Jorge Jesus regressou à Luz, seis anos depois, e, ao seu estilo, prometeu um Benfica a jogar o “triplo” e a “arrasar”, mas, cumprida a primeira volta da I Liga de futebol, a equipa está ‘perdida', sem identidade.
Na 10.ª época num ‘grande’, o técnico de 66 anos acabou a primeira volta com 11 pontos de atraso para o líder Sporting, superando o seu pior registo, que datava de 2016/17, época em que, ao comando dos ‘leões’, estava a oito dos ‘encarnados’.
A distância para o primeiro classificado, e ainda os dois clubes que seguem pelo meio, sobretudo o campeão FC Porto (cinco à frente), deixam o técnico fora da corrida ao título, que só é uma possibilidade em termos matemáticos.
Em termos absolutos, os 34 pontos, em 17 jogos, tantos quantos os somados pelo Paços de Ferreira, são a sua pior marca nos ‘grandes’, igualando 2016/17, época em que também somou 10 vitórias, quatro empates e três derrotas.
Apresentado com ‘pompa e circunstância’, Jesus não foi de modas e prometeu formar uma “grande equipa”, mas a realidade foi dura, já que a primeira grande deceção chegou ao primeiro jogo.
A ‘Champions’ era um grande objetivo, mas o Benfica nem da terceira pré-eliminatória passou, ao perder, em jogo único, por 2-1 no reduto do PAOK Salónica, então de Abel Ferreira, que, já no Palmeiras, viria a suceder a Jesus na Taça Libertadores.
O adeus custou uma verba a rondar os 50 milhões de euros, ‘obrigando’ o Benfica a vencer o seu esteio defensivo, o central Rúben Dias, que rumou ao Manchester City, a troco de 68 milhões de euros. Em compensação, chegou Otamendi.
Os ‘encarnados’ pagaram 15 milhões de euros pelo argentino, aumentando o total de gastos para quase 100, incluindo os 18 de Pedrinho, assegurado no decorrer da época passada.
Após o contratempo europeu, a equipa começou muito bem o campeonato, com o 5-1 em Famalicão a ser a primeira de cinco vitórias consecutivas, no melhor arranque do Benfica na I Liga em 38 anos, desde 1982/83.
O conjunto da Luz parecia bem lançada, mas o ‘balão rebentou’ rapidamente, com dois desaires seguidos, um ‘inexplicável’ 0-3 no Bessa, a única vitória do Boavista até à 15.ª ronda, e um 2-3 caseiro – chegou a estar 0-3 - com o Sporting de Braga.
O Benfica perdeu o primeiro lugar, que jamais recuperou, e começou a acumular exibições negativas atrás de exibições negativa, com Jesus a desvalorizar, ‘escudando-se’ nos resultados, nas vitórias, ainda que cada vez mais sofridas.
Em vésperas do Natal, os ‘encarnados’ perderam o segundo objetivo da época, a Supertaça Cândido de Oliveira, com um desaire por 2-0 em Aveiro, face ao FC Porto, que não precisou de muito para bater um Benfica incapaz de ser, sequer, incómodo.
Seguiu-se, no último jogo do ano, um ponto ainda mais baixo, a nível exibicional, na receção ao Portimonense (2-1), face ao qual as ‘águias’ fizeram uma segunda parte ‘medonha’, sendo completamente dominadas em plena Luz.
Perante tudo isto, Jesus ‘assobiou para o lado’, lembrando que estava conseguida a quarta vitória seguida no campeonato. Como parecia previsível, a série acabou logo a seguir, com um empate 1-1 face ao Santa Clara, nos Açores.
O Benfica caiu para o terceiro posto, precisamente antes de ir ao Dragão, à 14.ª ronda: esperava-se o pior, mas, algo surpreendentemente, surgiu a melhor versão das ‘águias’, uma equipa com raça e qualidade - com a surpresa tática de Grimaldo como médio esquerdo –, que até podia ter vencido (1-1).
A boa prestação trouxe expectativa, mas, na pior altura, a equipa foi vítima de um surto de covid-19, que ‘levou’ 10 jogadores, incluindo guarda-redes e toda a defesa, e esteve diretamente ligada a dois ‘desaires’ consecutivos.
O conjunto da Luz deixou fugir mais um objetivo, a Taça da Liga, com uma derrota por 2-1 face ao Sporting de Braga, nas ‘meias’, e, depois, empatou 1-1 na receção ao Nacional, dois jogos que, para o senso comum, deveriam ter sido adiados. Mas não foram.
Também infetado pelo novo coronavírus, Jesus falhou o jogo com os insulares e voltou a não estar em Alvalade, onde, já quase ‘recomposto’ – faltou Éverton -, o Benfica perdeu, num jogo de 0-0 decidido nos descontos por um golo feliz de Matheus Nunes.
Os ‘encarnados’ ficaram a nove pontos do Sporting, num cenário ainda piorado – para 11 - a fechar a primeira volta, com um empate a zero na receção ao Vitória de Guimarães, no que foi o quarto jogo seguido sem ganhar.
Para o ‘desastre’ não ser total, o Benfica terá de chegar, no mínimo, ao terceiro lugar, para poder chegar à ‘Champions’, sendo que tem a obrigação de chegar à final da Taça de Portugal – meias-finais a duas mãos com o ‘secundário’ Estoril Praia -, mas não aos ‘oitavos’ da Liga Europa, perante o Arsenal.
Comentários