Sérgio Conceição, 44 anos, e Bruno Lage, 42, vão medir forças pela primeira vez como treinadores principais. Os dois técnicos têm formações diferentes, posturas distintas no relvado e rituais que os distingue um do outro. Sami, antigo jogador do FC Porto, foi treinado por ambos e, na edição imprensa do jornal ABola desta sexta-feira, traça o perfil dos dois técnicos que vão evoluir no sábado, no 'clássico' entre FC Porto e Benfica no Dragão.

Bruno Lage, um produto da 'nova escola' de treinadores

Bruno Lage é da nova escola de treinadores. Os formados nas universidades, que vão completar a sua formação pelo mundo fora, como técnicos adjuntos de treinadores já reputados. Foi assim que começou na longínqua época de 1999/2000 em Almeirim, como adjunto do malogrado Jaime Graça no Fazendense. Desempenhou a mesma função no Comércio e Indústria em 2001/2002, o clube onde também jogou o seu pai, Fernando Lage (durante cinco temporadas). Foi também Preparador físico no Estrelas de Vendas Novas.

Depois de oito anos como técnico nos escalões de formação do Benfica (sub-15, sub-17 e sub-19), trabalhou dois anos no Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos, primeiro nos sub-19, depois na equipa B. Foi depois adjunto de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e Swansea em Inglaterra, antes de voltar ao Benfica para dirigir a equipa B. Viria a subir de posto e tomar as 'rédeas' da equipa principal após a saída de Rui Vitória.

Conceição, um treinador da 'velha escolha'

Conceição é de outra escola, a dos relvados. Antigo internacional português (56 jogos, 12 golos, um deles um hat-trick à Alemanha no Euro2000), disputou 572 jogos e marcou 85 golos pelos clubes onde passou. O antigo extremo/lateral direito representou o Penafiel, Leça, Felgueiras, FC Porto, Parma, Inter Milão, Lazio, Standard Liège, Qadsia SC (Koweit) e PAOK. Entre os títulos conquistados como jogador, destaque para uma Taça das Taças, uma Supertaça Europeia, três Ligas de Portugal, uma Liga de Itália, duas Taças de Itália, entre outros.

Sérgio Conceição, treinador do FC Porto
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto

Como treinador, começou como adjunto no Standard Liège, antes de abraçar a sua primeira aventura no Olhanense. Orientou ainda a Académica, o SC Braga, o Vitória de Guimarães, o Nantes, antes de ingressar no FC Porto na época passada, onde viria a ganhar o seu primeiro título de campeão como treinador.

Rituais de Conceição: Bielsa como inspiração, a devoção e... a roda

Como técnicos, são também diferentes em termos de ideias mas também de rituais. Conceição já foi visto, mais que uma vez, no relvado, sentado em cima de uma geleira, tal como faz o argentino Marcelo Bielsa. Também é um homem de gé. Quando joga no Dragão, passa sempre pela pequena capela que existe no estádio onde está uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Quando o FC Porto joga a Sul de Portugal, passa sempre por Fátima, no regresso a casa, mesmo que seja de madrugada, escreve ABola.

É um homem obcecado pelas regras e pelos detalhes, não gosta de desvios no plano traçado, seja nos estágios, seja nos treinos. Nos estágios, nunca acompanha os jogadores no habitual passeio matinal.

Outro dado que lhe é característico é a roda, algo que 'inventou' após o seu primeiro jogo oficial no FC Porto na época passada, na vitória por 4-0 em casa com o Estoril na 1.ª jornada. Diz ABola que foi algo que espontâneo, nascido da necessidade identificada no momento. De lá para cá, passou a ser uma imagem de marca do FC Porto: no final dos jogos, ainda a quente, os jogadores, staff técnico e médico reúne-se numa roda no relvado onde um ou dois elementos falam do jogo que terminou e projetam o seguinte.

"Pela sua personalidade, pode, por vezes, haver algum tipo de choque com os jogadores, é sempre muito frontal. Em treino, por exemplo, se um jogador não está a fazer exatamente o que quer, intervém logo. Se o jogador não está no espaço que pretende, se está um metro ao lado... com ele tem de ser tudo ao centímetro, se não for assim, chama logo a atenção", recorda Sami, antigo jogador do FC Porto, que foi treinado por Conceição no SC Braga. a

Rituais de Lage: Fato de treino nos jogos, passeio no relvado antes dos jogos

Os rituais de Bruno Lage são outros. Antes dos jogos, o técnico de 42 anos sobe ao relvado, sozinho, e dá um passeio, para sentir o ambiente, o clima. Algo que já fazia desde os tempos da formação do Benfica. Tal como Sérgio Conceição, Bruno Lage também nunca assiste ao aquecimento.

Bruno Lage, treinador do SL Benfica
Bruno Lage, treinador do SL Benfica

Outro ritual é o fato de treino, que usa também nos jogos. No banco, ao contrário da maior parte dos técnicos, não usa fato, tal como acontece com Jurgen Klopp, Marcelo Bielsa ou Maurizio Sarri. Escreve ABola que Bruno Lage entende que um é de fato de treino que deve estar no local de trabalho, sejam nos treinos, ou nos jogos.

"Já nos juniores do Benfica mostrava muita competência, puxava pelos jogadores, com métodos de trabalho exigentes [...] Ajudava-nos muito [...] trabalhava sempre do ponto de vista coletivo, mas também chamava os jogadores e falava individualmente com eles, para que corrigissem posicionamentos e outras coisas. [...] Conseguia com muita facilidade ter proximidade com os jogadores, entrava nas brincadeiras e tal, estava sempre a par do nosso dia-a-dia. Quando um jogador estava a passar uma má fase, sabia sempre, andava sempre informado. E isso ajudava depois na relação de amizade e proximidade. Só para dar um exemplo do tipo de relação que tem com os jogadores, quando ele apresentou o seu livro ['Formação, da Iniciação à Equipa B', em maio de 2017], fomos todos jantar com ele, gerações de 88, 89 e 90. Nunca perde a ligação", conta Sami, ao jornal ABola, ele que foi treinado por Bruno Lage nos juniores do Benfica.

Este sábado, ambos vão colocar as suas ideias em choque, quando Benfica e FC Porto subirem ao relvado do Dragão para o grande 'clássico' do futebol português. Em jogo está a liderança, com os 'dragões' em vantagem por um ponto, após 24 jornadas.

Notícia originalmente publicada a 1 de março