A “perfeição” e o “génio” de João Pinto estiveram na origem, há 25 anos, da histórica vitória por 6-3 do Benfica sobre o Sporting, em Alvalade, que decidiu o título nacional de futebol de 1993/94.

Em 14 de maio de 1994, numa noite muito chuvosa, em Lisboa, João Manuel Vieira Pinto, então um ‘miúdo’ de 22 anos, fez uma exibição de carreira, conduzindo o ‘onze’ de Toni a uma vitória inesquecível para todos os benfiquistas.

“Céus! 6-3 em Alvalade”, clamou ‘A Bola’, falando de um Benfica “Aterrador! Empolgante! Sublime”, à conta da “perfeição” de João Pinto, que recebeu “a nota máxima que ‘A Bola’ nunca atribuíra” e jamais voltou a conceder no principal campeonato luso.

Numa primeira página gigante, das antigas, a edição de ‘A Bola’ de 15 de maio de 1994 tem ainda na primeira página uma enorme fotografia do ‘8’ benfiquista, a furar entre dois jogadores ‘leoninos’, Luís Figo e o lateral direito Nélson.

No interior do ‘jornal de todos os desportos’, o clássico tem direito a quatro páginas e, na crónica do jogo, que teve “50.000 pessoas nas bancadas e uma receita de 85.000 contos”, pede-se: “Silêncio! ‘Ouçam’ um hino ao futebol”.

“Espetacular! Se era este o jogo do título, se fosse possível antecipar certezas em futebol, o Benfica fez ontem uma soberba demonstração de futebol, reivindicando com toda a legitimidade o estatuto de futuro campeão”, arrancava a crónica.

Na apreciação individual, João Pinto é apelidado de “Príncipe perfeito” e merece a tal nota 10 que, até hoje, o jornal desportivo jamais repetiu na I Liga.

“Se nos permitem, o 12.º jogador do Benfica... foi Toni. Arriscou (muito) e... ganhou todas as apostas, ajudado por um ‘Eusebiozinho’ simplesmente... fantástico”, pode ler-se na página que fala da equipa ‘encarnada’.

Por seu lado, o ‘Record’ também destaca João Pinto, que tem direito a duas fotos na primeira página e a um título que diz tudo sobre a sua exibição: “Um génio chamado João Vieira Pinto”.

“Benfica alcança goleada histórica (6-3) em Alvalade e dá passo de gigante para o título”, pode ler-se ainda na capa, que sublinha ainda os “nove golos num ‘derby’ memorável”.

Ao jogo, são dedicadas 10 páginas, e, claro, também todo o destaque para João Pinto: “Sporting, 3 – Sport Lisboa e Pinto, 6 – Ele, por si só, ganhou o jogo!”, escreve o Record, falando ainda de uma “noite mágica” do avançado benfiquista.

“Com dois golos magistrais, operou a reviravolta no jogo numa altura em que a sua equipa, sem força anímica, estava à beira do colapso. Depois, marcou o terceiro, ‘esteve’ no quarto e no quinto golos e só não assinou por baixo o sexto. Foi de mais!”, lê-se.

O protagonista da noite falou apenas ao semanário do clube, o jornal “Benfica”, publicado em 18 de maio de 1994, e não puxou para si os louros do triunfo: “Fiz uma boa exibição, também tive sorte em alguns lances, mas o mais importante foi a vitória da equipa, que realmente era o que me preocupava mais”.

“Era um jogo muito importante para nós, porque vínhamos de um jogo mau. (...) Este jogo veio dar-nos outra forma de encararmos o futuro e ainda mais vontade de vencer”, disse.

A vitória em Alvalade foi determinante para o título, mas João Pinto foi claro. “Nada está decidido”, numa opinião, também partilhada, ao jornal do clube, pelo treinador Toni: “Mais perto está, mas é tão perto e tão longe. Temos de manter esta atitude, porque não podemos perder este campeonato”.

“O grupo soube ter uma atitude positiva, uma grande coesão, um grande rigor e os jogadores mereceram esta vitória. Eles estão de parabéns”, disse o técnico, sobre o jogo.

A ‘A Bola’ falou Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, dizendo que “venceu quem vai ganhar o campeonato e tem a equipa mais completa”.

Em Alvalade, em 14 de maio de 1994, na 30.ª jornada do ‘nacional’, o Sporting, que vencendo assumia o comando, a quatro rondas do fim, esteve a ganhar por 1-0 e 2-1, com tentos de Cadete (06 minutos) e Figo (35).

Pelo meio, aos 30, João Pinto igualou o jogo com um monumental remate de fora da área, e, depois, aos 38, voltou a restabelecer o empate, após um ‘slalom’ pela defesa ‘leonina’, para, aos 43, fazer de cabeça, após um livre estudado, o 3-2.

Após o intervalo, Carlos Queiroz trocou Paulo Torres por Pacheco e o Benfica aproveitou o flanco direito para marcar mais três golos, os dois primeiros pelo brasileiro Isaías, aos 47 e 56 minutos, e o terceiro pelo central Hélder, aos 74.

Já com tudo mais do que resolvido, aos 81 minutos, o búlgaro Balakov ainda reduziu, de grande penalidade, escrevendo o 3-6 final, o histórico resultado que, 25 anos depois, permanece bem vivo na memória de benfiquistas e sportinguistas.