Portugal precisou de 20 anos e um ‘milagre’ de Carlos Manuel para voltar ao Mundial de futebol, mas a segunda participação, em 1986, ‘desmoronou-se’ nos tristes acontecimentos que ficaram para a história como o ‘Caso Saltillo’.
A presença lusa foi um verdadeiro caos organizativo à margem das quatro linhas, face a um insanável conflito entre jogadores e uma impreparada Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que resultou, consumada a prematura eliminação, após a primeira fase, na suspensão dos 22 eleitos por dois anos.
As desavenças vieram a público quando os jogadores elaboraram um primeiro comunicado, reivindicando aumentos nas diárias e prémios de presenças, e participação nas receitas de publicidade, e, não tendo resposta, ameaçaram faltar a um particular, um, como outros, face a equipas locais sem o mínimo de qualidade.
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Face ao silêncio do presidente da FPF, Silva Resende, instalado na Cidade do México, os jogadores marcaram uma conferência de imprensa, para todo o Mundo, em que apresentaram publicamente as suas queixas, ainda que com ‘tréguas’, prometendo dedicar-se, em exclusivo, à preparação para a competição.
O ambiente não ficou, porém, desanuviado e foi em clima de permanente ‘guerrilha’ que a seleção lusa viveu no México, o que, juntamente com a forma como tudo foi mal preparado e as diversões extra futebol, redundou numa eliminação inevitável, apesar da categoria dos jogadores lusos.
Ainda assim, e após o ‘milagre’ de Estugarda, face à RFA (1-0), a fechar uma qualificação que esteve várias vezes ‘perdida’, Carlos Manuel voltou a marcar na estreia na fase final, face à Inglaterra (1-0), e o apuramento parecia muito perto.
Num grupo em que podiam passar três seleções, como veio a acontecer, Portugal ficou com ‘pé e meio’ nos ‘oitavos’, mas as coisas complicaram-se quando, num treino, o guarda-redes, líder e ‘capitão’ Bento se lesionou.
A equipa lusa acabou por perdeu por 1-0 com a Polónia (golo de Smolarek) e, a fechar, o selecionador José Torres, pressionado de fora, colocou o ‘miúdo’ Futre de início, ao lado de Gomes, sacrificando o ‘trinco’ André, a equipa perdeu consistência defensiva e caiu face a Marrocos por impensáveis 3-1.
Os africanos chegaram aos 26 minutos a vencer por 2-0 e ainda aumentaram para 3-0. Diamantino reduziu, aos 79 minutos, mas a eliminação estava decretada, bem como o final, na seleção, de um geração de grandes futebolistas, que, dois anos antes, tinham estado muito perto da final do Europeu.
Vinte anos depois do terceiro lugar em Inglaterra, Portugal perdeu, assim, uma excelente ocasião para voltar a brilhar, após um apuramento selado com uma vitória histórica, perante uma RFA que nunca havia perdido em casa na qualificação.
Num grupo complicado, a formação das ‘quinas’ até começou com o ‘pé direito’, ao vencer na Suécia (1-0) e receber e bater a Checoslováquia (2-1), só que, nos jogos seguintes, tropeçou em casa com os suecos (1-3), na RFA (1-2) e em Praga (0-1).
Depois, e em vez da goleada que precisava, Portugal só venceu Malta por 3-2 (golo de Gomes, a oito minutos do fim), pelo que passou a ser necessário vencer na RFA e esperar que, horas antes, a Suécia vencesse a Checoslováquia.
José Torres lançou, então, um “deixem-me sonhar" e, com uma equipa de ‘operários’ e muito defensiva, Portugal defendeu-se como pôde e concretizou o ‘milagre’, com um ‘golão’ de Carlos Manuel, aos 53 minutos, e Bento a defender tudo, incluindo três bolas que desviou ‘com os olhos’ para os ‘ferros’.
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