
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Pedro Proença, procura ser eleito para o Comité Executivo da UEFA na quinta-feira, após indicação do antecessor Fernando Gomes, numa altura em que ambos estão em rutura.
No 49.º Congresso ordinário do regulador europeu da modalidade, em Belgrado, capital da Sérvia, o antigo líder da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) será um dos 11 candidatos aos sete assentos de membros masculinos para os mandatos de quatro anos.
Pedro Proença, de 54 anos, concorre com o italiano Gabriele Gravina e o alemão Hans-Joachim Watzke, os únicos recandidatos, o suíço Dominique Blanc, o polaco Cezary Kulesza, o croata Marijan Kustić, o finlandês Ari Lahti, o arménio Armen Melikbekyan, o neerlandês Frank Paauw, o estónio Aivar Pohlak e o liechtensteiniense Hugo Quaderer.
A única quota feminina é perseguida apenas pela norueguesa Lise Klaveness, havendo também cinco candidatos aos dois cargos de dois anos no Comité Executivo da UEFA, mais cinco vagas europeias em disputa no Conselho da FIFA para o próximo quadriénio.
O Congresso começa às 09:30 locais (08:30 em Lisboa) e pode tornar Pedro Proença no quinto português a chegar ao órgão presidido desde 2016 pelo esloveno Aleksander Ceferin, após outros antigos presidentes da FPF: Francisco Cazal Ribeiro (1968), Antero da Silva Resende (1984-1992), Gilberto Madaíl (2007-2011) e Fernando Gomes (2013-2025).
Em 25 de março, ao ser empossado como novo dirigente máximo do Comité Olímpico de Portugal (COP), Gomes disse que cessaria funções de imediato nas principais entidades internacionais do futebol, após ser rendido por Proença, seu sucessor na LPFP desde 2015, ao fim de três mandatos na FPF.
Primeiro luso a integrar o Conselho da FIFA (2017-2025) e antigo ‘vice’ da UEFA (2017-2023), o economista presidia ao organismo federativo desde 2011, sendo que em 31 de janeiro, duas semanas antes das eleições, indicou mesmo o então presidente da LPFP e ‘vice’ por inerência da FPF como “candidato em nome de Portugal” ao Comité Executivo.
Essa decisão gerou “alguma estupefação” em Nuno Lobo, que estava a fechar o terceiro mandato na Associação de Futebol de Lisboa e seria derrotado por Proença em 14 de fevereiro, no ato eleitoral dos órgãos sociais federativos rumo ao quadriénio 2024-2028.
A passagem de testemunho aparentava estar livre de tensões significativas e foi pautada por referências elogiosas públicas de Proença ao antecessor, até que, no fim de semana passado, Gomes, dirigente português com maior longevidade no Comité Executivo da UEFA, rejeitou ter dado apoio à candidatura do antigo árbitro, que tinha ficado do seu lado na corrida ao COP, apesar das dissonâncias antigas mantidas em surdina entre ambos.
As versões antagónicas dos dois dirigentes foram transmitidas através de missivas às 55 federações com direito de voto no Congresso da UEFA, tendo o economista lamentado que o seu nome fosse “mencionado sem consentimento prévio ou mesmo informação”.
“Pedro Proença escolheu o caminho da destruição do legado que eu e a minha equipa construímos ao longo de 13 anos, através de decisões e insinuações públicas que visam atacar o nosso bom nome e que, como se verá, são completamente infundadas”, criticou.
Reunida na segunda-feira, a direção da FPF anunciou que vai pedir uma audiência com caráter de urgência ao Governo, de forma a estimar os impactos face aos compromissos assumidos - sobretudo com a candidatura ao Europeu feminino de 2029 e a organização conjunta com Espanha e Marrocos do Mundial masculino de 2030 -, além de enviar uma exposição ao Conselho de Ética do COP, para avaliação da atuação de Fernando Gomes.
O economista foi investido no organismo olímpico português precisamente no dia em que a Polícia Judiciária (PJ) realizava buscas na Cidade do Futebol, em Oeiras, no âmbito da Operação Mais Valia, que investiga a venda da antiga sede da FPF, em 2018, e constituiu como arguidos o ex-deputado do PS António Gameiro e o antigo secretário-geral federativo Paulo Lourenço.
Face às suspeitas dos crimes de recebimento indevido de vantagem, corrupção, fraude fiscal e participação económica em negócio, a atual direção prometeu estender ao período entre 2016 e 2020 a auditoria já em curso sobre o mandato anterior e ser inflexível na defesa da FPF, constituindo-se como assistente nos processos que lesem os seus interesses.
Seguiu-se o diferendo entre Gomes e Proença, que motivou a preocupação de clubes da I Liga, tais como o campeão nacional Sporting, FC Porto, Sporting de Braga, Santa Clara, Famalicão, Arouca, Rio Ave, Gil Vicente e Boavista, e levou as associações de futebol distritais e regionais e a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) a saírem em defesa do gestor.
Formado por Aleksander Ceferin e por até 19 membros eleitos - 16 pelo Congresso, dois pela Associação Europeia de Clubes (ECA) e um pela Associação de Ligas Europeias (EL) -, o Comité Executivo tem o poder de adotar regulamentos e tomar decisões sobre os assuntos que não se enquadram na jurisdição do Congresso da UEFA ou de outro órgão.
Supervisionar a administração, definir a estrutura organizacional do organismo ou aprovar o plano de negócios anual são alguns deveres da pasta pretendida por Pedro Proença, numa altura em que Ceferin trabalha com seis ‘vices’, 10 membros e oito representantes no Conselho da FIFA, entre os quais Fernando Gomes, que levantou a oportunidade de falar pessoalmente com o antigo árbitro em Belgrado.
Comentários