O documentário 'Kaiser: The Greatest Footballer Never To Play Football' explora a carreira do futebolista brasileiro Carlos Kaiser, que nunca atuou num jogo oficial, e marca no sábado a cerimónia de abertura do festival Porto/Post/Doc.
O festival dedicado ao documentário, que arranca no sábado no Porto e se estende até 02 de dezembro, abre no cinema Trindade com o trabalho do britânico Louis Myles, realizador que conta a história de Kaiser, hoje com 55 anos e conhecido por ter encontrado diversas formas de evitar jogar pelos clubes por onde foi passando na carreira.
Nascido Carlos Henrique Raposo, ficou com a alcunha de ‘Kaiser’ pelas parecenças com o alemão Franz Beckenbauer, uma ‘lenda’ do futebol mundial com o mesmo ‘nome de guerra’ e com quem era parecido. O brasileiro passou pelas camadas jovens de Botafogo e Flamengo, antes de despertar a atenção dos mexicanos do Puebla, em 1979.
Ali, conta, foi onde começaram os esquemas para ‘enganar’ dirigentes de clubes, nos quais ficava sempre com contratos de curta duração e, muitas vezes, com apoio de outros jogadores, mais famosos, cuja amizade fora de campo jogava a seu favor.
A história é agora contada por Louis Myles, que falou com vários antigos colegas de equipa e entrevistou o antigo jogador, que garante ter tentado sempre fugir aos holofotes.
“Admiro e respeito o trabalho de toda a equipa de produção, mas eu sempre fugi dos holofotes. Mas eles correm atrás de mim”, começa por dizer à agência Lusa o brasileiro.
Dizendo que nunca fez “mal a ninguém” e que sempre teve amigos que lhe pediam para continuar a carreira, os vários enganos no “submundo do futebol” levaram a que não se arrependa dos 'golpes’ que foi dando em mais de uma dezena de clubes.
Queria estudar, conta, mas precisava do dinheiro dos contratos que ia assinando para apoiar a família, e a ‘fama’, bem como a amizade com vários ‘craques’ brasileiros, acabou por lhe dar notoriedade como futebolista, mesmo que poucas vezes tenha pisado o relvado.
“Eu não sou nada do que as pessoas imaginam. Eu gosto de cultura, era isso que queria e não a bola. Por exemplo, nos Estados Unidos, os jogadores de basquetebol estudam e formam-se. Porque é que o jogador brasileiro não pode?”, questiona.
À boleia dos estudos no mundo do futebol profissional, Kaiser diz que em Portugal “o jogador já estuda mais”, e recorda os “ídolos” que tem de Portugal: Luís Figo, Paulo Futre, Fernando Couto, Eusébio e Cristiano Ronaldo, que ‘elege’ como “o melhor do mundo”.
O papel da educação, insiste, é fundamental, porque “os jogadores hoje em dia são muito enganados” e precisam de saber “gerir melhor a sua carreira”, pelo que espera que o documentário seja tão pessoal quanto informativo.
“Vão ver a realidade da minha vida, um cara que é viúvo três vezes, que perdeu um filho aos 18 anos, que não conhece a mãe verdadeira... e também falo do submundo do futebol, porque as pessoas não imaginam”, atira.
O documentário de Myles, diz, vem “repor a justiça” da narrativa da sua vida, marcada por muitas histórias falsas ou exageradas, também pela amizade que ia cultivando com vários jornalistas, numa carreira que até passou pela Europa, nos franceses do Gazélec Ajaccio.
Hoje em dia, trabalha como treinador de culturismo. “Treino mulheres, nas categorias de ‘wellness’ e models’. O futebol foi um dom que Deus me deu, mas eu não o queria”, diz.
O trabalho na área da saúde, em áreas do culturismo que “passam longe do uso de esteroides”, é um dos pilares do dia-a-dia de Kaiser, que tem tentado “levantar este desporto” para poder ajudar as gerações mais jovens.
A quinta edição do festival Porto/Post/Doc arranca hoje, no Porto, com 14 filmes em competição, incluindo dois portugueses: 'Sobre tudo e sobre nada', de Dídio Pestana, e 'Hálito Azul', de Rodrigo Areias, além de uma retrospetiva do trabalho de António Reis e Margarida Cordeiro.
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