Quatro golos, belos pormenores, estreantes a brilharem e um ambiente fantástico. A seleção portuguesa de futebol bateu a Finlândia por 4-2 em Alvalade na noite de terça-feira, num jogo onde brilharam Francisco Conceição, João Cancelo e Bruno Fernandes.

Portugal passou no primeiro teste antes do Euro 2024, mas terá de estudar melhor para as disciplinas que exigem mais da mente, como é o caso da Croácia, adversária do segundo encontro de preparação antes da partida para a Alemanha, já no próximo sábado no Estádio Nacional.

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Ofensivamente, a equipa de Roberto Martinez esteve bem, mas é preciso não exagerar nos elogios, uma vez que o adversário - a Finlândia - raramente mostrou argumentos para colocar à prova a seleção lusa. Apesar disso, marcou dois golos a Portugal em cinco minutos, depois de os lusos terem estado a vencer por 3-0.

Uma vez que o selecionador apresentou uma equipa alternativa, onde o objetivo era observar os jogadores menos utilizados, esta análise será centrada nos futebolistas que foram titulares pela primeira vez - João Neves e Francisco Conceição - e ainda nos jogadores que atuaram e podem ser alternativas aos habitualmente titulares.

O 4-3-3 deixou algumas pistas sobre a forma como Portugal poderá atuar no Europeu, sendo esta uma alternativa ao 3-5-2 ou 3-4-3 que o selecionador tem vindo a utilizar. Vai depender dos jogadores disponíveis e também dos adversários.

Se Roberto Martinez optar por uma defesa a três, é provável que Pepe e Rúben Dias sejam duas das escolhas caso estejam a cem por cento, com Danilo a discutir o lugar com Gonçalo Inácio e António Silva. Estes três não estiveram bem, já que foram dos seus lados que surgiram os dois golos dos finlandeses. No primeiro, Gonçalo Inácio permite a desmarcação de Teemu Pukki nas suas costas e a dobra de António Silva é tardia, incapaz de evitar o golo do veterano avançado.

No segundo golo, é Danilo, que sai na pressão em vez de fazer contenção,  permitindo que Pukki ataque o espaço, receba a bola antes de fazer o 3-2. Aqui Dalot devia ter fechado o espaço deixado pelo central ou, ao menos, tentar importunar o avançado. Toda a linha defensiva estava descoordenada.

O facto de o jogo ser um amigável não ajudou na concentração dos atletas, como se viu no primeiro tempo, aos nove minutos, quando António Silva teve uma má abordagem num lance com Antman e permitiu que o extremo escapasse para a área. Ruben Dias não gostou e deu-lhe um raspanete.

O incansável João Neves e o espalha-brasas Chico Conceição

A meio-campo, João Neves mostrou ser uma boa alternativa, podendo atuar tanto como um '6' ou como um '8'. Começou por jogar na meia esquerda, no apoio a Rafael Leão e Nuno Mendes e foi crucial na forma como Portugal recuperava cedo a bola, não deixando jogar os finlandeses na primeira parte. No segundo tempo, com as várias alterações, iniciou o jogo na posição '6' onde estava João Palhinha e por lá ficou até ao final. O seu posicionamento permitiu que Bruno Fernandes e Vitinha jogassem mais perto da área, sobrecarregando o jogo ofensivo tanto pelas laterais como pelo meio.

Francisco Conceição foi, entre os titulares, aquele que melhor aproveitou a chamada. Foi um quebra-cabeças durante os 90 minutos e esteve em três dos quatro golos lusos. É ele quem ganha o penálti que Diogo Jota converteu a terminar o primeiro tempo. Na segunda parte mostrou excelente entendimento com Bruno Fernandes, ao assistir o médio para os seus dois golos no jogo.

O enérgico extremo tentou, também ele, marcar, mas falhou, a melhor de todas aos 80 minutos. Nos descontos atirou ao poste, já sem ângulo. Teve pormenores fantásticos ao longo do jogo e mostrou que também está muito melhor a defender, como mostram as várias bolas que conseguiu recuperar ainda no meio-campo português.

Vitinha deu seguimento a grande época que realizou no Paris Saint-Germain, que lhe valeu a entrada para o Onze Ideal da Liga dos Campeões 2023/24 (o único português na lista). Ainda não se sabe como Roberto Martinez irá jogar, mas é difícil ver o Onze de Portugal sem Vitinha. O seu dinamismo, a forma como faz a bola circular pelos três corredores, a sua visão de jogo, são atributos que não podem ser desperdiçados. Fez 90 minutos e deixou boas indicações.

Pedro Neto entrou no segundo tempo e justificou a chamada nos 26 de Martinez. Jogando na esquerda, teve várias arrancadas, tanto do flanco para o meio como a atacar a linha de fundo, criando muitos embaraços para a defensiva nórdica. Dificilmente será titular, mas é jogador que poderá entrar e desbloquear os jogos.

Diogo Jota jogou 45 minutos, importantes para o seu nível físico. Teve dificuldades na ligação com os colegas, mas deixou a sua marca no jogo, ao converter o penálti sobre Francisco Conceição no primeiro tempo. Importante para ganhar confiança.

Gonçalo Ramos entrou no segundo tempo mas raramente foi servido para marcar. No entanto, foi importante para afundar a linha defensiva finlandesa e segurar os centrais, o que permitiu que os médios pudessem jogar mais a vontade perto da área contrária. É um dos concorrentes fortes ao onze, até porque é o único '9' de raiz.

Agora segue-se a Croácia no próximo dia 07, no Estádio Nacional. Um teste de exigência maior para atestar o quão preparado Portugal está para enfrentar o Euro 2024, onde é candidato a levantar o caneco no dia 14 de julho.

Momento-chave: acabar com as dúvidas

Para quem pouco tinha feito ofensivamente, marcar dois golos a Portugal em cinco minutos foi o melhor que aconteceu à Finlândia. Os nórdicos ainda sonharam com a recuperação milagrosa, mas Francisco Conceição e Bruno Fernandes tinham o antídoto: trabalho do jovem extremo a assistir o médio para o 4-2 final.

Os Melhores: mais de 43 mil a empurrar

Foram perto de 44 mil os adeptos que disseram 'sim' a chamada e encheram Alvalade, apesar da hora do jogo (19h45) em dia de trabalho. Os adeptos tentaram puxar pela equipa, com cânticos, palmas a compasso e a famosa onda mexicana. Nos momentos em que o jogo parecia estar mais morno, era das bancadas que vinha o derradeiro empurrão, muito por culpa dos pormenores de Francisco Conceição, das maravilhas de Pedro Neto e Rafael Leão, e das tentativas de João Cancelo.

Bruno Fernandes entrou ao intervalo para guiar os mais novos e ainda a tempo de fazer dois golos que o colocam como 10.º melhor marcador de sempre da história da seleção, com os mesmos 22 golos de Simão Sabrosa e Nené. O médio do Manchester United leva oito golos e nove assistências desde que Roberto Martinez é selecionador de Portugal. Ou seja, Bruno Fernandes teve participação direta em 37 por cento dos 46 golos dos lusos desde a chegada do treinador espanhol, de acordo com dados do Playmakerstats. Ao todo, são 22 golos e 19 assistências em 65 internacionalizações. Grandes números.

Em noite 'não': é preciso defender melhor

Quando o selecionador finlandês Markku Kanerva lançou o veterano Teemu Pukki aos 65 minutos, Portugal devia saber que dali vinha perigo. O avançado, a jogar na Major League Soccer dos EUA, pode já ter passado o auge da carreira mas continua um finalizador de fino trato. Movimentou-se bem entre os dois centrais portugueses para fazer dois bons golos, em dois lances onde ficou claro que é preciso fazer mais a nível de coordenação da última linha.

Depois de uma campanha de apuramento para o Euro 2024 quase irrepreensível defensivamente, os quatro golos sofridos nos últimos dois jogos - todos amigáveis - fez soar o alarme. É preciso manter a concentração em todos os momentos.

Reações

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