A pandemia de COVID-19 atingiu o desporto de uma forma nunca antes vista. Apenas persistem provas desportivas em menos de dez dos 195 países do mundo.

O futebol foi dos mais atingidos pela pandemia de COVID-19, numa altura em que são mais as dúvidas que certezas em relação ao regresso do desporto-rei.

Apesar do desejo de muitas federações em terminar o que resta desta época até agosto, os especialistas em epidemias vão avisando que é preciso prudência. Sem uma vacina, é prematuro dizer quando teremos público nos recintos desportivos.

"Detesto dizer isto, mas, como cientista, estou quase 100 por cento certo de que não podemos encher estádios até termos uma vacina. Ponto. Aquilo que é preciso entender é que cada pessoa aumenta o risco. Cinco pessoas são mais perigosas do que duas. Dez são mais perigosas do que cinco. Quinhentas são mais perigosas do que dez mil. Sessenta mil pessoas são realmente muito, muito perigosas. Como cientista, estou certou certo que não vamos ter público nos estádios até termos uma vacina", explicou Zach Binney, epidemiologista da Universidade de Emory, ao 'The Times'.

"Até termos uma vacina os estádios não podem ter pessoas. Talvez daqui a 18 meses já tenhamos a vacina", completa.

E mesmo que se consiga uma vacina nos próximos 18 meses, nada é certo. "A logística de imunizar 68 milhões de pessoas é complexa, pelo que só se pode abrir estádios de futebol quando 60 por cento da população estiver imunizada", destaca Karol Sikora, especialista em imunologia.

Sem uma vacina, será muito perigoso a concentração de pessoas no mesmo espaço já que tal iria ajudar a propagar o vírus. Num cenário de controle da pandemia, é possível o regresso de alguns desportos mas sempre de forma controlada e sem público, com o MotoGP, Fórmula 1.

Anthony Fauci, médico norte-americano detalhou ao 'The Times' em que moldes é possível o regresso do desporto, sem público nas bancadas.

"Sem público nas bancadas e os desportistas concentrados em grandes hotéis, assegurando que ninguém sai nem entra. Os jogadores fariam testes todas as semanas para não contaminarem uns aos outros. No caso do futebol, fazer testes rápidos, medindo a temperatura antes de cada jogo. Também os jogadores deviam ir aos estádios de forma separada", explica.

Zeke Emanuel, médico e assessor da Organização Mundial da Saúde, mostra-se pouco otimista sobre o regresso dos eventos de massa nos próximos meses.

"O regresso da economia deve ser feita por etapas. É preciso começar com mais distanciamento físico em lugares de trabalho, que permite o regresso das pessoas com menos riscos, mantendo-se uma distância de 1,5 a dois metros. Quando oiço pessoas a dizerem que reprogramaram conferências, concertos e outros eventos para outubro de 2020, não sei em quê se baseiam. Este tipo de eventos serão os últimos a serem retomados. Sendo realista, só devemos ter eventos desta natureza no outono de 2021", garantiu ao 'The Times'.

A sub-secretária da Saúde do governo italiano já tinha deixado claro que tão cedo não teremos público nas bancadas: "Voltaremos a ter estádios cheios quando estivermos totalmente seguros, ou seja, quando houver uma vacina", garantiu.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia de COVID-19, levou a que, inicialmente alguns eventos desportivos foram disputados sem público, mas, depois, começaram a ser cancelados, adiados – nomeadamente os Jogos Olímpicos Tóquio2020, o Euro2020 e a Copa América – ou suspensos, nos casos dos campeonatos nacionais e internacionais de todas as modalidades.