A morte de um jovem de 17 anos, atingido a tiro pela polícia, provocou distúrbios num subúrbio de Paris na madrugada desta quarta-feira (28) e muitas críticas de políticos e celebridades, como o craque do futebol Kylian Mbappé e o ator Omar Sy.

A tragédia, que provocou o regresso do debate sobre a violência policial em França, aconteceu na manhã de terça-feira em Nanterre, na periferia oeste de Paris, durante uma abordagem policial ao jovem que dirigia um carro amarelo.

Um vídeo que circula nas redes sociais, verificado pela AFP, mostra o momento em que um dos agentes aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera com o veículo.

Na gravação é possível ouvir a frase, "Vais levar um tiro na cabeça", mas não está claro quem pronuncia as palavras.

A fuga do jovem terminou alguns metros depois, quando o seu carro bateu contra um poste. A vítima, Naël M., faleceu pouco depois, após ser atingido por um tiro no tórax.

O caso provocou vários atos de distúrbios em Nanterre na terça-feira à noite e durante a madrugada de quarta-feira, com o balanço de 31 detidos, 24 polícias levemente feridos e 40 carros incendiados, segundo as autoridades.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou a mobilização de 2.000 agentes durante a quarta-feira nos subúrbios oeste da capital francesa para evitar novos distúrbios.

- "Situação inaceitável" -

A morte de Naël M. provocou uma onda de indignação.

"A pena de morte não existe mais em França. Nenhum polícia tem o direito de matar, excepto em caso de legítima defesa", tuitou o político de esquerda Jean-Luc Mélenchon.

Além da oposição de esquerda ao presidente centrista Emmanuel Macron, estrelas do futebol e celebridades uniram-se às críticas e pediram uma "justiça digna", nas palavras do ator Omar Sy.

"Estou a sofrer pela minha França. Uma situação inaceitável", escreveu o avançado Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain (PSG), nas redes sociais, antes de enviar condolências à família de Naël, "um anjo que nos deixou muito cedo".

Jules Koundé, jogador do FC Barcelona, também reagiu contra o que chamou de "novo abuso policial" e apelidou a situação de "dramática".

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, afirmou na terça-feira na Assembleia Nacional (Câmara Baixa) que as imagens da operação são "muito impactantes", mas pediu que todos respeitem o "luto" dos familiares da vítima e a "presunção de inocência" dos polícias.

O agente de 38 anos suspeito de atirar contra o jovem está sob custódia da polícia.

A justiça abriu duas investigações: uma por homicídio doloso por parte de um funcionário público e outra pela recusa da vítima a obedecer ordens e tentativa de homicídio doloso contra funcionário.

Em novembro de 2020, Mbappé reagiu à agressão que o produtor musical negro Michel Zecler sofreu de polícias em Paris. Na ocasião, o atleta denunciou uma violência "inadmissível".

As forças de segurança em França são acusadas com frequência de abusos ou uso excessivo da força, como aconteceu durante os protestos recentes contra a reforma da Previdência.

Em maio, vários países expressaram preocupação na ONU com a violência policial e a discriminação racial em França.

A França registrou 13 mortes em 2022 durante incidentes similares ao de Naël em operações da polícia para controlar o trânsito.