É sempre uma incógnita. O triunfo convincente na última partida diante do Santa Clara, a primeira de Bruno Lage no lugar do escorraçado Roger Schmidt, soprou as pesadas nuvens responsáveis pela intempérie gerada pela meteorologia alemã. Mas a incógnita sobre se a nova aura será para durar, manter-se á por mais uns tempos, independentemente do que aconteça em Belgrado. Para já, reconheça-se, os sinais são positivos. Dentro e fora do campo.

O Benfica até começou a perder, mas tal como aconteceu na estreia de Lage na primeira passagem pela equipa principal das águias, a equipa não acusou o golo sofrido e reergueu-se, escapando-se com astúcia ao buraco fundo que parecia estar a formar-se aos seus pés. Terão contribuído para isso as mexidas do técnico benfiquista, que para além de trazer a palco novos protagonistas, deixou protagonistas antigos a brilhar nas zonas certas do palco. A plateia gostou. Outrora castigado, Kokçu passeou com elegância onde mais gostar de pôr os pés. E foi dos pés dele que o recém chegado Akturkoglu, seu compatriota, construiu uma ponte para as bancadas da Luz logo no primeiro dia de trabalho, ao pontapear a bola para dentro da baliza e a desgraça para bem longe dali.

Vencer e convencer era, nos últimos meses de Schmidt, um autêntico bico de obra. Duas semanas depois, a engenheira montada em tempo recorde por Lage parece aguentar-se bem de pé. Mas não é tácito que a a dúvida, a incerteza, a desconfiança tenham desaparecido do reino da águia. As nuvens afastaram-se, sim, mas o surgimento de um vento mais forte será pródigo em fazê-las regressar. O que vem depois da bonança? Mais logo já saberemos.

Bruno Lage no Benfica-Santa Clara, jogo que assinalou o regresso do técnico à Luz.
Bruno Lage no Benfica-Santa Clara, jogo que assinalou o regresso do técnico à Luz. Bruno Lage no Benfica-Santa Clara, jogo que assinalou o regresso do técnico à Luz. créditos: AFP or licensors

Momento de forma

Benfica

O momento que se crê de viragem com a saída de Schmidt e com a chegada de Bruno Lage ganhou forma depois da vitória no campeonato por 4-1 diante do Santa Clara, recém promovido à I Liga. Viu-se a felicidade estampada nos jogadores, o alívio dos adeptos e até do treinador.

Agora, do inferno da Luz para o de Belgrado, onde as águias encontrarão o Estrela Vermelha, agarrar a segunda vitória consecutiva assume-se como um objetivo absolutamente imperial. Não pela competição, já que o primeiro jogo nunca será decisivo para a continuidade na prova, mas poque urge criar uma dinâmica de triunfos capaz de oferecer estabilidade a uma equipa que tem corrido coxa e interrompido a marcha demasiadas vezes. E a maratona ainda agora começou.

Com duas baixas - Tiago Gouveia e Renato Sanches - a boa notícia para o plantel encarnado é mesmo a inclusão de Aursnes na convocatória. Apesar do norueguês não ter participado na última sessão de treino antes da partida para a Sérvia, tudo indica que estará recuperado fisicamente e às ordens de Lage, que não quis falar sobre onde poderá jogar o médio, que com Schmidt, não raras vezes, foi recambiado lá para trás. Ausente no último jogo, e assumindo que está fisicamente apto, será interessante perceber quem saltará do onze utilizado frente aos açorianos.

Estrela Vermelha

13 vezes campeão nacional (tetracampeão em título), com 9 Taças da Sérvia, vencedor de uma Taça dos Campeões Europeu (1990-1991) e detentor de uma Taça Intercontinental (1991). A história do maior clube da sérvia fala por si. O Estrela que o Benfica vai encontrar está longe de acompanhar o palmarés do clube, mas desengane-se quem pensa que as águias vão encontrar um adversário fácil. Não vão. O valor estimado dos plantéis dá clara vantagem ao Benfica (72 milhões dos sérvios contra os 329 milhões da equipa portuguesa), mas a jogar em casa o Estrela Vermelha agarra-se ao que tem de melhor: o estádio e os seus fervorosos adeptos.

Esta temporada, já com sete partidas disputadas na Superliga Sérvia, o Estrela Vermelha segue em primeiro lugar e a ainda sem perder. Soma 6 vitórias e 1 empate.

Luz ao fundo do túnel no gélido Marakanã

Marakanã. Foi em homenagem ao mítico estádio brasileiro que os adeptos do Estrela Vermelha batizaram o seu histórico recinto, outrora capaz de receber 100 mil pessoas. As semelhanças são, de facto, facilmente entendíveis.

O estádio é uma ode ao futebol de outros tempos, embora o fervor não seja o mesmo de algumas décadas. Mas há um pormenor delicioso que serve de cartão de visita a qualquer equipa adversária. Para chegar ao relvado do Rajko Mitic, o Benfica terá de passar por um longo túnel, pode dizer-se, bem diferente dos estádios modernos.

O percurso de cerca de 240 metros passa por baixo da bancada dos ultras do Estrela Vermelha, os Delije, que pateiam ao receber o adversário. Os balneários encontram-se fora do estádio e todos os adversários são obrigados a percorrer este túnel, num percurso de cerca de três minutos.

É verdade que a história do clube sérvio é mais gloriosa do que o presente, mas se a águia bem se pode orgulhar do seu inferno, uma coisa é certa: esta quinta-feira não terá, certamente, o paraíso à sua espera.

Túnel Rajko Mitic
Túnel Rajko Mitic Túnel Rajko Mitic créditos: AFP or licensors

Histórico de confrontos

Benfica e Estrela Vermelha só se encontraram em duas ocasiões. Foi em 1984, na primeira eliminatória da Taças dos Campeões Europeus. O primeiro jogo aconteceu em Belgrado, as águias perderam 3-2.

Dias depois, na velhinha Luz, a equipa encarnada virou a eliminatória com uma vitória por 2-0. Destaque para a presença no plantel do Benfica de nomes como Bento, Diamantino, Álvaro Magalhães, Carlos Manuel ou Shéu, orientados pelo húngaro Pál Csernai.

O que disseram os treinadores

Bruno Lage, treinador do Benfica: "Temos de direcionar a nossa atenção para o trabalho  e os jogadores têm essa experiência de saber o trabalho que têm de fazer. Temos de estar muito focados no que se passa no dia a dia, no treino, nas informações que passamos aos jogadores, o tempo de qualidade que passamos com eles, criando dinâmica e comportamentos. Frente ao Santa Clara, determinados comportamentos foram muito bons e um deles foi ver a equipa com uma ambição enorme de tentar fazer as coisas, de vencer. É isso que queremos prolongar no tempo."

Vladan Milojevic, treinador do Estrela Vermelha: "Com equipas grandes, estas situações são muito curtas e não fazem diferença. Veio um treinador que os conhece bem e, com ele, veio uma nova energia. Aprecio muito o ex-treinador Schmidt, do tempo do Leverkusen e da China. Deixou uma marca profunda no Benfica, mas o novo treinador também conhece o sistema. É preciso compreender que se trata de um clube que tem um sistema estabelecido há anos. Quando assim é, e quando funciona, as mudanças não causarão grandes problemas".

Arbitragem

O Comité de Arbitragem da UEFA nomeou o árbitro inglês Michael Oliver (39 anos), internacional desde 2012.

A equipa de arbitragem para o jogo é ainda composta por Stuart Burt e Dan Cook como árbitros assistentes e Tony Harrington na função de quarto árbitro. Stuart Attwell estará no papel de videoárbitro (VAR) e Jarred Gillett será o AVAR.