Joan Laporta, presidente do Barcelona, deu uma conferência de imprensa para explicar a situação financeira do clube. De recordar que o Barcelona não conseguiu renovar com Messi e deixou o argentino sair para o PSG a custo zero porque não tinha como pagar-lhe o salário, apesar de Messi ter feito um corte de 50 por cento.
A dívida total do Barcelona é de 1350 milhões de euros: 617 ME é dívida bancária, 389 ME a jogadores, 56 ME referentes a compromissos já assumidos na estrutura do clube (Espai Barça), 90 ME em litígios, 40 ME em subscrições que não se cobraram e 79 ME em direitos de TV já avançados.
Crédito urgente para pagar salários: "Quero explicar a situação que encontrámos no clube e expor os números de forma a que todos entendam. A primeira coisa que tivemos de fazer foi pedir um crédito de 80 milhões de euros, porque sem ele não podíamos fazer frente à folha de pagamento."
Gastos com salários: "Os nossos salários representam 103% das receitas totais do clube. Mais 20 ou 25 do que os nossos concorrentes. Deparámo-nos com uma situação difícil para renegociar os contratos dos jogadores" especificou.
Camp Nou a precisar de obras: "Encontrámos uma política salarial errónea, que gera muitos prejuízos, em pirâmide invertida: os jovens com contratos curtos e os veteranos com vínculos longos. Precisámos também de fazer obras urgentes em Camp Nou porque encontrámos um relatório de 2019 que dizia haver perigo para o público. Custaram 1,1 milhões de euros. Graças a esta intervenção pudemos abrir ontem o estádio. Se tivesse havido um jogo antes não poderíamos abrir as portas, pois não íamos colocar os adeptos em risco."
Dívida do clube e impacto da COVID-19: "Temos perdas de 468 milhões de euros e já explicamos isso à La Liga. O impacto da COVID-19 foi de 91 milhões de euros. O Barcelona tem um património negativo de 491 milhões de euros. É uma situação muito delicada, fomos obrigados a trabalhar para mostrar aos nossos credores que o clube é viável. Temos um fundo de manobra negativo de 553 milhões. É a diferença entre o que devemos e o que nos devem. A dívida bancária cresceu, é mais de 600 milhões".
Juros altos: "Deparámo-nos com empréstimos com 9% de juros. Com o refinanciamento de 560 milhões de euros, a 1%, conseguimos assumir a situação."
Críticas a Bartomeu: "Recebi a carta de Bartomeu, ele quis torná-la público, respeito isso. Mas depois de a ler atentamente, digo-vos que está cheia de mentiras, com um esforço para justificar o injustificável. É um exercício de desespero, ponto por ponto, porque aproveita um momento de convulsão do barcelonismo. Não partilho as contas que ele fez. Dizem que não são responsáveis pelo exercício de 2020/21 e são responsáveis até março de 2021. As contas agora finalizadas são da sua responsabilidade. Já vimos isto no passado, repetem uma mentira. Estava institucionalizado no clube que se repetires uma mentira várias vezes, ela se converte em realidade. Bartomeu continua a insistir que deixei resultados negativos na minha gestão quando um tribunal concluiu o contrário".
Má gestão de Bartomeu: "Fizeram uns pagamentos desproporcionados a intermediários, não estou a falar de empresários. Uma contratação custou 40 milhões de euros e pagámos como prémio de compra 8 milhões e por venda 2 milhões. Pagava-se a uma pessoa 8 milhões de euros para detetar jogadores interessantes na América do Sul. São quantidades muito grandes e esta é uma forma imprópria de se atuar."
Acordo com Neymar: "Dizem que perdoámos 16,7 milhões de euros a Neymar. É mentira e recordo o dano causado ao Barcelona com o 'Caso Neymar'. Fizeram um acordo vergonhoso com a autoridade tribunária que condenou o Barcelona por delitos fiscais pela primeira vez na sua história. Em contrapartida, os senhores Bartomeu e Rosell ficaram livres de responsabilidades penais, enquanto o Barcelona pagou uma multa de 5,5 milhões. Encontramos quatro processos judiciais interpostos por Neymar: um, de 10,2 milhões de euros em que não se podia reclamar a verba porque o processo estava prescrito pela inação da direção de Bartomeu. Pensamos que o melhor era que as partes renunciassem a todas as pretensões. São 16,7 milhões de euros, a troco de 53,6 ME que Neymar renunciou. Creio que é um acordo positivo para o Barcelona".
Mais críticas a Bartomeu: "Bartomeu diz a propósito da proposta da LaLiga, com o CVC, que tornar-nos parceiros ter-nos-ia beneficiado, mas significava hipotecar direitos audiovisuais por 50 anos. Demonstra a estratégia de curto prazo da sua direção quando se trata de preencher lacunas a curto prazo e não olhar para o longo prazo. É assim que tem acontecido, a gestão foi desastrosa e também muito preocupante. Vamos sair dessa situação porque estamos a trabalhar para isso."
Salários altos: "Também é mentira que os salários tenham disparado para o Barcelona competir com os clubes-estado e com a Premier League, como refere Bartomeu na sua carta. Gastou-se de forma desproporcionada e, à velocidade da Luz, os 222 milhões da venda de Neymar. Tinha-se de inverter o modelo e apostar em La Masia (formação), fazendo investimentos mais cirúrgicos, com mais lógica desportiva".
Bartomeu em tribunal? "Seria muito precipitado dizer quais serão as ações legais que vamos interpor. O que é certo é que eles são os responsáveis desde que se demitiram até à saída da comissão de gestão. Ninguém escapará às suas responsabilidades."
Carta de Bartomeu: "Sempre que lia a carta de Bartomeu descobria uma nova mentira. No último parágrafo pede que se apuram as responsabilidades. Nós vamos procurar soluções. Mas é triste ver uma carta cheia de mentiras, com 8 pontos cheios de mentiras. O Bartomeu levou o clube a uma situação de ruína. Em setembro explicaremos as responsabilidades. Algumas já estão nos tribunais, como é o caso do Barçagate."
Jogadores a baixarem salários: "Estamos satisfeitos, resolvemos a situação com o Piqué, a quem agradeço a pré-disposição. Há jogadores que em alguns momentos não são apenas jogadores de futebol e no caso do Piqué trata-se uma pessoa que ama o Barça, viu que estamos numa situação difícil e fez algo que nem toda a gente faz, ou seja, reduziu o salário para que pudéssemos inscrever jogadores. Esperamos que outros capitães atuem nesta linha. As negociações estão a correr bem. Contactámos o empresário do Jordi Alba a 24 de maio e depois recebeu uma carta a 8 de julho. Entendo os jogadores, eles vêm de uma redução e depois pede-se outro esforço. Tanto o Jordi Alba como o Busquets e o Sérgio Roberto estão a portar-se muito bem e vamos chegar a acordo."
Saída de Messi: "A única coisa que tenho a dizer a Messi é que temos um agradecimento eterno para com ele. Foi uma história de amor entre o Messi e o Barça, uma relação de muitos anos que se foi deteriorando, mas é a lei da vida. Antecipámos o pós-Messi em dois anos. O que estava previsto eram dois anos... Ele é o melhor jogador do Mundo e tem as suas aspirações, como é normal, e tinha propostas, como se pôde ver, de clubes dispostos a pagar grandes quantias".
Ver Messi no PSG: "São sensações contraditórias. Eu preferia vê-lo no Barça, embora esteja convencido de que tomámos a decisão certa porque a instituição está acima de todos. A situação era dramática. Tenho a sensação de que fizemos o que devia ser feito. Desejamos-lhe o melhor e na apresentação vimo-lo feliz. Merece-o, tal como a sua família. Agora vamos ser rivais e temos de encarar isso. O que posso dizer é que fizemos tudo o que era possível, dentro das possibilidades económicas do clube."
Possível criação de uma SAD: "Tudo é dramático neste momento mas temos boas notícias. Há um plano estratégico sustentado na credibilidade e na experiência que temos. Acabámos de conseguir 560 milhões para reestruturar a dívida, com 1,9 por cento de juros, e isso é uma boa notícia. Temos 17 investidores interessados no Barça Studios. E temos cinco propostas para patrocínio principal. Por outro lado vejo a equipa motivada para mostrar a sua mais-valia, a direção também está. O Barcelona tem de ser propriedade dos sócios e sempre o será."
Ataque ao mercado: "Com a regra do 1-4, se arrecadarmos 100 milhões, só teremos 25 para reforços. Neste momento vejo o plantel motivado, o Koeman está feliz e está vendo com que jogadores contar ou não. O mercado fecha no dia 31 de agosto, agora com o acordo com a CVC haverá equipas que terão mais massa salarial. Tem de haver saídas para haver entradas de jogadores".
Saída de jogadores: "O objetivo de reduzir 200 milhões de euros em salários mudou com a saída de Messi. Vamos apostar na formação, o que nos permitirá entrar no modelo que queremos. Não planeamos vender jogadores com alto valor de mercado, a não ser que não entrem nos planos da direção desportiva."
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