O novo quadro regulamentar aprovado pela UEFA, que limita os gastos com salários, transferências e taxas de empresários a 70% das receitas dos clubes, terá grande impacto no futebol português a médio prazo, segundo o economista António Samagaio.
Em declarações à agência Lusa, o economista refere que os Regulamentos de Licenciamento de Clubes e Sustentabilidade Financeira vêm “dar condições para que o próprio negócio permita que os clubes sejam auto-sustentáveis".
“A médio prazo vai ter um grande impacto no futebol português e no futebol europeu. A própria UEFA tem isso em mente. Eles próprios falam que mudaram o termo para a sustentabilidade. Deixaram de usar o termo ‘fair-play' financeiro, para usar a designação de sustentabilidade, criar condições para que o próprio negócio permita que o clube seja auto-sustentável e não esteja dependente destes mecanismos artificiais que o futebol tem vivido, que é a injeção de dinheiro dos chamados magnatas”, começou por dizer António Samagaio à agência Lusa.
O novo quadro regulamentar entra em vigor em 01 de junho de 2022, mas será aplicado de forma gradual, ao longo de três anos, permitindo aos clubes ter tempo para se adaptarem, sendo que, no caso dos clubes portugueses que participam nas provas da UEFA, António Samagaio explica o “desafio” que os lusos terão pela frente.
“Do meu ponto de vista, vai, de certa forma, forçar ou incentivar uma aposta cada vez maior do desenvolvimento do talento, para efeitos de prospeção de jogadores. Ao colocarmos no numerador os salários, mas também o valor das transferências, aquilo que se investe na aquisição de passes de jogadores, podendo ficar refém do volume de negócios que o clube está a ter, é obvio que se vai não conseguir gerar volume de negócios. Automaticamente, ficam limitados quer em termos daquilo que se pode gastar em salários de jogadores e treinadores quer naquilo que se pode investir na aquisição de novos jogadores”, elucidou.
Por outro lado, de acordo com o especialista, existem “três grandes vias para os clubes lusos crescerem na receita, de forma a aumentarem a despesa e o investimento em novos jogadores”, uma vez que a “bilhética é bastante limitada, assim como a questão de patrocínios num mercado luso relativamente pequeno”.
“Até que ponto esta centralização dos direitos televisivos de que se fala vai permitir aos clubes aumentar de uma forma significativa o valor que tem vindo a receber. Depois, ter um bom desempenho nas competições europeias, porque os prémios da UEFA cada vez são mais atrativos, sobretudo ao nível da ‘Champions League’. Por último, a necessidade de desenvolver jogadores para gerar mais valias e, assim, conseguir aumentar a receita”, perspetivou.
Caso os clubes não consigam aumentar receitas “ao nível do numerador, face às despesas de jogadores”, o economista não vê outra opção que não seja a de optar pela “contenção dos gastos, no que diz respeito a salários e comissões que se pagam a agentes”.
Comentários