"O Benfica nunca mais será campeão europeu!", podia ler-se na edição do jornal A Bola de 7 de março de 1968. A frase em jeito de profecia atribuída a Béla Guttman faz esta quarta-feira 50 anos, e a verdade é que, desde então, o clube da Luz nunca mais conquistou títulos na Europa apesar de já ter marcado presença em várias finais.
A 7 de março de 1968, o jornal A Bola dava destaque a uma entrevista de Béla Guttman à revista austríaca 'Sport-Ilustrierte' em que o técnico húngaro, na altura a treinar o Panathinaikos, proferiu a polémica frase que se tornou numa 'espécie' de maldição no imaginário dos adeptos do Benfica.
Béla Guttman treinou o Benfica entre 1959 e 1962 e conquistou vários títulos pelos 'encarnados', nomeadamente duas Taças dos Clubes Campeões Europeus entre 1961 e 1962. O técnico magiar acabou por sair do Benfica em conflito com a direção encarnada e rumou ao Uruguai para treinar o Peñarol. Depois de uma breve passagem pela seleção da Áustria, Béla Guttman regressa ao Benfica em 1965 para substituir o romeno Elek Schwartz, mas no seu regresso a Lisboa o treinador húngaro desilude as expectativas e não consegue conquistar o ainda inédito 'tetracampeonato' (perdendo para o Sporting), para além de ser eliminado nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus pelo Manchester United com uma goleada por 1-5 na Luz.
Em 1968, o Benfica estava de novo na ribalta do futebol europeu e é nesse contexto que Béla Guttman fala da sua passagem pelo clube da Luz à revista austríaca 'Sport-Ilustrierte'. Nesse ano, o clube português alcança a final da Taça dos Campeões Europeus depois de eliminar clubes como o Saint-Étienne, os húngaros do Vasas SC, e os italianos da Juventus.
Na referida entrevista, Béla Guttman destacou o impacto do seu trabalho no crescimento do Benfica na Europa e considerou que foi mal tratado no clube da Luz, daí a frase: "O Benfica nunca mais será campeão europeu!".
"Quando fui para o Benfica, a equipa recebia 2500 dólares por cada jogo particular. Quando saí, deixei-a com um cachet de 250 mil dólares. Eu tornei o Benfica num clube milionário. Mas que ganhei eu com isso? A recompensa que recebi foi miserável. Como ninguém, nem eu, pensava ganhar o Campeonato Europeu, não exigi um prémio correspondente. Recebi, pela primeira Taça da Europa, menos de 2000 dólares que o prémio do Campeonato Nacional português", afirmou Béla Guttman à referida revista austríaca.
"[Pela segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus] recebi 14 mil dólares. Assim já foi melhor. Mas antes, já de há muito, tinha decidido sair. O Benfica tinha tido um comportamento ordinário. Quando fui de Nuremberga, ao serviço dos interesses do Benfica, a minha mulher, excepcionalmente, acompanhou-me. E os dirigentes do Benfica, clube que beneficiou de milhões com o meu trabalho, apressaram-se a apresentar-me, em Lisboa, metade da conta do hotel. Claro que eu a pagaria normalmente, mas o que me chocou foi a atitude grosseira deles em terem tanta pressa em apresentar-me uma conta de meia dúzia de dólares", acrescentou o técnico magiar.
A verdade é que nesse ano, o Benfica perde em Wembley a final da Taça dos Campeões Europeus com o Manchester United por 4-1. Bobby Charlton abriu o marcador no arranque da segunda parte, mas a 10 minutos do apito final Jaime Graça faz o empate a 1-1. No prolongamento, o Benfica poderia ter passado para a frente do marcador por Eusébio, mas acaba por sofrer três golos de 'rajada' e termina goleado por 4-1.
As palavras do técnico húngaro dois meses antes entram definitivamente no imaginário dos adeptos do Benfica, e nos anos seguintes acabam por ganhar uma força profética de 'maldição' nas finais da Taça UEFA de 1983 e nas finais da Taça dos Campeões Europeus de 1988 e 1990. Mais recentemente, o Benfica acabaria por perder mais duas finais europeias, na Liga Europa de 2013 e 2014, e até hoje a frase atribuída a Béla Guttman continua a ecoar no imaginário dos adeptos de futebol.
Apesar de todas as histórias em torno da tão aclamada 'Maldição de Béla Guttman', o Benfica decidiu homenagear o antigo treinador húngaro com uma estátua numa das entradas do Estádio da Luz onde se pode ver o ex-técnico magiar com as duas Taças dos Campeões Europeus.
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