Rui Patrício, um dos advogados do Benfica, dedicou o seu texto de opinião semanal no jornal 'Sol' à pirataria informática. Sem nunca se referir a Rui Pinto, o advogado dos 'encarnados' critica a "beatificação" que tem sido feita relativamente às ações do 'hacker'.

Esta sexta-feira, a organização internacional de jornalistas Repórteres sem Fronteiras (RsF) relembrou, em comunicado, que Rui Pinto "está na origem de revelações maiores que levaram às autoridades de vários países de lançar investigações penais no meio do futebol".

No mesmo dia, um dos advogados de defesa de Rui Pinto deu uma entrevista à revista 'Der Spiegel', onde desvalorizou as acusações de que o seu cliente é alvo no caso de extorsão à agência Doyen Sports considerando que tudo não passou de "uma brincadeira infantil".

"É absolutamente verdade que ele queria testar até onde a Doyen estaria disposta a ir. Foi mais uma brincadeira infantil do que outra coisa. Ele, no fim, rejeitou o dinheiro por iniciativa própria. Nada aconteceu, ninguém pagou nada a ninguém. Como tal, esta criminalização de Rui Pinto é um exagero. Estamos convencidos de que ele não pode ser condenado pelo código penal português. Isto foi-nos explicado pelo advogado português do Rui, Francisco Teixeira da Mota. O seu oponente [a Doyen] está a tentar encobrir o facto de que ele é um whistleblower importante. Estão a tentar retratá-lo como um pequeno criminoso e descredibilizar tudo o que ele fez", afirmou William Bourdon.

Nesse sentido, Rui Patrício escreve este sábado que "justificar ou desculpar crimes em função de interesses ditos superiores tem muito que se lhe diga".

"Salvo o devido respeito, tenho assistido com um misto de asco e de riso (mas amargo) a uma certa discussão que vai por esse mundo fora sobre a suposta bondade de certos atos criminosos de pirataria informática. Vários crimes graves, afinal, ao que parece, não só não o seriam, como fariam até o autor ou autores arriscarem a beatificação social, porque com eles o que fizeram mais não foi do que denunciar o mal e contribuir para a transparência. E pronto, já está, não é preciso aprofundar, nem discutir mais, nem pensar. Narrativa feita, narrativa difundida, narrativa arrematada. Para quando a santidade? Ora, isto é – salvo o devido respeito, claro – superficial, distorcido e até um pouco estúpido, sendo também, e sobretudo, muito perigoso", começa por escrever Rui Patrício.

"Isto de justificar ou desculpar crimes em função de interesses ditos superiores tem muito que se lhe diga, e vem nos livros, logo aliás nos mais simples sobre a chamada teoria do crime (aqueles que qualquer um deveria ler ou reler, antes de se abalançar a doutrinar a população). Não é assim de qualquer maneira, para qualquer coisa, e com duas pinceladas e já está. Trata-se, em primeiro lugar, de situações excecionais, e extremas. Em segundo, os interesses têm que ser mesmo superiores, em si mesmos, e aos que se colocam em causa com os crimes praticados. Depois, terceiro, tem que haver mesmo necessidade, estrita adequação e ponderada proporcionalidade. Quarto, cumpre encontrar boa-fé na coisa, já agora. E, quinto, sexto, e por aí fora, mais umas coisinhas de nada, mas importantes para se poder dizer que algo que é crime deixa de o ser ou que, sendo-o, não merece censura", acrescenta.

"Mesmo que para aceitar a narrativa tenha que esquecer que, se calhar, os interesses não são assim tão superiores, que a conduta não é necessária, e que vai muito para lá da adequação. E esquecendo, além do mais, que se vende informação, ou se pede dinheiro por ela. Boa-fé, claro, princípios abnegados, mas já agora um dinheirito não caía mal. E espalhar revelações que não se relacionam com nenhuma denúncia relevante também fica bem, e ninguém se importa, são só mais uns pozinhos, e tudo se beatifica com a estúpida (mas vendável a metro e barata) teoria do bom selvagem que salva a humanidade da opacidade e do obscurantismo", refere ainda o advogado do Benfica.