José Pereira lidera desde 2013 a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), voltando a um cargo que já ocupara no passado. Em entrevista ao SAPO Desporto, o representante máximo da classe dos treinadores não esconde o orgulho pelo sucesso e pela globalização do técnico português no futebol mundial. E, no seu entender, nem a crise económica ‘arrefece’ o crescimento da classe.
SAPO Desporto – Portugal está representado por seis treinadores portugueses na Liga dos Campeões: Jorge Jesus, Marco Silva, André Villas-Boas, Paulo Sousa, Leonardo Jardim e José Mourinho. É um reflexo da qualidade dos treinadores portugueses?
José Pereira - Reflete, como é natural, a competência dos treinadores portugueses. Já não é o primeiro ano que isto acontece. Fomos também o segundo país mais representado no Campeonato do Mundo, o que atesta a qualidade dos treinadores. Infelizmente, por vezes, não são tão reconhecidos nas instituições nacionais. No entanto, lutaremos com determinação para que este estatuto se mantenha e que os nossos treinadores respondam aos desafios.
- É legítimo pensar que este número pode ainda crescer?
Temos de ser realistas. Penso que este já é um número extremamente significativo. As outras nações também têm qualidade, mas o objetivo passa por aumentar, tendo consciência que ser o primeiro da Europa na Liga dos Campeões representa algo de muito importante para o futebol português.
- Desde o aparecimento de José Mourinho a profissão de treinador tornou-se quase uma moda. Esse efeito ainda se sente?
Faz. Tivemos alguns treinadores antes no estrangeiro, mas veio depois o expoente máximo com José Mourinho, que se tornou o melhor do Mundo e que contribuiu para a expansão do nosso futebol. Não podemos esconder o seu contributo, mas houve outros antes que criaram alicerces para esse caminho.
- O crescimento do número de treinadores ditou também duas situações relativamente novas no quadro nacional: a emigração crescente e o desemprego. De que forma é que estas duas realidades moldam o treinador português?
Objetivamente, não temos razão de queixa de desemprego. Temos muitos treinadores no estrangeiro e as equipas técnicas estão devidamente constituídas de acordo com a regulação. Se há muitas equipas em Portugal, há muitos treinadores e há mais procura de formação académica e profissional. É claro que causa alguma instabilidade no desenvolvimento profissional de cada treinador, mas isso é a lei da vida. Os competentes serão sempre chamados. Os que não tem tantas oportunidades ou não estão devidamente preparados para elas terão menos sorte. Não se pode falar objetivamente em desemprego.
- O que diferencia um treinador português dos técnicos de outros países atualmente?
Independentemente do conhecimento e da aproximação que houve à universidade - que foi um grande contributo - há a qualidade intrínseca da imaginação e versatilidade, tanto no trabalho diário como na relação com os jogadores. Há o reconhecimento de uma boa relação com os jogadores e que faz com que se tornem reconhecidos internacionalmente.
- O crescimento da profissão de treinador em Portugal está para continuar?
Penso que sim, que esta expansão de treinadores portugueses está para continuar. Não prevejo que os outros países se aproximem de nós tão brevemente. Obviamente, eles farão tudo para contrariar esta tendência e nós tudo faremos para que ela se mantenha.
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