Se o Libolo, emblema angolano que disputa o Girabola, tivesse um museu no Norte de Portugal, seria em Famalicão, onde Maria Georgina Ortiga mantém o café da estação decorado com camisolas e bolas "cheias de história e de saudade".

O Recreativo do Libolo, treinado pelo português João Paulo Costa, está a três pontos do seu próximo adversário, o 1.º de Agosto, atual líder do principal campeonato de futebol de Angola. Se vencer o Girabola, a formação do Kwanza Sul será tricampeã. Faltam oito jogos.

Em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, o coração angolano de João Carlos Rodrigues levou-o a decorar o estabelecimento que a família da mulher, Maria Georgina Ortiga, explora há 50 anos na estação de comboios com as cores do Libolo.

As peças - bolas, cachecóis e camisolas - foram oferecidas por Rui Campos, reeleito em março para mais quatro anos de mandato como presidente do Recreativo do Libolo, e a principal figura do lado da tabacaria: uma 't-shirt' autografada por jogadores e equipa técnica.

A amizade de Rui Campos e João Carlos Rodrigues era "longa" e "muito forte", descreve à agência Lusa Maria Georgina Ortiga. Foi interrompida há quatro meses quando João Carlos Rodrigues, angolano a viver em Portugal desde os 26 anos, faleceu após doença óssea prolongada aos 65.

"Não tiro nada daqui. Muito menos agora. Posso levar o cachecol para lavar em casa, mas trago-o outra vez. Se o Libolo ganhar o campeonato, será uma homenagem ao meu marido e será a segunda maior alegria que terei depois do dia em que Portugal ganhou o Euro [Campeonato Europeu 2016 que se disputou em França]. Parece que o senti a festejar comigo. Agora quero eu festejar com ele se o nosso clube angolano do coração ganhar", aponta Maria Georgina Ortiga.

Habituou-se já a explicar o porquê de ter no estabelecimento, numa prateleira mesmo por cima da máquina de café, uma bola cheia de assinaturas com "nomes esquisitos", ao lado um cachecol de Portugal - o único adereço sem sotaque angolano - e em frente uma camisola com a cruz vermelha, o laranja e o azul, caraterísticos do Libolo.

"Há pessoas que querem comprar isto. Não vendo por nada deste mundo, por preço nenhum", garante Maria Georgina Ortiga que em casa tem "mais um sem número de prendas e recordações cheias de história".

"De história e de saudade? Foram quase 40 anos de casamento [dois filhos e dois netos]. Tenho um quarto completamente cheio com as cores do Libolo", acrescenta.

João Carlos Rodrigues nunca voltou a Angola, embora tivesse recebido "vários convites", mas era um "apaixonado pela sua terra".

Cozinhava muamba, pirão, galinha com óleo de palma, gostava de peixinhos da horta com arroz de tomate, e seguia o campeonato à distância, sendo informado por Rui Campos, cujo sogro é natural da freguesia de Calendário, Vila Nova de Famalicão.

Dividia a "paixão" por Angola com o "amor" ao país que o acolheu. Antes de morrer, conta a esposa, estava a ler Fernando Pessoa e a desejar que o Benfica alcançasse o 'tri'.

"Era só nisso que discordávamos. Eu não sou só sportinguista, sou fundamentalista. Mas temos o Libolo em comum. A família do presidente deve vir avisar como ficou, senão os meus filhos vão à Internet ver. Tem de ganhar", conclui.

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