O guarda-redes português Pedro Silva, do HB Koge, mostrou-se hoje destemido pelo regresso da II Liga dinamarquesa de futebol no final de maio, embora duvide da necessidade urgente em completar a temporada em plena pandemia de COVID-19.

“Sinceramente, não tenho muito receio, porque tudo será testado e restringido ao máximo. Como sou pago para isso, só tenho de treinar e jogar, e farei com gosto. Mas tirando isso, será que vale a pena apressar tanto só para terminar uma temporada? Só levanto essa questão, porque há muita coisa que se vai manter fechada e o futebol vai voltar e parece que é tudo apressado”, avaliou à agência Lusa o dono da baliza dos ‘cisnes’.

No âmbito da segunda fase de desconfinamento face ao novo coronavírus, o Governo de Mette Frederiksen recebeu ‘luz verde’ das autoridades sanitárias na quinta-feira e a Liga deve anunciar hoje as condições para a retoma do futebol profissional à porta fechada em 29 de maio, dois meses e meio após a suspensão dos dois principais escalões.

“Para um jogador, é muito melhor lidar com estádios cheios do que vazios, mas diria que o impacto não se sentirá tanto a esse nível. Há pequenas regras que teremos de cumprir quando o campeonato voltar, como fazer testes nos dias de jogos ou não estar nos balneários, e acredito que tragam uma realidade difícil e muito diferente”, defendeu.

Pedro Silva, de 23 anos, vive numa residência do HB Koge e apelida-se de “sortudo” por antever um “regresso facilitado” aos treinos coletivos a partir desta semana, pois arranjou alternativas para manter-se ativo com dois companheiros de equipa durante o período de confinamento social, marcado por “poucas restrições” e “bastante liberdade”.

“Há um campo sintético que fica a 10 minutos a pé de casa e praticamente íamos para lá todas as manhãs. Não é difícil tentar manter o foco, mas o ânimo e a felicidade com que vamos treinar, porque não sabíamos nem ainda sabemos muito bem quanto tempo irá durar este surto”, elucidou, sobre uma nação com 529 mortos em 10.627 infetados.

Depois de ter mostrado “rapidez” a instaurar normas de distanciamento social em 13 de março, sem nunca promulgar o estado de emergência, a Dinamarca destacou-se na contenção da COVID-19 e demorou um mês a tornar-se um dos primeiros países europeus a reabrir alguns estabelecimentos escolares, ainda que de forma condicionada.

O alívio das restrições prolongou-se nas semanas seguintes junto de repartições públicas e algum comércio, enquanto permanece vedada a entrada de estrangeiros e concentrações superiores à dezena de pessoas, num país que evita “grandes filas” nos supermercados e procura obedecer “à risca” às indicações governamentais.

Para lá de afetar os horizontes futebolísticos, a pandemia acelerou a adaptação de Pedro Silva às temperaturas negativas e ao vento gelado da Dinamarca, onde aterrou em janeiro, oriundo do Tondela, para abraçar a primeira experiência além-fronteiras e recuperar os minutos perdidos na ‘sombra’ do internacional luso Cláudio Ramos.

“Em janeiro, tinha de sair, porque vinha de seis meses sem jogar. Na altura apareceram convites de Portugal, mas a minha vontade era começar uma nova vida no estrangeiro. O único clube que mostrou interesse foi o HB Koge e optei por crescer aqui”, contou o guardião formado no Sporting, que fez quatro jogos pelos ‘beirões’ na época passada.

Convocado para o Mundial sub-20 de 2017 e os Europeus sub-17 de 2014 e sub-19 de 2016 pela seleção das ‘quinas’, Pedro Silva sentiu uma “transição muito dura” para a mentalidade escandinava e evoluiu num estágio em solo turco, que veio compensar a tradicional pausa de inverno do futebol dinamarquês entre dezembro e fevereiro.

“Antes de recomeçar o campeonato, os treinadores foram honestos comigo e concordei que não estava completamente adaptado. Não estive nos dois jogos oficiais em março e depois veio esta paragem. Do que vi, é um estilo pouco tático, mais físico e bastante atrativo face à Liga portuguesa”, comparou o guarda-redes, vinculado com o clube até 2022.

Após 20 das 33 jornadas, numa II Liga disputada a três voltas por 12 emblemas, os ‘cisnes’ seguem no sétimo posto, com os mesmos 25 pontos do Nykobing, sete acima da zona de descida e dez abaixo das duas vagas de acesso ao ‘play-off’ de promoção, que vão revelando o Viborg e o Fredericia como os perseguidores do líder isolado Vejle.

“O objetivo é a permanência, porque o clube está numa dinâmica de gestão de custos, mudou de treinador e está a construir novas infraestruturas. Este ano é de transição e o próximo pode ser de afirmação”, apontou, sobre uma coletividade fundada em 2009, através da fusão dos antigos campeões nacionais Herfolge e Koge Boldklub.

Propriedade da Capelli, marca norte-americana de vestuário desportivo, o HB Koge passou pela I Liga há oito anos e recorreu ao apoio estatal para sobreviver aos impactos financeiros do novo coronavírus, resguardando a estabilidade de Pedro Silva, do defesa luso-romeno Marian Huja e de Sérgio Cecílio, líder do departamento de prospeção.

“Tenho a sorte de estar num país tão organizado. Depois, este mercado é muito mais atrativo e facilita a saída para França, Itália, Espanha ou Inglaterra. Vim para aqui como trampolim para uma dessas Ligas”, afiançou o sintrense, entregue às dicas de Heidi Johansen, considerada uma das melhores guarda-redes do mundo no início do século.