Quando uma equipa não vence apesar das muitas oportunidades de que dispôs, costuma dizer-se: "nem que estivessem ali até de manhã, hoje não era para ganhar". A teoria, que tem tanto de descabida como de sensata, terá sido verbalizada por muitos dos adeptos portistas após o apito final. E a verdade é que não andará muito longe da verdade. Com o jogo a terminar com 72% de posse de bola para os azuis e brancos, 23 cantos contra zero do Rio Ave, com os portistas a criarem mais ataques e rematarem mais, o FC Porto só se pode queixar de si próprio pela falta de eficácia. Aos dragões, numa noite de nervos, não faltou quase nada, mas faltou o mais importante: golos.
Depois do Famalicão-Sporting ter sido suspenso por falta de polícias, a realização do FC Porto-Rio Ave chegou a colocar-se em causa, mas em vão.
No Dragão, este sábado, houve polícias (ainda que em menor número), mas no meio da aflição faltou um bombeiro. Com tamanha chama, o dragão pegou fogo a si mesmo e não teve alguém que o soubesse apagar. Nem Evanilson, nem Galeno, nem Francisco Conceição. Há noites assim, é verdade, mas nesta época, para o FC Porto, já foram noites a mais. Não se sabe o que farão Benfica e Sporting esta jornada, mas há algo que já se percebeu: isto não está fácil, FC Porto, nada fácil.
Depois da vitória diante do Farense por 3-1, Sérgio Conceição repetiu a fórmula utilizada no Algarve: exatamente o mesmo onze, sem tirar nem pôr. E repetiu a estratégia vencedora do 4-2-3-1, modelo base que trouxe os dragões de volta à sua melhor versão. No banco, Otávio Ataíde, o mais recente reforço, acabou por ver adiada a sua estreia com a camisola azul e branca.
Do outro lado, o clube de Vila da Conde foi dos mais intervenientes no mercado de inverno e não abdicou de algumas novas armas logo no primeiro jogo após o fecho da janela.
Com um sistema de três centrais, Luís Freire apostou de início em apenas dois dos dez reforços, ambos para o meio-campo: Tanlongo, emprestado pelo Sporting, e João Teixeira, que está de regresso ao futebol português.
O jogo arrancou com uma entoada poderosíssima do FC Porto, como habitual, e aos 15 minutos o jogo já tinha mais história do que muitos ao fim dos 90'. Em três lances a favor dos azuis e brancos, todos eles foram revertidos contra os azuis e brancos: dois golos anulados por fora-de-jogo e uma grande penalidade assinalada por António Nobre, que recuava na decisão após indicação do VAR Fábio Melo. Pelo meio, um remate perigoso de João Teixeira passou a centímetros do poste da baliza de Diogo Costa.
Nos últimos quinze minutos do primeiro tempo, à boleia de uma enorme exibição de Jhonatan, por esta altura já com um par de valiosas defesas aos remates dos atacantes portistas, o Rio Ave ia resistindo como podia: nem sempre com qualidade, mas com muita determinação e entreajuda.
Na segunda parte, e já depois de um mão cheia de oportunidades nos últimos minutos do primeiro tempo, Luís Freire trocou Fábio Ronaldo e Joca por mais dois reforços de Inverno: Marious Vrousai e Aziz Yakubu. Conceição não mexeu.
Perante a enxurrada de ataques, nenhum deles frutífero, o Rio Ave voltou com a mesma atitude – tentar sempre sair a jogar desde a sua grande área -, o que não raras vezes chegou a resultar em perdas de bola no seu meio-campo.
Apesar da evidente supremacia, o FC Porto não marcava. Na esperança de oferecer sangue novo, Sérgio Conceição chegou a lançar Toni Martínez e Iván Jaime para os lugares de Galeno e Nico González, mas sem frutos. Com o passar do tempo, os nervos aumentavam e a clarividência escasseava.
Sem quaisquer alterações no marcador até ao fim, e já depois da expulsão de Boateng por falta sobre Gonçalo Borges (tinha entrado, entretanto, com Namaso) durante os sete minutos de compensação, o FC Porto não chegou ao golo e está agora em risco de ver os rivais escaparem. O Sporting, que ainda não se sabe quando jogará, pode ficar com sete pontos de vantagem. O Benfica pode consolidar o segundo lugar, se vencer este domingo o Gil Vicente, na Luz. No caso de novo triunfo, as águias ficarão com mais seis pontos que os dragões.
O FC Porto volta a entrar em campo esta quarta-feira, nos Açores, diante do Santa Clara, para os quartos-de-final da Taça de Portugal. Para o campeonato, volta a jogar no dia 12 de fevereiro, segunda-feira, em Arouca.
O momento
Todos os lances revertidos pelo VAR. Para os que ainda questionam o sucesso da intervenção do videoárbitro no futebol, este jogo talvez ajude a dissipar (ou atenuar) as dúvidas. António Nobre foi chamado a intervir três vezes - todas elas com acertadas decisões. E por isso, não há como deixar de perguntar: se não houvesse VAR, quanto ficaria este jogo? Pelo menos 3-0.
Nota +
Francisco Conceição e Jhonatan Luiz. Nos dragões, o extremo foi dos mais inconformados e foram raras as vezes em que esteve fora do jogo. No Rio Ave, destaque muito positivo para Jhonatan, que se agigantou na baliza e conseguiu fechar o encontro sem sofrer qualquer golo, apesar do momento goleador dos dragões com 14 golos marcados nos últimos quatro jogos do campeonato. Haverá culpa na condescendência atacante, certamente, mas há também mérito - e muito - do guarda-redes brasileiro.
Uma nota coletiva para a enorme organização defensiva do Rio Ave, que sobreviveu aos ataques sufocantes do FC Porto durante toda a partida.
Nota -
A falta de eficácia do FC Porto. O papão dos golos voltou a assombrar o dragão. A formação azul e branca voltou a sofrer do complexo de falta de eficácia, que roubou mais dois pontos na luta pelo título. Há noites assim, é certo, mas o dragão só se pode queixar de si mesmo pela incapacidade - apesar da inquestionável dedicação - de colocar a bola no fundo das redes. Um fator quase sempre preponderante para quem quer, como o FC Porto, alcançar o título de campeão nacional. O que parece cada vez mais difícil.
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