O diretor da FIFA para as federações africanas, Gelson Fernandes, crê que o futebol do continente tem “potencial enorme” face à crescente organização das instituições e à atenção gerada pela CAN2023, com quase dois mil milhões de telespetadores.
Convencido de que se assistiu a “uma boa” Taça das Nações Africanas (CAN2023) na Costa do Marfim, entre 13 de janeiro e 11 de fevereiro, com “estádios muito seguros”, preenchidos por mais de 1,1 milhões de pessoas nos 52 jogos, e “muitos espetadores na televisão” – quase dois mil milhões -, o responsável enalteceu a “boa organização” por parte da Confederação Africana de Futebol (CAF).
“Quando as federações chegam ao nível de organização que têm agora, o potencial é enorme. O futebol africano não deve nada ao futebol sul-americano, nem ao futebol asiático. Vamos ter pela primeira vez 9,5 equipas [nove ou 10] na fase final do Campeonato do Mundo, com o dobro das possibilidades de surpreenderem”, disse à Lusa, perspetivando o alargamento de 32 para 48 seleções no Mundial2026.
Também desperto para o “potencial técnico e tático” dos futebolistas do continente africano, o antigo internacional suíço, de 37 anos, lembrou que as seleções estiveram “muito próximas umas das outras” na mais recente CAN, com “muitas surpresas”, nomeadamente os apuramentos inéditos para os oitavos de final da Namíbia, que viria a ser eliminada por Angola, e da Mauritânia, afastada nessa fase por Cabo Verde, país onde Gelson Fernandes nasceu.
O responsável da FIFA enalteceu o desempenho das duas seleções, ambas com um percurso até aos quartos de final, assim como o de Moçambique, quarto e último classificado, com dois pontos no Grupo B, um “grupo muito difícil” vencido por Cabo Verde. O outro país de língua oficial portuguesa, a Guiné-Bissau, foi quarta classificada no Grupo A, sem qualquer ponto.
O ex-futebolista do Sporting, na época 2012/13, mas também de emblemas como os ingleses do Manchester City e do Leicester, os franceses do Saint-Étienne e do Rennes e os alemães do Eintracht Frankfurt crê ainda que o programa Forward, desenvolvido pela FIFA a nível mundial desde 2016, está a ajudar o futebol dos países africanos a evoluir.
Entre 2016 e 2022, a iniciativa reuniu um financiamento de 2,4 mil milhões de dólares a nível mundial (2,2 mil milhões de euros aproximadamente), com a CAF a dispor de fundos de quase 718 milhões de dólares, o valor mais elevado entre as seis confederações continentais.
Desse financiamento disponível, a CAF viu aprovados 604 milhões de dólares e viabilizados 385 projetos, tendo aplicado a maioria do dinheiro em infraestruturas (119,3 milhões de dólares), em questões administrativas (118,4 milhões) e na organização das seleções nacionais (106,9 milhões), segundo o relatório disponibilizado pela FIFA.
“O Forward é um trabalho excelente, com esse programa de desenvolvimento que está a compensar agora, porque cada federação está mais profissional na preparação dos jogos (…). “O nosso trabalho é sempre planificação, organização, investimento nas infraestruturas e nas competições. É esse o caminho”, vinca o responsável.
Habituado a circular pelo continente, para visitar projetos de infraestruturas ou de formação de jogadores, Gelson Fernandes quer ver “as federações fortes, com muitos objetivos e programas bem definidos” e crê que a fase piloto da designada FIFA Series, encarregue de reunir seleções pouco habituadas a jogar entre si, entre 18 e 26 de março, vai enriquecer currículo das federações.
“É importante dar experiências diferentes às nossas federações, para que fiquem mais completas”, diz, a propósito de uma iniciativa com jogos particulares distribuídos por cinco grupos de quatro seleções cada, entre as quais a de Cabo Verde.
Comentários