O treinador português Mário Lemos conduziu em 18 de dezembro o Abahani à conquista da Taça da Independência do Bangladesh 31 anos depois, quase um mês após a estreia no comando interino da seleção de futebol local.

“Trinta e um anos é muito tempo. Vencer desta forma um clube que tem sido dominante, ganhou taças e campeonato e era favorita, foi especial. Ganhei o primeiro troféu pelo Abahani, num jogo muito bem conseguido da nossa parte, que criou muito mais expectativas em torno da equipa para a restante época”, vincou à agência Lusa o algarvio, de 35 anos.

O Abahani bateu na final o Bashundhara Kings - que detinha o título, ‘selado’ na última edição da competição, em 2018 - por 3-0, no Estádio Mustofa Kamal, em Daca, com golos de Rakib Hossain, aos 53 minutos, e do brasileiro Dorielton, aos 63, de penálti, e aos 72.

“Tínhamos uma equipa bastante experiente, mas faltavam alguns jogadores jovens, com mais garra e vontade. O futebol no Bangladesh é de muita luta e jogo direto. Quase todos os estrangeiros são fortes fisicamente e faltava-nos essa agressividade ao nosso jogo. Contratámos quatro atletas do campeonato local, que já estavam a jogar pela seleção, e quatro estrangeiros, que conferiram uma dinâmica muito diferente à equipa”, analisou.

Admitindo ter notado uma “intensidade coletiva muito superior ao passado”, Mário Lemos iniciou com êxito a quarta época naquele país do sudeste asiático, por ocasião dos 50 anos da independência do controlo do Paquistão, e prepara agora a Taça da Federação.

“Gostava de passar o Natal, mas, a dois dias dessa data, recebi a notícia de que o nosso primeiro jogo será em 25 de dezembro. A maioria da população é muçulmana e aqui não há Natal. Sendo sincero, estive a trabalhar nos últimos três Natais. O que é que o clube faz por mim? Compra-me um bolo e comemos todos juntos, mas não celebram”, contou.

O Abahani, recordista de troféus, com 11, defrontará Sheikh Russel KC e Uttar Baridhara no Grupo B, almejando consumar a 19.ª nona presença na final, marcada para 08 de janeiro de 2022, que antecederá o início do campeonato, no qual foi terceiro em 2021.

“A prioridade é a Liga, que não vencemos desde 2017/18. A Taça da Federação também tem muita importância, porque o vencedor passará a ter acesso direto no próximo ano à AFC Cup, que é como se fosse a Liga Europa da Ásia. Como fomos terceiros colocados na Liga, ainda vamos ter de disputar o ‘play-off’ para chegar à fase de grupos”, explicou.

Mário Lemos lembra que o maior clube do oitavo país mais populoso do mundo, com quase 167 milhões de pessoas, “investiu muito este ano e tem muita expectativa de ganhar troféus”, apesar de estar iminente uma reunião sobre o seu futuro na seleção.

“Gostaria de acumular funções, mas sei que é difícil, e senti um pouco isso recentemente. Já falei com o presidente da federação e precisava de uma ou duas equipas técnicas, porque é muito trabalho. Quero dar o melhor de mim e estar a 100% nos dois lados, mas vamos ver. Tenho contrato e responsabilidade com o Abahani, que quer ser campeão e começou bem a época. Há mais pressão e não querem que isto acabe já”, agregou.

Confiante num “acordo que seja bom para as três partes”, o técnico natural de Albufeira revê na federação um “certo interesse” em prolongar a experiência iniciada em novembro ao leme da 186.º seleção no ‘ranking’ da FIFA no Torneio das Quatro Nações.

“Como tivemos tão pouco tempo de preparação, o objetivo era ser competitivos nos três jogos e isso foi alcançado. Empatámos 1-1 com Seicheles, da Confederação Africana. Depois, ganhámos 2-1 às Maldivas, que o Bangladesh já não derrotava há 18 anos. Infelizmente, perdemos o último jogo frente ao anfitrião Sri Lanka, por 2-1”, rememorou.

Os ‘tigres de Bengala’ chegaram à derradeira jornada a precisar de um empate, mas “sentiram um pouco o ambiente eufórico e a pressão dos adeptos locais” em Colombo e consentiram a reviravolta com um tento de penálti durante o período de compensação.

“Fiquei satisfeito. Fizemos mais do que pretendíamos, mas, da maneira como as coisas aconteceram, ficámos um pouco aquém, porque dependíamos de nós para ir à final. Houve agrado, mas estávamos um bocado desiludidos. Chegar a uma decisão destas seria muito bom, porque há muito que esta seleção não alcança uma final”, enquadrou.

Bangladesh e Sri Lanka terminaram a ‘poule’ com quatro pontos e a mesma diferença de golos, mas os anfitriões marcaram mais golos (seis contra quatro) e rumaram ao jogo decisivo, que perderam com as Seicheles (1-3 nos penáltis, após 3-3 no prolongamento).

Eliminados do Mundial de 2022, após o quinto e último lugar no Grupo E da segunda ronda de qualificação asiática, os ‘tigres de Bengala’ ainda aguardam pela definição da terceira fase de acesso à Taça Asiática de 2023, na qual participaram apenas em 1980.