O treinador português Jorge Paixão voltou este mês da China, depois de dois anos a treinar os sub-23 do Shenzhen, e a uma experiência “muito boa” naquele país deve seguir-se nova aventura no estrangeiro, disse hoje.
Em entrevista à agência Lusa, o antigo técnico de Mafra ou Sporting de Braga refletiu sobre as “excelentes condições” na China, onde o futebol de formação tem agora “mais organização e competitividade”, por contraste com o futebol português, que vê “um bocado doente”.
Entre 2018 e 2019, orientou a equipa de sub-23 do Shenzhen, que pelo meio conseguiu a subida à primeira divisão chinesa, num projeto que aceitou por estar a começar com “condições excelentes, assim como financeiras”, e numa situação nova, depois de orientar sempre seniores.
Decidiu “dar outro rumo à carreira” e voltar aos seniores, por vontade pessoal, mas também “pelo facto de o clube ter mudado de gerência, com alguma remodelação e desinvestimento”.
Em jeito de balanço, Paixão, de 54 anos, faz um balanço “muito bom” da experiência, com um vice-campeonato para contar da experiência e “vários jogadores que subiram à primeira equipa”, na qual joga o português Diego Sousa, bem como a chegarem às seleções de formação da China.
Acresce ao trabalho desportivo que o técnico vê aquele país como “muito bom para se viver”, assim como a cidade, “muito moderna e espetacular, ao lado de Hong Kong e Macau”.
“Foi uma experiência positiva, diferente, mas positiva, que me fez crescer como treinador e como pessoa. Não fechei as portas e tenciono um dia voltar à China, mas para treinar uma equipa em seniores, é um objetivo de futuro”, conta.
Por agora, “é seguir a carreira”, o que acontecerá, “em princípio”, no estrangeiro, tendo já recebido uma abordagem de um clube primodivisionário, há quatro meses, mas que não pôde aceitar por não poder interromper o contrato.
Mesmo à procura de um clube “o mais rapidamente possível”, também pretende “desfrutar da família”, até porque o caminho passará por nova emigração, depois de China, Polónia (Zawisza Bydgoszcz), Qatar (Al-Mesaimeer) e Angola (Recreativo Caála).
“A minha carreira, em princípio, continuará fora, não prevejo que seja em Portugal. (...) Vejo o futebol português, neste momento, um bocado doente”, atira.
Ainda que não feche a porta a um projeto que o fizesse mudar de ideias, o estrangeiro traz “experiências boas que enriquecem como treinador e como pessoa”.
Sobre o futebol português, e em particular com a polémica em torno dos cursos de treinador para técnicos de I Liga, que apelida de “celeuma”, Jorge Paixão diz que o país tem “o melhor jogador do mundo, o Ronaldo, e os melhores treinadores do mundo”, mas, por outro lado, “os piores dirigentes do mundo”.
Defende que os dirigentes também tenham formação, “para que não surgissem os problemas que hoje existem no futebol”, muitos deles, afirma, causados por “mau dirigismo, inclusivamente esta situação dos treinadores”.
Com “muita confusão”, o futebol português, com o peso de ser “campeão da Europa e uma das melhores seleções do mundo”, tem uma imagem “um pouco feia, que passa rápido”.
“Quando olho, gostava muito de trabalhar em Portugal, é o meu país e onde está a minha família, mas vejo-me obrigado a ir para fora, porque não me revejo neste enquadramento”, acrescenta.
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