do comité organizador português, que tinha então ganho o direito a organizar um grande evento internacional, depois da Expo 98, com dez votos favoráveis, contra quatro para os espanhóis e dois para a candidatura austro-húngara.
Iniciou-se então um processo de demolições, construções e renovações de estádios: foram 10 os estádios que receberam jogos da competição, com o novo Estádio do Dragão a acolher a estreia da 'Roteiro', a bola oficial da prova, no jogo inaugural Portugal-Grécia, que a seleção portuguesa perdeu por 1-2. Seria a única derrota dos portugueses na prova até ao dia 4 de julho de 2004…
Na final, no novo Estádio da Luz, os anfitriões acabaram derrotados novamente e novamente com os gregos. A taça acabou em Atenas e Portugal ganhou um trauma.
O golo de Charisteas provocou pesadelos aos portugueses durante anos… Mas eis que em 2016 aconteceu Éder e os fantasmas do passado evaporaram-se, com Cristiano Ronaldo a levantar (finalmente) o primeiro título europeu da seleção das ‘quinas’, em Paris.
Comentários