Pedro Espinha só vestiu a camisola da seleção portuguesa de futebol durante 89 minutos no Euro2000, mas esses minutos, frente a Alemanha, são a memória mais marcante da sua carreira como guarda-redes.
«Na altura tinha 35 anos, era um jogador com experiência, pelos muitos jogos que fiz. Encarei o jogo mais como um fator motivacional do que como inibidor. E, até hoje, foi o jogo que mais me marcou em termos de carreira, sem dúvida», relembrou em entrevista à agência Lusa.
Com o apuramento garantido para os quartos de final do campeonato da Europa de 2000, uma organização conjunta de Bélgica e Holanda, o selecionador português Humberto Coelho resolveu dar a titularidade, e uma oportunidade única, a Pedro Espinha, por troca com o indiscutível Vítor Baía
«Foi na véspera do jogo (que soube). É lógico que recebi a notícia com uma grande alegria, por dois motivos: porque iria ser a minha estreia no campeonato da Europa e porque era a minha primeira e única participação», relatou.
Depois da alegria inicial, o atual treinador de guarda-redes das seleções jovens teve consciência de que, embora Portugal já estivesse qualificado para a fase seguinte, o jogo com a Alemanha era «de grande responsabilidade».
No entanto, o desafio não o assustou: «No fundo, encarei com tranquilidade, porque era esse o meu espírito».
Daquele 20 de junho de 2000, Pedro Espinha recorda a «experiência gratificante, o estádio completamente cheio, dividido entre Portugal e Alemanha», a «grandiosidade» de um jogo diferente de todos os outros, «porque se está a representar um país» e não um clube, mas também o nervosismo.
O facto de o apuramento estar garantido quando calçou as luvas para defender as redes nacionais não tornou o confronto com a poderosa Alemanha mais fácil, mas sim «diferente».
«Na véspera, treinámos quase à mesma hora e cruzámo-nos. Notava-se o ar apreensivo deles, (estavam) muito pouco comunicativos, até um pouco arrogantes. E, no próprio jogo, a Alemanha estava mais receosa do que Portugal», recordou.
Pedro Espinha tem bem presente o jogo na memória. «Portugal entrou com outra vontade, outra alegria, viu-se uma predisposição diferente, uma tranquilidade de quem queria ganhar, mas também disfrutar do jogo, enquanto os alemães entraram inibidos e acho que isso fez a diferença», contou o homem que manteve a baliza portuguesa invicta durante 89 minutos antes de ser substituído.
Essa substituição, que valeu a um jovem Quim um minuto no Euro2000 e à equipa das “quinas” o estatuto de única seleção a usar todos os jogadores nessa competição, é outra das memórias que guarda.
«O jogo estava 3-0 (três golos de Sérgio Conceição), o Quim era um jovem jogador que estava a começar. Foi também um prémio para ele e penso que foi, de certeza, marcante para a carreira dele. Se estivesse no lugar dele, também gostaria de estar nesse jogo, nem que fosse por dois ou três minutos», admitiu.
Pedro Espinha defende que não é fácil uma seleção utilizar «por iniciativa própria» os jogadores todos numa fase final, «em especial os três guarda-redes», e que, por isso, seria «bonito» se Portugal tivesse concluído o Europeu «com uma vitória e com todo o plantel utilizado».
O que ficou desse Euro2000, na opinião do guarda-redes suplente da seleção, foi uma prestação «muito boa». Mais esbatida está a sensação de frustração que todos sentiram por terem sido eliminados nas meias-finais, pela França, no prolongamento, com um polémico penalti por mão de Abel Xavier.
«Com o tempo isso desvanece e aquilo que fica são as boas memórias e o dever cumprido. E, hoje, sabemos que fizemos tudo para chegar à final. Agora, fica sempre uma sensação de frustração, porque podíamos chegar à final. De qualquer maneira, saímos de lá com o dever cumprido de quem fez tudo, de quem deu tudo», garantiu, realçando que o Euro2000 representou «o ponto de arranque para as prestações muito positivas que se seguiram».
Para Pedro Espinha, a seleção tem vindo a dar continuidade a um trabalho que vem desde 2000: «Quem entra numa fase final do campeonato da Europa tem legítimas ambições e Portugal já demonstrou que tem uma seleção capaz de orgulhar os portugueses. De certeza que os jogadores e a equipa técnica vão fazer tudo para que a seleção esteja pronta para mais uma jornada de sucesso».
Com Portugal no chamado “grupo da morte” do Euro2012, o treinador de guarda-redes das seleções jovens, de 46 anos, destacou a qualidade de «três adversários de grande respeito» e atribuiu o favoritismo à Alemanha, sem esquecer o perigo que representam Holanda e Dinamarca.
«É difícil estar a dizer qual é o mais difícil. No futebol muitas vezes as previsões saem furadas. Uma coisa é certa: o primeiro jogo (com a Alemanha) é muito importante. Numa fase em que são três jogos, o primeiro torna-se essencial», concluiu.
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