O antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) Gilberto Madail saudou a bem sucedida candidatura ibero-marroquina à organização do Mundial2030, sem a força do Euro2004 e com uma “divagação” sul-americana.

“Na altura, a nossa aposta, bem suportada pelo Governo, era uma aposta em Portugal. Claro, também era uma aposta no futebol português, mas fundamentalmente em Portugal. Agora, com estas divagações, que eu considero uma divagação haver jogos na América do Sul e na Europa, é diferente, já não podemos dizer que é o nosso Mundial, é diferente”, afirmou Gilberto Madail, em entrevista à agência Lusa.

A FIFA decidiu atribuir a organização do Campeonato do Mundo de futebol de 2030 a Portugal, Espanha e Marrocos, promovendo ainda a disputa de três jogos em Argentina, Paraguai e Uruguai, por forma a celebrar o centenário da competição, cuja primeira edição foi disputada em solo uruguaio.

Gilberto Madail esteve à frente da FPF entre 1996 e 2011, presidindo o organismo na candidatura ibérica ao Mundial2018, derrotada pela Rússia, em dezembro de 2010, já então aproveitando o legado do Euro2004, em estádios, centros de estágios e infraestruturas, que também liderou.

E, apesar de juntar a mágoa da derrota da candidatura ibérica ao Mundial2018 à da final dos Euro2004, Madail recorda que valeu a pena: “Naturalmente, o resultado desportivo não foi o que queríamos, mas o resultado do impacto na sociedade, do que foi o Euro2004, das festas e das recordações que ainda hoje as pessoas têm, acho que foi extremamente positivo”.

“Eu sempre pensei que, quando a candidatura de Portugal e Espanha foi apresentada, seria idêntica à que apresentámos, que frisava bem os valores de Portugal, de Espanha e da península. Desta forma é mais diverso, mais disperso, com Marrocos e com a América do Sul. Na minha perspetiva é uma decisão um bocado incompreensível, mas deve ser uma decisão para agradar a gregos e troianos, como é a forma de atuação da FIFA. Mas acho que foi bom para Portugal e para Espanha”, referiu.

Para o antecessor de Fernando Gomes na FPF, esta solução de praticamente juntar duas candidaturas numa só organização demonstra também a falta de investimento político neste projeto.

“Eu acho que não houve força política, nem força dentro das estruturas do futebol, como houve em 2004, para fazer valer a candidatura conjunta de Portugal e Espanha. Começou por ser Portugal e Espanha, depois, mais tarde, associou-se a Ucrânia, depois Marrocos, é uma candidatura um bocado híbrida e o resultado também é híbrido”, avaliou.

A solução hoje aprovada “não pensa nos adeptos”, segundo Gilberto Madail, recordando o “fracasso financeiro” do Euro2020, que foi disputado em 11 cidades de 11 países do continente europeu.

“Torneios destes, desta importância, devem ser concentrados, porque permitem aos adeptos muito mais opções e muito maiores receitas aos países organizadores”, defendeu.

Daí que, caso fosse responsável, desdenharia a organização tal como foi apresentada.

“Com a Espanha e com Marrocos sim, agora com Uruguai, Argentina ou mesmo a Ucrânia, nunca alinharia numa coisa dessas”, rematou.

Portugal, com os Estádios da Luz, do Dragão e José Alvalade, estreia-se em Mundiais, depois de ter recebido o Euro2004, a Espanha o Euro1964 e o Mundial1982, enquanto Marrocos acolheu a Taça das Nações Africanas (CAN) em 1988.

Esta vai ser a primeira vez que um Mundial será repartido por seis países. Uruguai, Argentina e Paraguai vão receber três jogos, como forma de “celebrar o centenário” da competição, cuja primeira edição decorreu em solo uruguaio, em 1930.