O avançado Elkeson, o primeiro futebolista sem ascendência chinesa convocado para a seleção da China, abriu um novo precedente, que pode vir a incluir Pedro Delgado, jogador nascido em Portugal e naturalizado chinês.
O ex-brasileiro (a China não reconhece dupla nacionalidade), de 30 anos, e que atua desde 2013 no campeonato chinês, foi convocado pelo selecionador Marcello Lippi, para disputar no próximo mês os primeiros jogos na campanha de qualificação para o Mundial de 2022.
Mas o jogador pode ser apenas o primeiro a usufruir na China de uma regra da FIFA que permite que jogadores estrangeiros possam jogar pela seleção de outro país após cinco anos de residência, desde que nunca tenham representando outra seleção nacional no escalão sénior.
Pedro Delgado, ex-internacional sub-21 português, formado no Sporting, poderá vir também a envergar a camisola da China.
Médio do Shandong Luneng, Delgado é o mais recente jogador a naturalizar-se cidadão chinês, depois de ter rumado à China em fevereiro passado, pelo que, segundo as regras da FIFA, terá de esperar mais de quatro anos para poder ser convocado.
Na altura, o próprio atleta disse à agência Lusa ser ainda "cedo para falar" sobre uma convocatória.
O jogador, que trocou o Sporting B pelo futebol chinês, tem ascendência cabo-verdiana, mas não se descarta que tenha tido antepassados chineses.
No início do ano, Nico Yennaris, nascido em Londres, assinou pelos chineses Beijing Guoan e trocou também o seu passaporte britânico por um chinês. Yennaris, no entanto, tem mãe chinesa, tal como John Hou Saeter, nascido na Noruega e igualmente naturalizado chinês.
A cidadania da China é baseada no princípio 'jus sanguinis' (direito de sangue), podendo ser reconhecida de acordo com a ascendência do indivíduo, o que torna Elkeson e Delgado em raridades.
A obtenção de nacionalidade chinesa valoriza também estes atletas no mercado chinês, um novo 'el dorado' dos profissionais do futebol, que tem batido recordes de transferências época após época.
Segundo os regulamentos estipulados pela Associação de Futebol da China (CFA), no 'onze' podem alinhar, no máximo, três jogadores estrangeiros, o que protege os jogadores chineses da competição externa, valorizando-os.
Face às naturalizações, em março passado, a CFA publicou um novo regulamento, que obriga os atletas naturalizados a conhecerem o hino da China, o significado da bandeira e a história do Partido Comunista Chinês (PCC).
Segundo os regulamentos, os jogadores nacionalizados devem receber educação sobre cultura tradicional chinesa, aprender sobre a história e atualidade da China, estudar chinês e "manter o patriotismo".
Os clubes estão sujeitos a apresentarem um relatório por escrito sobre os atletas todos os meses, segundo as novas normas.
Segunda maior economia mundial, a seguir aos Estados Unidos, a China figura em 82.º no ranking da FIFA, atrás de muitas pequenas nações em vias de desenvolvimento.
Em 2015, Pequim anunciou um "plano de reforma do futebol" que prevê, entre outros pontos, a abertura de 20.000 escolas de futebol até 2020 e que "mais de 30 milhões de estudantes do ensino primário e secundário pratiquem com frequência a modalidade".
O referido plano, aprovado pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o organismo máximo chinês encarregado da planificação económica, estabelece como meta colocar a seleção chinesa entre "as melhores equipas do mundo até 2050".
Empresários, incluindo o fundador do grupo Alibaba, Jack Ma, investiram já milhares de milhões na Superliga chinesa, o que resultou na contratação de vários jogadores estrangeiros.
Um dos mais recentes foi o médio internacional belga Marouane Fellaini, que deixou o Manchester United, de Inglaterra, e seguiu para o Shandong Luneng. O galês Gareth Bale esteve este verão perto de rumar ao Jiangsu Suning, mas a transferência foi bloqueada pelo Real Madrid.
Apesar do investimento, a ocupação média nos estádios chineses, na época passada, foi de 51%, e a maioria das equipas que disputam a Superliga chinesa registam contas negativas.
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