As contas eram simples, mas o jogo esteve longe de o ser. Uma entrada fulgurante fazia antever uma noite mais calma, mas não foi. É verdade que os dragões nunca estiveram em desvantagem, mas a persistência dos ucranianos chegou a provocar alguns calafrios no Dragão. Valeu a impetuosidade portista, que nunca baixou os braços ao leme de Galeno, que bisou na partida. O FC Porto mantém-se no maior palco do futebol mundial.

Numa noite de loucos com golos para todos os gostos, o FC Porto venceu o Shakhtar por 5-3. Os dragões encaixam mais 9,5 milhões de euros e garantem, pela 18.ª vez, um lugar entre as 16 melhores equipas da prova desde que existe a Liga dos Campeões.

O endiabrado Galeno e o golo que não parecia ser

Ainda contagiados pela euforia de uma enorme receção aos jogadores do FC Porto por parte das bancadas, foram muitos os que não viram o primeiro aviso deixado por Taremi, logo aos dois minutos. Riznyk defendeu para canto.

A crença dos adeptos parecia estender-se até à equipa azul e branca, que cinco minutos depois voltava a colocar em sentido a defesa ucraniana através de Eustáquio, após um passe falhado do guarda-redes ucraniano.

Sentia-se a superioridade dos dragões e pressentia-se o golo, que acabava mesmo por chegar com selo madrugador. Aos 9 minutos, após uma bola longa de Pepe a cair na área ucraniana, Evanilson recebeu com mestria chamando consigo dois defesas, para depois encontrar Galeno absolutamente esquecido, que de baliza escancarada só tinha mesmo de encostar. Estava feito o primeiro e o Dragão explodia de alegria, percebendo a importância de entrar no jogo a vencer.

Na frente do marcador, e sabendo que até o empate servia para seguir na prova, a matreirice portista foi serenando o jogo. Sem deixar de olhar para a baliza, a verticalidade dos primeiros minutos foi dissipando, apesar de nunca abdicarem daquela que é uma das imagens de marca da equipa portuguesa: a pressão alta.

Apesar disso, o Shakhtar também mantinha a sua filosofia de jogo e não abdicava de uma saída desde trás, construída a partir do guarda-redes, o que chegou a criar alguns calafrios ao banco do Shakhtar face à enorme pressão portista.

E quando tanto se fala do orgulho ferido da equipa ucraniana, que pelas razões que todos conhecemos extravasa o plano desportivo, a equipa orientada por Marino Pusic dava uma prova de resistência, deixando o primeiro sinal de perigo já perto da meia-hora. Valeu a intervenção apertada de Diogo Costa, que atirou para canto o remate de Gocholeishvili.

O jogo parecia tranquilo para os da casa quando, minutos depois, golpe de teatro no Dragão sob um ruidoso coro de assobios. Num lance ofensivo do Shakhtar, os jogadores portistas param de correr pelo facto do fiscal de linha levantar a bandeirola de fora-de-jogo, mas a equipa ucraniana continua a jogada e... marca. Enorme protesto nas bancadas, o árbitro espera dois minutos pela ouvir a indicação do VAR e confirma mesmo golo apontado por Danylo Sikan.

Do banco do FC Porto não tardaram os protestos, que só acalmaram com uma catadupa de amarelos dirigidos a jogadores e a alguns elementos da comitiva.

Apercebendo-se do enorme nervosismo vindo das bancadas, o Shakhtar ganhava um novo ânimo e voltou mesmo à carga por Kryskiv­, para uma defesa segura de Diogo Costa, a encaixar.

O FC Porto tentava retomar a liderança do jogo e foi através de um contra-ataque de Galeno que voltou a aproximar-se da baliza ucraniana. Remate forte, mas muito desenquadrado com a baliza.

O lance empolgava os dragões, que aos poucos voltavam a assumir o jogo com mais confiança. Já perto do intervalo, para alívio dos quase 49 mil adeptos presentes, os portistas e voltou a marcar pelo suspeito do costume. Estava a ser o melhor da noite e depois do primeiro, fez o segundo. Jogada de insistência de Zaidu a encontrar Pepê, que entrega a ao extremo portista. Com um remate forte e colocado, Galeno sacudia a tensão que pairava no Dragão desde o estranho golo dos ucranianos e coloca o FC Porto de novo na frente do marcador.

Apesar da vantagem, a equipa de arbitragem romena, liderada por István Kovács, deixou o relvado rumo ao túnel sob uma vaia de protesto dos adeptos do FC Porto.

Ora marcas tu, ora marco eu

Conforme se previa, na segunda parte a vantagem trazida dos primeiros 45 minutos oferecia aos dragões uma tranquilidade maior para gerir o resultado. De resto, salvo raras situações de maior tormenta em ambas as balizas, a segunda parte só começou verdadeiramente aos 60 minutos com o terceiro golo do FC Porto. Erro de Sudakov, o passe para Gocholeishvili sai curto e Galeno antecipa-se ao adversário, arranca para a área e assiste Mehdi Taremi que já de ângulo apertado atira para o 3-1.

Depois dos calafrios com o golo sofrido na primeira parte, os dragões estavam já com pé e meio nos oitavos-de-final da Champions, mas ainda muito viria a acontecer.

Os ucranianos já nem se aproximavam da baliza de Diogo Costa e do outro lado era Taremi que, aos 70 minutos, voltava a tentar o golo. O remate saiu desajeitado com a bola a passar muito por cima.

A partida parecia controlada, mas num contra-ataque contra a corrente de jogo, o Shakhtar conseguiu mesmo reduzir. Lance confuso na área portista e Eustáquio, num momento infeliz, colocou a bola dentro da própria baliza.

O golo dos ucranianos parecia relançar o jogo, mas Pepe não deixou. Ainda nem três minutos tinham passado e o FC Porto voltava a segurar os dois golos de vantagem. Canto de Eustáquio, há um primeiro desvio de Galeno ao primeiro poste, a bola aterra nos pés de Pepe, que atira para dentro da baliza ucraniana. Enorme ovação para o capitão portista, que obrigava novamente o Shakhtar a fazer três golos para seguir em frente.

E por falar em ovação, logo de seguida foi precisamente o capitão portista a negar, por três ocasiões consecutivas, o terceiro golo do Shakhtar.

Sem tempo para respirar, foi já com Francisco Conceição em campo que, nem um minuto depois de entrar, o extremo apontou o quinto golo dos dragões e sentenciou (ainda mais) as aspirações ucranianas. Enorme festa no Dragão, que ainda viria a sofrer o terceiro golo do Shakhtar, já perto dos 90 minutos.

O resultado não voltava mais a mexer e o apito final fazia explodir de alegria os adeptos do FC Porto.

Numa noite com oito golos e alguns sustos, diga-se, apesar de tudo toleráveis, o FC Porto venceu e segue assim para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. É a 18.ª vez que os azuis e brancos estão entre os 16 melhores clubes da Europa em 27 presenças na prova. Na próxima segunda-feira há clássico em Alvalade, dia do sorteio dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.