O capitão do Shakhtar Donetsk, adversário do jogo inaugural do FC Porto na Liga dos Campeões, na terça-feira, na Alemanha, considerou hoje que os futebolistas ucranianos têm igualmente um papel importante na defesa da pátria.

“Os nossos soldados lutam nas batalhas e nós lutamos na arena desportiva. Portanto, é esse o nosso dever como cidadãos da Ucrânia”, desabafou Taras Stepanenko.

Por isso, a estreia na ‘Champions’ frente aos ‘dragões’ faz parte do dever da sua equipa em representar a Ucrânia, mostrando, também no plano desportivo, a resiliência do seu país.

A esse propósito, Stepanenko revelou que, além das normais cartas dos fãs, os jogadores têm recebido muitas mensagens de soldados na frente de batalha, pelo que sentem uma responsabilidade ainda maior na sua missão em campo.

“Quando empatámos com a Inglaterra [jogo da seleção no dia 09 de setembro], recebi muitas mensagens dos soldados. Assistiram ao jogo no campo de batalha próximo à área onde agora a situação está mais difícil, quando tinham oportunidade para o fazer. Para eles é como uma libertação da situação atual”, contou.

Comparando as realidades na defesa da pátria, recordou que os desportistas “estão em boas condições, a jogar futebol” e expressou a sua admiração pelo facto de os soldados os apoiarem “em plena guerra”.

Deste modo, Stepanenko perspetiva “grandes emoções” quando, em Hamburgo, face à invasão da Rússia, o grupo subir ao relvado diante de dezenas de milhares de espetadores.

A questão do público nas bancadas ganha maior preponderância pelo facto de os jogos na Liga ucraniana, retomada em 2022, apesar do conflito, decorrerem em estádios vazios, em desafios que, por vezes, são interrompidos pelas sirenes que anunciam ataque aéreo.

Pela segunda época consecutiva, os jogos do Shakhtar são fora da Ucrânia - o ano passado na Polónia e este na Alemanha, país que também acolheu centenas de milhares de ucranianos que fugiram da guerra.

Apesar de, tecnicamente, jogar em casa, o Shakhtar Donetsk demorou mais tempo do que o FC Porto a chegar ao estádio, numa aventura “absolutamente difícil” de 10 horas: uma vez que os aeroportos estão fechados, a equipa foi de autocarro até à fronteira, onde passou cerca de três horas a cumprir com os trâmites legais, e, uma vez na Polónia, voou para Hamburgo.

“Nunca se sabe o que vai acontecer nas fronteiras. Mesmo no campeonato nacional, há muitas viagens envolvidas para jogos fora de casa. Atualmente, o normal é passarmos muitas horas em autocarros”, acrescentou o treinador, Patrick van Leeuwen.

O Shakhtar já vive deslocado de Donetsk há quase 10 anos, desde que em 2014 a cidade passou a ser controlada por forças separatistas apoiadas pela Rússia, que assume a região como anexada.

O jogador considera mesmo que o clube, que tem jogado em Kiev ou Lviv, tem unido os ucranianos, tornando-se, pelo seu desempenho desportivo internacional, um símbolo do país no estrangeiro.

Ainda assim, permanece a ilusão de o Shakhtar voltar a Donetsk – “é o sonho do presidente e de todas as pessoas […], pois sabemos de onde viemos, qual é a nossa casa” -, um dos motivos, diz, para que o presidente não tenha construído um novo estádio numa outra cidade, uma vez que lhe sobram meios financeiros para o fazer.