A ideia de um "onze titular", que apenas é alterado mediante absoluta necessidade, foi durante muito tempo dominante no mundo do futebol. Ainda assim, e apesar das claras vantagens ao nível de coesão da equipa, a crescente exigência a nível físico do futebol moderno tem obrigado à ascensão de uma nova vaga de técnicos que privilegia a rotação constante do plantel.
Pelo que tem demonstrado nos primeiros tempos no futebol português, Julen Lopetegui é um claro exemplo desta abordagem. Em oito jogos oficiais disputados no comando do FC Porto, o técnico espanhol nunca manteve o mesmo onze em partidas consecutivas. Ao todo foram 20 jogadores lançados no onze inicial até ao momento, ou seja, cerca de 74% dos 27 jogadores no plantel. Convém mencionar, no entanto, que nestas contas não entra Helton, que enfrenta ainda um longo período de lesão.
Se formos mais abrangentes na análise e não nos limitarmos aos onzes iniciais, comprovamos que Lopetegui já utilizou 22 jogadores no arranque da temporada: 81,5% do plantel. Apenas o guarda-redes Ricardo, o lateral Opare (tem estado lesionado), os médios Campaña e Otávio e o avançado Kelvin ainda não entraram em campo nesta nova era portista.
Se compararmos estes números com os do próximo adversário de Lopetegui, a diferença em termos de estratégia é clara. Marco Silva lançou, até agora, 18 jogadores diferentes em onzes iniciais, ou seja, 64% de um plantel composto por 28 jogadores, se contarmos com o escocês Ryan Gauld, que tem atuado na equipa B mas já foi chamado ao plantel principal por diversas ocasiões.
É certo que o Sporting fez menos jogos oficiais (seis, contra oito do FC Porto), mas também é certo que estes números seriam provavelmente mais baixos não fossem os castigos de William Carvalho, cumprido no jogo com o Arouca, e de Jefferson, substituído por Jonathan Silva na última partida, frente ao Gil Vicente.
Em termos de jogadores utilizados em qualquer fase do jogo, o técnico do Sporting apostou em 21 atletas, sendo que apenas Tanaka, Paulo Oliveira e Carlos Mané foram lançados unicamente como suplentes. Menos um jogador, portanto, do que Julen Lopetegui, totalizando 75% do plantel. Os guarda-redes Marcelo Boeck e Luís Ribeiro, os defesas Rabia e André Geraldes, os médios Slavchev e Gauld e o avançado Shikabala, que foi alvo de um processo disciplinar, são os atletas que ainda não foram utilizados em jogos oficiais.
Mais ainda do que no campo da quantidade de jogadores lançados, a principal diferença entre os dois treinadores no plano da gestão do plantel prende-se com as alterações de jogo para jogo, com Julen Lopetegui a mexer no onze inicial em todos as partidas, com ou sem condicionantes físicas ou disciplinares.
O treinador espanhol fez uma média de 3,4 alterações por jogo, com o caso da receção ao Boavista a surgir como o jogo em que mais mexidas houve no onze inicial: seis alterações nos nomes, além da passagem de Brahimi, o "joker" de Lopetegui, para a frente de ataque.
Já no caso do Sporting as mudanças são visivelmente menos frequentes. Foram 1,8 alterações, em média, em cada partida. Mais uma vez convém lembrar que este número está visivelmente inflacionado pelos castigos de Jefferson e William, sendo ainda necessário ter em conta que a contratação mais mediática do defeso, Nani, só ficou fechada depois de decorrida a primeira jornada.
A época 2014/15 será mais longa do que o habitual para os clubes portugueses, muito por força do alargamento do campeonato, passando a haver 34 jornadas, contra as 30 que se verificavam até à última temporada. A isto é necessário acrescer as outras competições, que no caso de FC Porto e Sporting incluem presenças na Liga dos Campeões, que os técnicos esperam que venham a ser duradouras.
Torna-se, portanto, necessário encontrar a forma ideal de gerir os plantéis tendo em conta o elevado número de jogos e o menor tempo de descanso entre jornadas. Julen Lopetegui apostou numa rotatividade contínua dos onzes, mas a abordagem nem sempre correu bem: o resultado mais negativo até ao momento (empate a zero na receção ao Boavista) ocorreu na partida em que mais alterações foram feitas. Desta forma, falta agora saber se Lopetegui continuará a insistir na rotação radical dos jogadores titulares, em detrimento da aposta numa espinha dorsal consolidada.
Quanto ao Sporting de Marco Silva, as duas vitórias conquistadas no arranque da temporada verificaram-se nos jogos em que mais alterações foram feitas, indiciando uma maior necessidade de dar oportunidades a jogadores que têm vindo a ser preteridos. As mudanças deverão ter começado com João Mário, que fez uma exibição de grande nível na goleada frente ao Gil Vicente, mas podem não se ficar por aí.
Confira os jogadores utilizados por Julen Lopetegui e Marco Silva:
Julen Lopetegui (FC Porto)
FC Porto 2-0 Marítimo (primeiro jogo)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, Alex Sandro; Rúben Neves, Herrera, Óliver; Quaresma, Brahimi e Jackson.
Suplentes utilizados: Casemiro, Evandro e Tello.
Lille 0-1 FC Porto (uma alteração)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, Alex Sandro; Rúben Neves, Casemiro, Herrera; Óliver, Brahimi e Jackson.
Suplentes utilizados: Evandro, Quaresma e Tello.
P. Ferreira 0-1 FC Porto (quatro alterações)
Titulares: Fabiano; Ricardo Pereira, Indi, Maicon, Alex Sandro; Rúben Neves, Casemiro, Evandro; Adrián, Tello e Jackson.
Suplentes utilizados: Quintero, Óliver e Herrera.
FC Porto 2-0 Lille (quatro alterações)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, Alex Sandro; Casemiro, Rúben Neves, Herrera; Óliver, Brahimi e Jackson.
Suplentes utilizados: Reyes, Evandro e Ricardo Pereira.
FC Porto 3-0 Moreirense (três alterações)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, José Ángel; Casemiro, Óliver e Brahimi; Quaresma, Adrián e Jackson.
Suplentes utilizados: Rúben Neves, Quintero e Herrera.
V. Guimarães 1-1 FC Porto (três alterações)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, José Ángel; Casemiro, Rúben Neves, Herrera; Quintero, Brahimi e Jackson.
Suplentes utilizados: Evandro, Aboubakar e Tello.
FC Porto 6-0 BATE Borisov (três alterações)
Titulares: Fabiano; Danilo, Indi, Maicon, Alex Sandro; Casemiro, Herrera e Brahimi; Quaresma, Adrián e Jackson.
Suplentes utilizados: Evandro, Aboubakar e Tello.
FC Porto 0-0 Boavista (seis alterações)
Titulares: Andrés Fernández; Danilo, Maicon, Marcano, José Ángel; Rúben Neves, Herrera e Evandro; Brahimi, Tello e Jackson.
Suplentes utilizados: Casemiro, Quaresma e Adrián.
Marco Silva (Sporting)
Académica 1-1 Sporting (primeiro jogo)
Titulares: Rui Patrício; Cédric Soares, Maurício, Naby Sarr, Jefferson; William Carvalho, André Martins, Adrien; Heldon, Carrillo e Montero.
Suplentes utilizados: Paulo Oliveira, Rosell e Capel.
Sporting 1-0 Arouca (três alterações)
Titulares: Rui Patrício; Esgaio, Maurício, Naby Sarr, Jefferson; Rosell, André Martins, Adrien; Nani, Carrillo e Montero.
Suplentes utilizados: Tanaka, Capel e Carlos Mané.
Benfica 1-1 Sporting (duas alterações)
Titulares: Rui Patrício; Esgaio, Maurício, Naby Sarr, Jefferson; William Carvalho, André Martins, Adrien; Nani, Carrillo e Slimani.
Suplentes utilizados: Rosell, Capel e Carlos Mané.
Sporting 1-1 Belenenses (nenhuma alteração)
Titulares: Rui Patrício; Esgaio, Maurício, Naby Sarr, Jefferson; William Carvalho, André Martins, Adrien; Nani, Carrillo e Slimani.
Suplentes utilizados: Montero, Capel e Carlos Mané.
Maribor 1-1 Sporting (uma alteração)
Titulares: Rui Patrício; Cédric Soares, Maurício, Naby Sarr, Jefferson; William Carvalho, André Martins, Adrien; Nani, Carrillo e Slimani.
Suplentes utilizados: João Mário, Montero e Carlos Mané.
Gil Vicente 0-4 Sporting (três alterações)
Titulares: Rui Patrício; Cédric Soares, Maurício, Naby Sarr, Jonathan Silva; William Carvalho, João Mário e Adrien; Nani, Capel e Slimani.
Suplentes utilizados: Rosell, Montero e Carrillo.
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