O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) considerou hoje que o sucessivo adiamento da legislação sobre as apostas desportivas em Portugal abre caminho à manipulação e viciação de resultados e priva o Estado de receitas fiscais.

«É lamentável ver que andamos há mais de uma década a discutir esta matéria das apostas desportivas. Não há coragem para tomar uma decisão, sabendo que nunca vai agradar a toda a gente. Uma coisa é certa e é incompreensível aos olhos de todos os portugueses: as apostas desportivas existem e todos os dias há gente em Portugal a fazer apostas sobre as nossas competições desportivas. É uma realidade que neste momento existe um mercado negro», afirmou hoje Mário Figueiredo, à margem de um seminário em Lisboa.

Pelas contas do presidente da LPFP, o volume global das apostas em Portugal ronda os 1.000 milhões de euros anuais, pelo que seria «fácil» aplicar um imposto de selo e atingir uma coleta anual de 100 milhões de euros.

«Não percebo que andemos a discutir 200 ou 300 milhões de euros a tirar aos pensionistas e não vamos taxar uma atividade económica que existe e que andemos a fechar os olhos», disse.

Para Mário Figueiredo, a ausência de regulamentação sobre esta matéria possibilita a existência de viciação de resultados desportivos em Portugal, uma vez que «as apostas desportivas são terreno fértil à manipulação».

«Ao não regulamentar a matéria, ao manter as apostas desportivas ilegais em Portugal, o que estamos a permitir é que possam existir em Portugal sistemas que viciem os resultados, que possa continuar a existir em Portugal viciação de resultados», considerou o presidente da Liga.

A regulamentação das apostas desportivas noutros países obrigou as casas de apostas a fornecer dados à polícia sobre apostas que iam contra a probabilidade do jogo.

«Neste momento, não sabemos se, num jogo em que há probabilidade de 90 por cento de uma equipa ganhar, há pessoas a apostar maciçamente que essa equipa vai perder», o que constitui um indício de viciação, disse Mário Figueiredo.