O ex-árbitro Duarte Gomes considerou hoje que as arbitragens dos jogos do Mundial2022 de futebol do Qatar “globalmente estiveram um pouco aquém do que se esperava para o nível de exigência da competição, que deve ser o máximo”.

O antigo árbitro internacional português ressalva que “nem tudo foi mau” e “houve boas arbitragens”, mas, de uma forma geral, “estava à espera de mais”, atendendo ao nível de exigência da prova e à ajuda da tecnologia auxiliar usada (videoárbitro).

“A este nível, com 10 ou 11 árbitros envolvidos em várias funções, com tecnologia de ponta, que representa um investimento de milhões, e com o nível que se exige aos árbitros, em termos de experiência e competência, esperava muito mais”, disse Duarte Gomes à agência Lusa.

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Uma das razões apontadas por Duarte Gomes para o nível apresentado no Qatar reside no facto de os árbitros não serem escolhidos por “meritocracia pura”, mas sim “por serem competentes nas respetivas confederações, que têm um número por quotas para preencher”.

“Era expectável que aqueles que têm menos experiência competitiva nas suas ligas domésticas, ou seja, os que estão menos habituados a jogos de altíssimo nível como são estes [do Mundial], pudessem sucumbir com maior facilidade à exigência dos jogos e ao mediatismo”, refere Duarte Gomes.

O ex-árbitro aponta que, “com todo o respeito pela sua qualidade e seriedade”, estiverem no Qatar representantes da Zâmbia, Namíbia, Peru, Nova Zelândia, China e Ruanda, “habituados nos seus campeonatos domésticos a jogos com um nível competitivo muito inferior ao que existe na Europa e na América do Sul”.

Duarte Gomes recorda que, da transição da fase de grupos para os jogos a eliminar, “foi mandada para casa uma seleção de árbitros por terem cometido erros que, com o escrutínio do VAR, são absolutamente inadmissíveis a este nível competitivo”.

O antigo internacional constatou ainda nas arbitragens do Mundial “alguma tolerância disciplinar que não é normal” e que parece ter sido assumida por todos os árbitros, embora sem saber se foi por recomendação da FIFA, embora creia que não.

Regra geral, refere Duarte Gomes, “havia uma indicação muito clara para proteger os talentos, nomeadamente de entradas mais duras, exibindo cartões aos infratores, porque o que interessava, e bem, era proteger a integridade física dos craques”.

“Neste campeonato, e o jogo entre a França e Marrocos foi disso exemplo, houve uma permissividade disciplinar que não é normal e isso deixou-me um bocado desiludido. Houve situações de jogo em que esses talentos não foram protegidos”, refere.

Em relação aos longos períodos de compensação verificados em alguns jogos, principalmente no decorrer da fase de grupos, como forma de combater os tempos mortos, Duarte Gomes está de acordo com a indicação dada pela FIFA aos árbitros.

“Sou favorável a esse tipo de abordagem, porque sabendo que há um conjunto de estratégias deliberadas para perder tempo e outras não deliberadas, como lesões e consulta de VAR, era importante que o jogo tivesse um número de minutos aproximado do que deve ter", afirma.

Para Duarte Gomes, “as equipas ao princípio estranharam e depois entranharam-se” e o facto de na segunda fase os tempos de compensação terem sido menores indica que, no ‘mata-mata’, queriam ganhar o jogo e não perder tempo”.

Duarte Gomes desvalorizou ainda o facto de o jogo entre Portugal e Marrocos ter sido arbitrado por um árbitro argentino, algo que foi contestado após a eliminação lusa, dado que a Argentina ainda se encontrava em prova, considerando que esse argumento “é desculpa de mau perdedor”.

“Não gosto de ver o meu país a recorrer a esse argumento e colocar em causa a competência do árbitro pela sua localização geográfica”, disse Duarte Gomes, lamentando que se desconfie da existência de uma vontade deliberada, da parte de quem dirige o jogo, para prejudicar uma seleção em benefício da do seu país.

O ex-árbitro recorda o percurso de Pedro Proença até à final do Campeonato da Europa de 2012 (Espanha-Itália, 4-0), numa altura em que a seleção portuguesa ainda se encontrava em prova, dado que caiu nas meias-finais, e que “ninguém colocou isso em causa”.

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