A árbitra de futebol e docente Sandra Santos vai receber 15 mil euros da UEFA para expandir um estudo científico realizado sobre a incidência e prevenção de lesões, experiência e prolongamento de carreiras na arbitragem feminina.
“Pelo que recolhemos do estado da arte e da revisão da literatura, percebemos que há pouca investigação neste âmbito, daí que a UEFA tenha achado interessante financiar este estudo. Iremos investigar se o número de lesões e a sua gravidade condiciona a motivação das árbitras de futebol e tem influência no desenvolvimento sustentável desta carreira, que ainda está um pouco fragilizada”, explicou à agência Lusa a investigadora.
Recomendado pela Portugal Football School, unidade de investigação e formação da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o projeto foi um dos cinco eleitos do organismo regulador do futebol europeu, entre 44 propostas, para ser beneficiado com uma bolsa.
“Obviamente, ainda vamos ter uma pequena reunião com a UEFA para ajustar alguns pormenores, mas tentaremos extrair os resultados mais fidedignos e positivos para o desenvolvimento da carreira da árbitra portuguesa”, afiançou Sandra Santos, professora na Escola Superior de Desporto e Lazer do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
O financiamento vai ser disponibilizado ao abrigo do UEFA Research Grant Programme 2022/23, que é estimulado junto das instituições de ensino superior dos países-membros da UEFA e visa o desenvolvimento de investigação científica para a melhoria do futebol.
“A recolha de dados junto das árbitras portuguesas será realizada em meados de julho e agosto, dependendo um pouco da calendarização das provas físicas. Depois, vamos ter também uma recolha de informação em Espanha, entre o final de dezembro e o início de janeiro, até porque este estudo também tenta tocar na vertente internacional”, explanou.
Sandra Santos é a terceira portuguesa a receber este apoio, após André Seabra, diretor da Portugal Football School, que abordou os benefícios do futebol na saúde, em 2016, e Mário Borges, focado nas migrações dos treinadores e barreiras interculturais, em 2017.
“Queremos levar este projeto aos adolescentes que olham de forma muito redundante para a arbitragem, que poderá vir a ser uma mais-valia e uma extensão das suas vidas profissionais, tal como fiz. As minhas duas profissões estão em simbiose. Uma ajuda a outra e isso pode ser uma opção para futuros adolescentes e adultos”, notou a árbitra.
O estudo da juíza da associação do Porto vai contrabalançar uma incidência académica “maioritariamente focada” nas lesões no género masculino, ainda que funcione apenas como “pontapé de saída para que mais investigadores e pessoas do setor possam sentir inquietação em melhorar o futebol feminino e, principalmente, a arbitragem nacional”.
“A mulher é mais propensa a lesões, devido às alterações hormonais. Contudo, há picos específicos quando sofre algumas incidências lesivas. Apesar de se lesionar menos, até porque é muito mais cautelosa a nível de desenvolvimento e carga física, temos vindo a notar que as mulheres têm lesões mais severas comparativamente aos homens”, frisou.
Sandra Santos, de 36 anos, dirige jogos desde 2009 e entrou nos quadros da FPF três anos depois, sendo promovida a árbitra assistente internacional em 2018, antes de se voltar a aplicar, em exclusivo, nas competições nacionais e na investigação académica.
“Não somos profissionais e temos de abdicar na nossa profissão para participarmos em torneios internacionais. Passamos imenso tempo fora do país e não é qualquer entidade patronal que acolhe essa situação da melhor maneira possível. Um funcionário que se ausente sensivelmente 90 dias durante o ano não é aceite da mesma maneira do que outro super presente na realização de tarefas. Temos de tomar uma opção”, concluiu.
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