Árbitros que voltam atrás nas suas decisões, algumas jogadas revistas em vídeo e outras não, recorde de penáltis: o uso do VAR nas duas primeiras semanas do Campeonato do Mundo voltou a colocar o sistema de árbitro de vídeo no centro dos debates.

O VAR (sigla em inglês para video assistant referee) não reduziu as polémicas do futebol e o gesto de jogadores e técnicos que desenham um retângulo no ar a cada reclamação tornou-se uma das imagens da competição.

A última jornada do Grupo B, na segunda-feira, que viu os resultados modificados por completo em três minutos com o uso do vídeo árbitro, colocou ainda mais lenha na fogueira da polémica, com decisões nem sempre compreendidas pelos jogadores e pelos adeptos.

Decisivo no Grupo B

Nos últimos minutos da terceira jornada do Grupo B, Portugal vencia o Irão por 1-0 e estava em primeiro no grupo, o que faria com que a seleção portuguesa enfrentasse a Rússia nos oitavos de final.

Em alguns segundos, porém, tudo mudou. A Espanha empatou nos descontos frente a Marrocos (2-2) com um golo de Iago Aspas confirmado apenas após a consulta do VAR, já que o árbitro tinha assinalado fora de jogo ao avançado espanhol. E o Irão empatou o jogo contra Portugal com um penálti depois da bola ter batido na mão de Cédric Soares, também marcado após a verificaç\ao do vídeoárbitro. Com estes resultados, os portugueses caíram para segundo lugar e vão enfrentar o Uruguai nos oitavos.

Após as mudanças nas partidas disputadas em Kaliningrado e Saransk, as reações foram intensas: o avançado marroquino Nordin Amrabat virou-se para as câmaras e disse "o VAR é uma merda", ao mesmo tempo em que o técnico da seleção africana, Hervé Renard, admitiu que o golo de Aspas era válido, e o treinador do Irão, o português Carlos Queiroz, declarou que "o VAR não funciona". O defesa português José Fonte disse que "muitos não estão felizes, porque está a criar confusão".

As maiores críticas vieram de Queiroz, para quem a seleção do Irão foi prejudicada. Ele pediu um cartão vermelho por uma suposta cotovelada de Cristiano Ronaldo, mas após a consulta ao VAR o árbitro optou pelo cartão amarelo.

Mas a nova tecnologia também determinou um penálti a favor de Portugal, que Cristiano Ronaldo desperdiçou.

Queiroz reclamou dos critérios para o uso do VAR, pois os iranianos reclamaram de dois penáltis, mas árbitro paraguaio Enrique Cáceres optou por não conferir as imagens.

Quem toma as decisões?

"Tenho o direito de saber quem toma as decisões. Os árbitros em campo lavam as mãos como Pilatos, e os de cima (os vídeoárbitros) não querem tomar as decisões pelo árbitro", declarou após a partida.

O que Queiroz e muitos adeptos não entendem é quem decide quais jogadas serão revistas. No jogo em que o Brasil venceu a Costa Rica por 2-0, o árbitro voltou atrás e não marcou um penálti após rever as imagens.

Mas, nas partidas Suíça-Sérvia (2-1) e Alemanha-Suécia (2-1), sérvios e suecos reclamaram de penáltis sobre os avançados Aleksandar Mitrovic e Marcus Berg, mas os árbitros optaram por não rever as jogadas.

Também questionam a continuidade da partida após uma jogada polémica. O que acontece no caso de um facto decisivo, como um golo ou uma expulsão, enquanto o jogo prossegue e o VAR obriga o árbitro a retificar uma decisão que está na origem de sua decisão posterior?

O VAR, que faz sua estreia neste grande torneio, após anos de testes, ameaça virar o protagonista da competição. O torneio já bateu o recorde de penáltis marcados num Campeonato do Mundo, antes mesmo do fim da primeira fase.

A FIFA e os defensores do VAR alegam que o sistema vai impedir grandes erros de arbitragem, como o golo com a mão de Maradona na vitória de 2-1 da Argentina sobre a Inglaterra o Mundial do México em 1986.