No dia 19 de maio de 1984, o FC Porto jogava a sua primeira final europeia em Basileia. O adversário era a poderosa Juventus de Platini, Rossi e Boniek, comandada pelo tão bem conhecido Giovanni Trappatoni. Agora quase 37 depois, portugueses e italianos voltam a encontrar-se nas competições europeias.
A 'vecchia signora' mais rodada nesses palcos acabou por se impor por 2-1, e de nada valeu o golo apontado por António Sousa no decorrer da primeira parte. Eduardo Luís foi um dos jogadores titulares entre os 11 portugueses que foram lançados pelo técnico António Morais, a render o malogrado José Maria Pedroto que já se encontrava num estado de saúde débil. Uma época diferente, com condições diferentes mas numa final em que no entender do antigo jogador do FC Porto só poderia ter havido um vencedor.
"Estamos a falar de há 37 anos em que as condições de trabalho eram diferentes. Jogávamos muitas vezes com o relvado encharcado com lama, areia, o nosso futebol era prejudicado, porque jogávamos bem, de pé para pé, mas sofremos muito porque jogávamos em pelado, a condições de balneário diferentes. Hoje é tudo diferente para melhor e ainda bem, mas o que existia eram um maior contacto com os adeptos, ficávamos todos no mesmo hotel. O FC Porto fez uma grande jogo frente à Juventus e foi a primeira final europeia do clube e dos jogadores também. Uma experiência inesquecível, num ambiente fantástico também. Um estádio pequenino, com mais italianos e nós jogámos de uma forma desinibida. No final do jogo sentimos alguma tristeza por perdermos e não termos levado de vencida uma das melhores equipas do mundo e pelo que fizemos merecíamos a vitória", recorda.
"Um dia inesquecível" em que 'Mestre Pedroto', apesar da ausência, nunca saiu da memória dos jogadores. "A equipa era muito unida, fruto do trabalho da equipa técnica. Foi pena ele não estar [Pedroto] porque seria a sua primeira final europeia mas esteve em pensamento e não foi por aí que não trouxemos a vitória. Foi de facto inesquecível esse dia", lembra.
A final frente à Juventus foi uma espécie de cartão de visita dos dragões à Europa do futebol. Na altura, o azuis e brancos eram um conjunto pouco conhecido que enfrentava uma equipa que tinha vários campeões do mundo de 1982 nos seus quadros. Acabou por ser nesse jogo que os portistas começaram por construir as bases para a conquista da Taça dos Campeões em 1987.
"Nós não éramos muito conhecidos na altura, era a nossa primeira final europeia contra uma das melhores equipas do mundo. Íamos enfrentar uma equipa em que a maior parte dos seus jogadores tinham sido Campeões do Mundo em 1982, nós não tínhamos nada a perder e tínhamos tudo a ganhar. O que fizemos nesse jogo foi que jogámos o que estávamos habituados a jogar e fizemos o que o mestre Pedroto nos tinha incutido. Fizemos um grande jogo e na segunda parte só não conseguimos virar o jogo porque fomos muito infelizes mas também mérito da equipa italiana que a defender estive muito forte", realça.
O jogo ficou ainda marcado por muita polémica devido ao trabalho do árbitro. O alemão Adolf Prokop esteve debaixo de fogo devido a algumas decisões que prejudicaram claramente o FC Porto. No final, o guardião Zé Beto não se conteve e confrontou um fiscal de linha, acabando mesmo por ser suspenso durante um ano das competições europeias.
"Não vou estar a especular se estaria comprado, mas prejudicou o FC Porto", começa por comentar o antigo central continuando. "Teve alguma influência no segundo golo da Juventus [Boniek faz falta sobre João Pinto nesse lance], mas no fundo mesmo que o arbitro não nos tivesse prejudicado tivemos vários oportunidades para marcar. Mas foi uma situação que fez com que o Zé Beto no final da partida partisse a bandeirola do fiscal de linha e tivesse levado um castigo de um ano. Se tivesse existido uma arbitragem mais isenta, talvez o resultado fosse diferente", afiança.
Épocas diferentes, jogadores diferentes e realidades distintas. Não é fácil estabelecermos paralelismos entre o FC Porto de 1984 e o de Sérgio Conceição. Na opinião de Eduardo Luís, a equipa portista, tal como a de 1984, tem condições para vencer os italianos.
"Este ano a Juventus não tem estado tão bem como em anos anteriores, mas não deixa de ser um grande equipa, com grandes jogadores que podem resolver, como são os casos do Morata e do Ronaldo e defende muito bem. O FC Porto tem passado por alguns problemas, tem tido alguma inconstância no seu rendimento. Com as lesões e castigos, o Sérgio Conceição tem tido alguma dificuldade para ter um onze que jogue mais assiduamente. A equipa tem feito muitos jogos e o aspeto físico poderá determinante. Eu penso que o FC Porto tem condições para fazer um bom resultado e um bom resultado é não perder. Se o FC Porto estiver inspirado até poderá vencer, isso se os jogadores estiverem inspirados", antecipa.
Questionado sobre uma possível mudança tática na equipa de Sérgio Conceição, Eduardo Luís prefere antes focar-se na dinâmica que a equipa poderá apresentar no embate frente à 'vecchia signora'. "Os treinadores têm as suas ideias, conhecem os jogadores e têm que conhecer os adversários para implementarem um bom sistema de jogo. Seja qual for o sistema, três defesas, quatro defesas, penso que no fundo o importante é que os jogadores estejam disponíveis mental e fisicamente para o jogo. É a dinâmica dos jogadores que transforma os sistemas de jogo. O FC Porto tem um modelo de jogo, agora o sistema pode mudar. O mais importante é a capacidade com que os jogadores vão estar.", analisa.
Com alguma inconstância nos últimos jogos, uma boa exibição frente aos 'bianconeri' poderá servir de tónico para o que aí vem, mas como dizia o antigo capitão João Pinto: 'Prognósticos só no fim do jogo'.
"O FC Porto tem perdido muitos pontos, há uma diferença pontual já muito grande no campeonato. A esperança de quem vem atrás depende do que fazem os que vão na frente. Se o FC Porto conseguir fazer um bom jogo e tiver um bom resultado vamos ver se consegue transportar o que fez para o campeonato", finaliza.
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