O treinador português Miguel Cardoso enalteceu hoje o "simbolismo" da retoma do campeonato ucraniano de futebol, considerando que "é uma demonstração de força e de nacionalismo" do país, perante a situação de guerra provocada pela Rússia.
O técnico luso, que durante cinco anos trabalhou na Ucrânia, pertencendo aos quadros do clube Shakhtar Donetsk, entre 2013 e 2017, não tem dúvidas que o regresso do futebol, mesmo em condições especiais, vai dar “alegria e motivação ao povo ucraniano”.
“Pelo que conheço do país, não tenho dúvida que a retoma do campeonato vai alegrar as pessoas, que vivem esta modalidade com muito intensidade, mas, sobretudo, mostrar a sua capacidade de resiliência perante uma guerra atroz. Será uma demonstração de força e de nacionalismos dos ucranianos”, partilhou Miguel Cardoso, em declarações à agência Lusa.
O treinador lembrou que o regresso do campeonato “foi um pedido expresso do presidente Volodymyr Zelensky à federação de futebol”, enaltecendo o esforço de todas as autoridades envolvidas para, “dentro de uma situação anormal encontrarem as condições anímicas para a realização de uma campeonato normal, que possa passar ao lado da guerra”.
“Também na Ucrânia o futebol é uma grande festa, e com uma rivalidade entre clubes bem mais saudável que em outros países. Por isso, esta é uma medida com grande simbolismo para a população, permitindo que possam pensar em outras coisas que não os problemas económicos e sociais que o conflito bélico trouxe ao país”, analisou.
Miguel Cardoso reconheceu que a situação do país, e a que os clubes não são alheios, poderá beliscar alguma da qualidade desportiva do campeonato, mas, por outro lado, também antecipa que poderá trazer “mais alguma paridade” a uma Liga que costuma ser dominada pelo Dínamo Kiev e pelo Shakhtar Donetsk.
“Equipas com jogadores mais velhos e experientes poderão aportar um nível de maturidade que, face ao atual contexto do país e das infraestruturas, podem trazer mais alguma paridade ao campeonato. Estou curioso, por exemplo, quanto à prestação do Zorya e do Vorskla Poltava, embora o nível de qualidade dos planteis de Dínamo Kiev e Shakhtar Donetsk seja sempre maior”, partilhou.
Miguel Cardoso confessou “um orgulho pessoal” por ver que vários jogadores que foram orientados por si no período em que esteve no Shakhtar voltarem a competir, mas também mostrou alguma preocupação sobre o impacto da guerra no desenvolvimento de futebol ucraniano, sobretudo nos escalões jovens.
“Lembro-me que desde 2014, com a crise que o país viveu, o futebol jovem foi muito estimulado e a seleção principal beneficiou muito disso. Não sei se agora, perante a situação atual, o investimento na formação continuará a ser feito como dantes, e se há condições para os campeonatos jovens acontecerem. Isso pode ter impacto na próxima geração de futebolistas ucranianos”, concluiu o treinador português.
O campeonato ucraniano de futebol foi hoje retomado, depois de meio ano suspenso devido à guerra, com o jogo entre Shakhtar Donetsk e Metalist, em Kiev, sem público, mas com a presença de Zelensky.
Um soldado do batalhão Azov, ferido em combate, deu o pontapé de saída simbólico da edição 2022/23 da competição, cujos jogos vão decorrer sobretudo na capital Kiev e na zona oeste do país, para evitar as regiões de guerra, à porta fechada e sob fortes medidas de segurança.
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