O futebolista Pedro Correia, natural de Mem Martins, chegou ao Qatar em 2010, para jogar no Al-Ahli, e estreou-se pela seleção asiática em 2016, assumindo à Lusa que o Mundial de 2022 é um objetivo.

Atualmente a representar o Al Sadd, treinado por Jesualdo Ferreira e com os espanhóis Xavi e Gabi como colegas de balneário, o defesa central e médio, conhecido no futebol como ‘Ró-Ró’, está no país que daqui a quatro anos recebe o campeonato do Mundo.

Trabalhar com Jesualdo Ferreira tem sido “uma experiência fantástica” e Correia confessa ter “aprendido bastante”, como todos os jogadores do plantel, e só tem de “agradecer” pelo que o técnico luso lhe ensinou, deixando também elogios rasgados ao espanhol Xavi, uma ‘lenda’ do FC Barcelona.

“Toda a gente me pergunta sobre o Xavi. Não há palavras. É o sonho de qualquer jogador. Como jogador, como pessoa, é um tipo 10 mil estrelas. A idade não passa por ele, com a qualidade que tem, também como capitão ao nível do balneário”, contou.

Muito antes de chegar à Ásia, Correia somou passagens por Aljustrelense, último clube em Portugal, mas também Farense ou Estoril Praia, sendo que conta com vários anos de formação no Benfica.

Sente-se “cabo verdiano, português e do Qatar”, e garante que não vai “esquecer as raízes”, algo que se pode comprovar pelas viagens frequentes a Lisboa, em que cresceu num bairro em Mem Martins, visitando e tentando apoiar a comunidade mais jovem.

“Tento que abram um pouco os olhos. Vou lá, ainda tenho família que vive no bairro, e estou com os miúdos, jogo à bola com eles, partilho a minha experiência à volta de um churrasco. A melhor coisa é falar com eles para tentar que saiam de vidas más e venham para um caminho melhor, e não desistam dos sonhos”, explicou.

O filho, um “esquerdino” de um ano e meio que já treina para seguir as pisadas do progenitor, nasceu em Portugal, durante umas férias, e vive com o pai, assim como a mulher, sendo que a família visita frequentemente um país onde já se sente “em casa”.

A adaptação é “muito fácil, porque as pessoas são abertas e gostam de ajudar”, e o “respeito, humildade e trabalho” são valores fundamentais na sociedade qatari, uma das razões pelas quais Correia encoraja “jogadores que não tenham oportunidades em Portugal” a arriscar.

“Se trabalhas bem e fazes bons campeonatos, vais abrir os olhos dos clubes grandes, aqui e fora, como na China ou na Arábia Saudita. (...) E os salários são muito superiores à realidade de muitos clubes portugueses”, apontou ‘Ró-Ró’, que já fala árabe, principalmente quando está “chateado” e lança “alguns palavrões para acordarem” dentro de campo.

Foi para o Qatar por convite de um empresário, para fazer testes ao lado “de quase 30 outros estrangeiros”, sendo que só podia ficar um. A escolha recaiu sobre o então português, que mais tarde foi para o Al Sadd, por recomendação do antigo ‘capitão’ do FC Barcelona.

“Já tinha jogado contra o Xavi, e soube há pouco tempo que ele tinha falado com os diretores para me irem buscar, porque ia ajudar bastante a equipa. Dois meses depois, já lá estava”, revela.

Apesar de ter encontrado um “futebol estranho” quando chegou, o país tem evoluído e há agora “muito bons jovens”, como na seleção, onde até é dos mais experientes.

Com 30 internacionalizações desde 2016, o Mundial de 2022 é um “sonho a alcançar”, e para isso quer continuar “a trabalhar, jogar bem, treinar bem”, sendo que antes há ainda a Taça da Ásia, em janeiro de 2019, um “objetivo muito grande”.

“Temos a consciência que tivemos uma boa campanha até aqui. Esta prova vai abrir portas para vários jogadores, e é importante que as pessoas coloquem os olhos em nós, como conseguimos ao vencer a Suíça (1-0) e empatar com a Islândia (2-2). Temos de continuar a expandir o futebol aqui, e queremos ganhar a Taça. Temos bons jogadores e um bom treinador”, analisa.

Com 28 anos, o defesa não pensa em sair do Qatar e do Al Sadd, um clube em que se sente bem, mas não fecha a porta a “uma experiência por empréstimo num clube da Europa que valha a pena”.

“Estou feliz aqui, e a minha família também, num clube que gosto. Não me passa pela cabeça, mas nunca se sabe o dia de amanhã. (...) Vim de um bairro pobre, sem as oportunidades que os outros têm, perdi a minha mãe cedo, e safei-me. Fechei os olhos e arrisquei pelo sonho, e consegui”, rematou.