Analistas contactados pela agência Lusa consideram que o caso ‘e-toupeira’ não está a ter para já qualquer impacto nas ações ou estrutura da SAD do Benfica, mas admitem a existência de riscos.

“Na nossa opinião, os argumentos desportivos (resultados dos jogos, vitórias em campeonatos, participação na Liga dos Campeões, etc) e os financeiros (patrocínios, receitas, ou a ausência de um problema financeiro como tem o Sporting, por exemplo) têm mais influência no preço do que o E-Toupeira, pelo menos por enquanto”, disse o analista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa.

Contudo, no futuro, adverte, “se o processo judicial resultar em retirada de patrocínios, despromoção de divisão ou retirada de competições, aí sim, os efeitos serão visíveis no preço”.

A propósito, o economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, lembra que “naturalmente, uma acusação criminal a uma entidade é sempre um fator negativo”, ainda mais “quando se fala em penas que podem chegar à suspensão da atividade principal dessa sociedade”.

“Para mais, há muito ruído no sentido de poder haver mais acusações. Dado que a reputação de uma entidade desportiva é essencial para a angariação de receitas, é uma situação potencialmente muito relevante do ponto de vista financeiro”, avisa.

Falar da evolução da cotação já é uma outra questão, indica.

“A liquidez dos títulos é reduzida e, na verdade, o racional de deter títulos de uma SAD é sempre muito discutível e neste caso não é diferente”, refere.

Paulo Rosa lembra que as ações das SAD desportivas têm um comportamento menos racional do que outro tipo de empresas, pelo que não é possível “tirar muitas conclusões da variação de preços que nem sempre têm uma relação direta com a valorização dos ativos”.

“Além disso, o título tem muito pouca liquidez, apesar de cotar em contínuo e não em chamada como as outras ações de SAD, negoceia, em média 10 mil ações. Quaisquer 15 mil ou 20 mil euros de investimento têm enormes repercussões no preço”, refere.

Já nas obrigações, sinalizou Paulo Rosa, vimos um movimento “mais sério”.

“As obrigações que vencem em julho de 2021, apesar de também terem pouca liquidez, estavam a cotar nos 101, acima do par, e agora estão entre os 98 e os 99. As obrigações têm que ser reembolsadas pela SAD aos investidores a 100”, refere.

Filipe Garcia lembrou que as SAD, em Portugal, estão em situação financeira muito debilitada e que alguns analistas falam mesmo em “falência técnica”.

“Numa perspetiva de dividendos a receber, as SAD nunca pagaram dividendo, nem se espera que o façam ou possam fazer. Numa perspetiva de valorização do capital próprio, percebe-se que a trajetória de resultados dos exercícios ao longo do tempo é negativa, já houve necessidade de aumentos de capital para injeção de tesouraria e não é objetivo central das SAD o lucro e a valorização do seu capital”, refere.

“Perante resultados positivos, as SAD têm optado por outros caminhos que não os da valorização do capital e do retorno ao acionista. O endividamento explícito e implícito das SAD é de grande dimensão, conferindo riscos de insolvência importantes. Portanto, é difícil, do ponto de vista meramente económico-financeiro, compreender a compra de ações de uma SAD numa perspetiva de longo prazo”, afirmou.

Deste modo, para o economista, comprar ações de uma SAD poderá ter três dimensões lógicas.

Uma é ser um terreno especulativo em que quanto mais participantes, mais volatilidade e maior possibilidade de retorno. É um tipo de evolução em que se acredita que eventos como vitórias, prémios, transferências e rumores fazem variar as cotações.

A segunda dimensão é a do prémio de controlo. Ou seja, acreditar que pela posição adquirida ou por evolução da legislação (que não permite que o controlo saia dos clubes) que as ações possam permitir uma guerra acionista pelo controlo das SAD. A questão do imobiliário detido pelas SAD é uma aspeto a ter em conta.

A terceira dimensão é a da influência nas decisões das SAD. Este aspeto seria sempre discutível, mas é plausível que uma determinada entidade entre ou tenha entrado no capital de uma SAD tendo em vista benefícios próprios decorrentes da gestão da SAD ou no seguimento de um protocolo anterior.

“Lateralmente, há questões emocionais e de desinformação”, acrescentou.

Na terça-feira, o Ministério Público (MP) acusou dois funcionários judiciais, a SAD do Benfica e o seu assessor jurídico Paulo Gonçalves de vários crimes, incluindo corrupção, favorecimento pessoal, peculato e falsidade informática, no âmbito do caso “e-toupeira”.

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, tem insistido na legalidade do comportamento da Benfica SAD, numa reação à acusação.

O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou também a instauração de um processo de inquérito, com base no comunicado judicial.

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