Os choques de cabeça são uma das principais razões para os futebolistas ficarem com mazelas no cérebro, que se revelam a longo prazo, e isso é o que Joh Stiles, filho da antiga lenda inglesa Nobby Stiles defende. Para Stiles, este flagelo provoca graves problemas a partir dos 50 anos e tem de ser analisado com atenção. O nome do inimigo é encefalopatia traumática crónica.

"Os futebolistas normalmente começam a ter sintomas entre os 50 e os 60 anos. O meu pai teve um período em que sentiu uma ansiedade terrível. E muitos jogadores têm os mesmos sintomas que causam ansiedade e paranóia. É horrível ver como a doença se apodera de alguém que amas e ver essa pessoa a desaparecer à tua frente. Mas é mais horrível ver que os ex-jogadores não recebem ajuda suficiente. E as famílias veem-se obrigadas a vender as suas casas para pagar os custos de tratamento", começou por dizer.

Aliás, Raphael Varane já teve problemas após ter sofrido um choque de cabeças quando representava a seleção francesa e teve repercussões nos jogos seguintes. Este facto leva Stiles a acreditar que há razão para preocupação e vai mesmo avançar com um processo contra a Federação inglesa de futebol e a própria Premier League.

"Varane tem razão em estar preocupado. A doença que está a matar os jogadores chama-se ETC: encefalopatia traumática crónica. A cada vez que sofres um impacto na cabeça, uma proteína chamada “tau” desprende-se no cérebro. Se não tiveres outro impacto, acalma e não há problema, mas os futebolistas têm dezenas de cabeceamentos. Então, essa proteína instala-se no cérebro e destrói-o. Fiquei muito feliz pela entrevista do Varane. Escrevi aos 92 clubes profissionais de Inglaterra e a todos os da Superliga feminina. Disse-lhes que o professor William Stewart - profissional de medicina em Harvard - e eu íamos falar com os jogadores sobre os perigos dos cabeceamentos. Todos nos recusaram. Não nos deixaram falar com os jogadores. Estou convencido que não sabem e não querem que os jogadores saibam", revelou.

Aliás o antigo internacional francês, que vai sair do Manchester United no final deste mês, deu uma entrevista ao L'Équipe onde abordou um episódio que lhe aconteceu em 2020 e que o despertou para este problema. "Questionei-me imenso e percebi que os erros não tinham caído do céu. Antes, numa partida com o Getafe, recebi uma bola de cabeça, na sequência de um canto, e tive de sair. Segui um protocolo de recuperação de cinco dias, sem muito esforço. Sentia-me muito cansado, mas pensei que seria o normal do fim da temporada. Quando retomei os treinos, ainda não tinha recuperado", explicou o defesa central.