A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) ambiciona acolher ao longo do próximo ano cerca de 200 jovens para a formação na atividade, no âmbito do projeto Arbitragem no Bairro, que foi hoje apresentado ao público, em Lisboa.

A iniciativa, que já existe desde 2015 e foi hoje relançada, conta com o apoio do programa Desporto para Todos, do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), e da associação CAIS, através do futebol de rua. De acordo com o presidente da APAF, Luciano Gonçalves, o "objetivo passa pela sensibilização" dos jovens para a formação no desporto e na arbitragem.

"Será mais um passo para ajudar a credibilizar a arbitragem. O árbitro é muito mais do que aquele elemento incompreendido no campo", disse o dirigente, destacando os exemplos dos jovens Mauro Espírito Santo, de 22 anos, e Rúben Anjos, de 26, presentes na apresentação e que "já são árbitros federados".

Num setor permanentemente abalado pela polémica e pela tensão, Luciano Gonçalves admitiu que motivar os jovens para não desistir e manterem o interesse em chegar ao profissionalismo é "a parte mais difícil": "Queremos mostrar aos jovens que a arbitragem é muito mais do que isto e que deem a oportunidade de experimentar".

A explicação do projeto coube a Nuno Mendes, diretor para a área do futsal dentro da APAF, que sublinhou a importância da interação com as instituições de solidariedade, junto das quais esperam contactar "cerca de 5.000 jovens" num ano. "Gostaríamos que no final fossem mais do que duas centenas. Se conseguirmos 200 já será um número de sucesso", declarou.

Depois de palestras de sensibilização e de minicursos de formação teórica em arbitragem, os jovens vão passar à "prática em jogos de camadas jovens". Por fim, os melhores vão ser encaminhados para as associações distritais a fim de tirarem o curso oficial de árbitro e passarem a juízes federados.

"Estes jovens são algo que nos emociona muito, porque vemos que o projeto funciona e que funciona a 100%. São jovens com capacidade para singrar na arbitragem e na vida", adiantou Nuno Mendes.

Apontado como referência do projeto, Rúben Anjos confessou que quando jogava futebol costumava reclamar com os árbitros e até chegou a ser expulso. Agora, do outro lado da barricada, garantiu ter mudado a sua perspetiva no futebol.

"O trabalho de árbitro não é fácil. São profissionais e tentam fazer as coisas o melhor possível. A arbitragem não devia ser tão criticada", confessou, acrescentando que a arbitragem foi "uma porta aberta" para a sua vida: "A arbitragem abriu-me a porta para chegar mais longe e espero poder ir o mais alto possível."

A visão de chegar a árbitro profissional na I Liga dentro de poucos anos foi partilhada por Mauro Espírito Santo, que até chegou a representar Portugal na seleção de futebol de rua.

"Tirei o curso, apitei já um jogo nos Distritais e tenho estado a gostar. Espero chegar mais alto e servir como exemplo para quem queira dar continuidade ao projeto", rematou.

O projeto Arbitragem no Bairro decorre na esfera da responsabilidade social da APAF e surge integrada numa campanha de apelo à consciência da sociedade para a formação e transmissão dos valores éticos no desporto, nomeadamente no setor da arbitragem.