Pablo Longoria está a viver um dos momentos mais complicados da carreira. O presidente do Marselha deu uma entrevista ao jornal 'La Provence', onde revelou que tem vindo a receber ameaças da fação mais radical dos adeptos do clube francês.

O espanhol de 37 anos negou ter pedido a demissão a Frank McCourt, proprietário do Marselha, como chegou a ser notícia em França.

"Não posso aceitar, não posso ouvir 'em Marselha é assim'. Na terça-feira, disse para mim próprio que, nas condições atuais, é impossível trabalhar. Não é normal que um dirigente de futebol seja ameaçado. Que nos critiquem, sim, é para isso que nos pagam. Mas ser ameaçado...", disse o dirigente.

O clima é tão tenso que levou mesmo a saída do treinador espanhol Marcelino García Toral, depois das ameaças dos adeptos do clube onde joga o português Vitinha. Em face dos últimos acontecimentos, Longoria foi afastado temporariamente das suas funções.

Na mesma entrevista, Pablo Longoria sublinhou que "nas condições atuais, é muito difícil ter um projeto e é impossível trabalhar", mas que continua com forças para continuar.

"Não apresentei a minha demissão a Frank McCourt. Apesar de tudo o que foi dito sobre mim, não sou uma pessoa que se preocupa com os seus interesses pessoais. Se estou envolvido em tudo isto, é porque sou o presidente do Marselha. Represento uma instituição. Possuo um mandato do proprietário e do conselho fiscal. Tenho de assumir as minhas responsabilidades, como sempre fiz", atirou.

Face as acusações de que estaria a apropriar-se de parte das verbas de transferências de jogadores, Pablo Longoria pediu uma auditoria às contas do Marselha

"Houve insinuações sobre a minha família, insinuações essas são baseadas em alarmismo. Decidi abrir uma auditoria, porque queria mostrar que não se passava nada. Apercebi-me de que a situação tinha ido longe demais. Dei todas as minhas contas bancárias, os meus números de telefone, os meus e-mails... Tudo. Descobriu-se que eu estava limpo. Dei tudo, até as conversas com a minha mãe...", garantiu.

A gravidade da situação está a mexer com o dirigente de 37 anos, a ponto de recorrer a um especialista para ajuda-lo a lidar com tudo.

"Tive de fazer acompanhamento psicológico porque, com os valores que tenho na vida, nunca imaginaria que poderia ter chegado tão longe. Essa história comoveu-me muito. Problemas psicológicos... Não tive a minha mãe durante dois anos por causa de um problema psicológico. E as pessoas fazem isso para me tentar matar? Até investigaram a minha família! A minha família tem de passar por isto?", questionou o dirigente máximo dos 'les phocéens'.

Na quarta-feira o Marselha emitiu um comunicado onde dava conta da saída do técnico Marcelino Toral após somente sete jogos oficiais, vítima da pressão dos adeptos do clube francês sobre o presidente e a sua família diretiva.

"Consideramos que os acontecimentos de 18 de setembro não permitem que Marcelino e a sua equipa técnica exerçam em boas condições a função para a qual foram contratados. Como resultado desta situação deplorável, não continuarão no clube. Estamos dececionados por ter de enfrentar, por motivos não desportivos, a saída de um treinador que só chegou a Marselha em 23 de junho", anunciou o emblema gaulês.

As claques do Marselha exigiram na segunda-feira a demissão do presidente Pablo Longoria e de três dos seus familiares, também espanhóis, que integram a direção, criando uma "situação deplorável" que tornou insustentável a continuidade do técnico.

O treinador, de 58 anos, já não viajou com a equipa para Amesterdão, onde esta quinta-feira o Marselha defronta o Ajax, para primeira jornada da fase de grupos da Liga Europa.

Marcelino Toral chegou já tarde a Marselha, facto que terá contribuído para não ter conseguido o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, afastado pelo Panathinaikos na terceira pré-eliminatória.

A ira dos adeptos contra o presidente espanhol virou-se igualmente contra o seu compatriota, que na experiência anterior tinha estado no Athletic Bilbau durante 18 meses.

Desde que em 2016 o norte-americano Frank McCourt comprou o clube, sucedem-se os treinadores no Marselha, nomeadamente o francês Rudi Garcia, o português André Villas-Boas, o argentino Jorge Sampaoli e Igor Tudor, além do interino Nasser Larguet.