Apenas metade dos estádios de futebol dispõem de desfibrilhadores automáticos e só um quarto dos locais onde os jogadores treinam têm estes aparelhos, que podem evitar mortes como a de Miklós Fehér, há dez anos, segundo o cardiologista Nuno Cardim.
O especialista falava aos jornalistas à margem do simpósio sobre “Morte súbita no atleta: um passo em frente na compreensão do tema”, que decorre no Hospital da Luz, no âmbito do Congresso Clínico Internacional Leaping Forward.
Segundo Nuno Cardim, um estudo realizado pela UEFA detetou a falta de desfibrilhadores automáticos em metade dos estádios, situação idêntica à existente em Portugal, onde também só um quarto dos campos onde as equipas treinam dispõe de um desfibrilhador.
O cardiologista no Hospital da Luz lembrou que existe uma recomendação para os estádios disporem destes aparelhos, mas que a sua existência não é obrigatória por lei.
“É preciso muita pressão, de todos, para que esta recomendação se torne lei”, disse Nuno Cardim, frisando que “os desfibrilhadores salvam vidas, pois permitem manter os doentes vivos até chegarem ao hospital”.
Este cardiologista considera que a morte do jogador do Benfica, há dez anos, quando jogava no Estádio do Guimarães, poderia ter sido evitada se no local existisse um desfibrilhador.
A morte deste jogador é recordada sempre que a questão da morte súbita nos atletas é abordada. Hoje, o ex-avançado do Benfica Nuno Gomes, presente no simpósio, confessou que nos dias seguintes à morte de Miklós Fehér todos os jogadores se questionavam sobre os riscos que também eles corriam.
“Todos os jogadores do plantel tinham a preocupação obsessiva sobre o que poderia acontecer, pois ele tinha feito os mesmos exames que nós”, contou.
Nuno Gomes lembra que sempre tentou não pensar no assunto, principalmente enquanto jogava, pois nessa altura a principal preocupação era com o desempenho no jogo.
Sobre os riscos que os jogadores correm, o internacional português disse que “dependem do treino, da equipa técnica e dos treinadores”.
O jogador garantiu que hoje em dia as equipas são controladas, em termos médicos, ideia reiterada pelo treinador Fernando Santos.
Em declarações à Lusa, o atual selecionador da Grécia disse que “a preocupação existe”, mas que os atletas são monitorizados há pelo menos 15 anos.
Fernando Santos também se recorda da morte de Miklós Fehér – jogador que treinou durante dois anos – e do impacto que esta teve em todos: “Quando alguém cai para o chão ao nosso lado, isso é muito forte”.
Para Pedro Granate, ortopedista do Hospital da Luz e médico da seleção portuguesa de râguebi, os jogadores profissionais correm mais riscos porque treinam mais, mas também são mais controlados em termos clínicos.
Por outro lado, os amadores correm menos riscos por treinarem menos, mas não são alvo dos mesmos controlos, disse o clínico, que também participa no simpósio sobre morte súbita.
Domenico Corrado, professor de medicina cardiovascular que estuda a morte súbita em jovens há mais de 25 anos, defendeu hoje a triagem cardiovascular obrigatória para todos os atletas e a presença de desfibrilhadores nos estádios.
O convidado internacional neste simpósio reconheceu que as razões da morte súbita não são totalmente conhecidas, mas que algumas podem ser evitadas se os atletas forem sujeitos a um controlo, a nível da prevenção primária.
Na prevenção secundária, a aposta deve ser na presença de desfibrilhadores automáticos nos estádios.
Nuno Cardim lembrou que, nos últimos 90 anos, a morte súbita atingiu um atleta por ano na Europa.
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