Alegria por verem afastado "in extremis" o cenário de descida aos distritais, revolta pela situação financeira grave que o clube atravessa, mágoa por ver a equipa a competir num escalão que não é o seu e tristeza.

O hino entoado pelos presentes na recepção ao Tirsense, em jogo em atraso da primeira jornada da Zona Norte foi acompanhado de palmas de incentivo à equipa "axadrezada", que ainda há poucos anos se sagrou campeã nacional.

O Estádio do Bessa, com muitas clareiras, lugares vazios e longe da assistência de outros tempos, até porque o jogo foi em dia de semana, vestiu-se a rigor para saudar com emoção o regresso à competição.

Escassos minutos antes do jogo, e com as cores boavisteiras a colorirem os acessos e zonas envolvestes do estádio, as bilheteiras do Bessa registaram movimento até quase ao apito inicial do árbitro José Rodrigues.

À estreia da equipa compareceram alguns dos históricos adeptos boavisteiros, entre os quais o inconfundível Manuel do Laço, para quem a participação na II divisão, "quando se dizia que o clube ia acabar, é uma alegria".

"Hoje é o primeiro dia para que o Boavista inicie a caminhada para o lugar que merece, ou seja a Liga principal, de onde nunca devia ter saído", adiantou à Agência Lusa Manuel do Laço, símbolo vivo dos boavisteiros.

Para o fervoroso adepto dos "axadrezados", equipado a rigor, "os que fizeram mal ao Boavista, que conta com 105 anos de história, vão se arrepender e colocar novamente o clube na Liga, que é o seu lugar".

O golo do Tirsense, marcado cedo e a frio, foi um verdadeiro balde de água fria nos sentimentos e emoções dos boavisteiros. Os rostos fecharam-se, as mãos crisparam-se e voltaram fantasmas recentes.

Nuno Lopes, irmão gémeo de Miguel Lopes (FC Porto), marcou o golo do empate para o Boavista e arrancou a primeira explosão de genuína alegria no Bessa, com os adeptos a exorcizarem medos e ansiedades.

Angelino Cunha, sócio há mais de 50 anos do Boavista, conhecido no Bessa por "Farturas", foi um dos que mais vibrou com o golo de Nuno Lopes, até porque desde o apito inicial "empurrava" a equipa para a frente.

"É com uma mágoa enorme pelo que fizeram ao Boavista que estou aqui hoje", disse o conhecido adepto boavisteiro, exigindo a todos os que se apropriaram dos dinheiros do clube indevidamente que o reponham.

Responsável por uma das roullotes que marcam presença habitual nas imediações do Bessa, em dia de jogo, "Farturas" recorda os bons momentos do clube "axadrezado" e contesta a impensável presença nos distritais.

Joaquim Vilela, sócio há mais de 60 anos, saudou com alegria o regresso do futebol ao Bessa, mas com "tristeza por ver o clube mergulhado na II Divisão, a fazer lembrar a década de 60 de má memória".

O encontro terminou com um empate a 2-2 e com o Boavista a somar o primeiro ponto na Zona Norte da II Divisão, mas com as preocupações de subsistência financeira a manterem-se preocupantes e inalteráveis.