Falar da última época da La Liga não é só falar do campeão, mas também da equipa sensação. O Granada, na altura recém-promovido, alcançou um incrível sétimo lugar, tendo inclusive batido o Barcelona no início da época. A campanha de 2019/2020 trouxe frutos em 2020/2021 e garantiu a primeira presença da história rojiblanca nas competições europeias, com a equipa de Rui Silva, João Costa e Domingos Duarte a marcar presença na fase de grupos da Liga Europa depois de ultrapassar a 2.ª e 3.ª pré-eliminatória e o playoff.

Mas para chegar a este patamar, muito trabalho foi feito nos bastidores do clube. Numa conversa com vários jornalistas internacionais promovida pela La Liga, na qual o SAPO Desporto esteve presente, o Diretor Geral do Granada, Antonio Fernandez Monterrubio, recordou o estado em que encontrou o clube há três épocas, quando chegou ao Granada.

“Foram tempos difíceis, mas muito gratificantes. O clube era muito diferente, tinha acabado de descer de divisão. Começámos a trabalhar porque era claro que as coisas tinham de mudar, não podiam continuar daquela forma. O primeiro passo foi fazer uma análise da realidade, da situação em que estava o clube: vimos que faltava identidade ao clube, que não se identificava com a cidade e com a província. Não havia um caminho a seguir. (…). Mas agora orientamos as coisas, essa foi a primeira parte. Agora começamos a ter um plantel, queremos criar uma identidade”, disse.

Com uma identidade renovada, o Granada continua a crescer e a criar um grande plantel. Os valores do clube entranham-se nos jogadores e Soldado não foi exceção.

"Desde o primeiro dia que senti uma química especial com os valores do clube. Sei que aqui há uma eterna luta, um grande sacrifício, um compromisso que existe em todos nós e que é fundamental para que o clube tenha êxito", disse.

A primeira presença da história dos Rojiblancos na Liga Europa chegou uma época depois do regresso à La Liga, depois de dois anos na Segunda Divisão Espanhola. Um apuramento que ainda assim, Monterrubio não considera que chegou demasiado cedo, mas sim graças a uma grande equipa. Apesar da Liga Europa ter obrigado a uma rápida adaptação do clube às exigências da UEFA, o Diretor Geral do Granada considera que a mesma decorreu de forma positiva, apesar do reduzido número de pessoal no clube.

"[A Europa] chegou porque trabalhamos muito, porque temos jogadores com um compromisso impressionante. Tivemos de correr, porque eramos novatos na Europa. Tivemos de nos adaptar aos protocolos da UEFA, porque não tínhamos experiência com eles. O Roberto teve essa experiência, jogou nas competições europeias, mas era novo para nós. Penso que conseguimos fazer as coisas de forma satisfatória, principalmente durantes estes tempos de COVID, que tornaram o dia-a-dia mais difícil. (…). Não somos muitos no Granada, mas adaptamo-nos bem, trabalhamos muito. (…) Ainda antes de entrarmos na fase de grupos já nos estávamos a preparar. Penso que fizemos um trabalho razoável, que foi eficiente com os recursos que tínhamos e se adaptou à situação”, recordou.

Apesar da primeira presença europeia, o principal objetivo do Granada continua a ser a manutenção da La Liga, de forma a permitir a sustentabilidade e não hipotecar o crescimento futuro do clube. Para além dos objetivos desportivos, o emblema espanhol quer ainda internacionalizar-se e dar-se a conhecer a novos públicos, tarefa na qual a Liga Europa poderá ajudar.

“Queremos continuar a crescer na digitalização do clube, nas instalações desportivas. (…). Queremos aproveitar ao máximo a Liga Europa para nos tornarmos mais internacionais, para que nos conheçam fora de Espanha, principalmente na China, mas não deixamos nenhum mercado de fora”, explicou o Diretor-Geral do Granada.

Roberto Soldado realçou a prioridade do clube na manutenção na La Liga, numa época que se prevê complicada com o Granada em várias frentes. Ainda assim, o capitão do clube não baixa os braços nas restantes competições e garante: o Granada está lá para competir.

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"Temos de ser realistas, está a ser uma temporada muito exigente. Temos três competições e este plantel não está habituado a jogar três partidas por semana, vai ser duro. Somos capazes, não tenho dúvida, temos confiança que vamos conseguir, mas temos de ter os pés no chão, saber que o nosso principal objetivo é a permanência, que é fundamental para o clube ser sustentável. (...). O resto, a Copa del Rey, a Liga Europa estamos lá, a lutar por elas, faremos o que pudermos, mas isto é um prémio para nós e temos de desfrutar ao máximo, veremos onde chegamos. Mas vamos competir, sem dúvidas", notou.

O Granada continua a escrever a sua história nas competições europeias: depois de terminar o grupo E da Liga Europa no segundo lugar a apenas um ponto do PSV, o clube espanhol marca presença nos dezasseis-avos de final, onde é uma das cinco equipas ibéricas em prova (Real Sociedad, Villarreal, Benfica e SC Braga), tendo encontro marcado com o Nápoles em fevereiro.

Questionado pelo SAPO Desporto sobre se as equipas ibéricas poderão voltar a conquistar a Liga Europa esta época depois de terem arrecadado sete títulos nos últimos 10 anos, o avançado ex-Tottenham considerou que existe qualidade nas equipas espanholas para poder almejar ao título da competição, mas realçou também o investimento realizado pelo Benfica no último mercado de verão.

“Oxalá [que uma equipa ibérica vença]! Se não formos nós que seja outra [ibérica]. A verdade é que as equipas espanholas têm grandes planteis. Temos três equipas e tivemos o Sevilha que é uma máquina a ganhar esta competição. Os clubes da Península Ibérica têm ganho muitos títulos e nós estamos na competição, vamos fazer o que pudermos. O Benfica também está, tem uma grande equipa, lembro-me que no passado foram eles que me eliminaram da Liga Europa [oitavos de final 2013/2014 vs. Tottenham (5-3)]. Reforçaram-se muito bem esta temporada e tem um grande plantel por isso também são candidatos”, disse.